Por Roberto Girola Em Artigos

O dom precioso da amizade

Sou uma pessoa que valoriza muito as minhas amizades, sempre estou presente, faço de tudo para agradá-los. Mas observo que muitos dos meus amigos não retribuem à altura essa amizade. Algumas vezes me sinto esquecida. Será que espero muito deles ou realmente tenho amigos que não se importam? (Soraia Pimentel – Brasília – DF)

A verdadeira amizade é rara: “Quem encontra um amigo encontra um tesouro” diz a sabedoria popular. O mal-entendido surge no uso abusivo que fazemos da palavra amigo. Como ocorre com as pedras preciosas, existem inúmeras imitações baratas.

Ao favorecer a aproximação entre as pessoas, o mundo virtual e em especial as mídias sociais podem induzir ao erro ao transformar colegas, conhecidos, conhecidos dos conhecidos, ou até bajuladores e curiosos em “amigos”. Embora faça bem ao Ego descobrir que temos centenas de “amigos” no Facebook, isto evidentemente não reflete a realidade. É nos momentos difíceis, quando gostaríamos de uma palavra amiga, de alguém disposto a nos ouvir, ou simplesmente de um abraço, que a realidade se abre caminho, mostrando que muitas relações são efêmeras.

Algumas características podem ajudar a identificar a amizade verdadeira. Por ser um fenômeno que envolve a parte mais profunda do nosso Eu (Self), o surgir de uma amizade é espontâneo, não exige esforços e nem “adaptações”. A verdadeira amizade nos permite “existir” na frente do outro “inteiros”, sem ter que ocultar partes de nós. Naturalmente, isto pode exigir algum tempo, nem sempre acontece imediatamente e de forma completa, mas a verdadeira amizade tende a isso.

Por ser um encontro profundo entre o Self de duas pessoas, a amizade tem uma característica, ela sobrevive ao tempo e à distância. Quando encontramos um verdadeiro amigo, depois de anos, a sensação é que não houve separação.

A amizade transcende as cobranças, não exige que o outro supere “testes” de aprovação, pois ela é baseada em um diálogo entre os inconscientes que envolve processos de identificação e de projeção.

Naturalmente como em cada encontro com o outro, o vínculo se estabelece a partir da estrutura psíquica do sujeito, de suas características e de suas falhas. Poder viver uma amizade saudável é um sinal de saúde, mas nem sempre o psiquismo o permite. A forma como o outro é percebido inconscientemente influencia profundamente a forma como nos aproximamos dele e de como o representamos no nosso mundo interno.

Roberto Girola é psicanalista e terapeuta familiar

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Roberto Girola
Roberto Girola

Psicanalista e terapeuta familiar

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