Por Roberto Girola Em Artigos

O hábito de comprar compulsivamente

Tenho o hábito de comprar muitas coisas que acabo nem usando. Mas, comprar me dá uma sensação de alívio, tira um peso, principalmente quando estou mais deprimida. Isso pode ser um problema sério? (Margarida Santos Garcez, São Paulo-SP)

A nossa mente tem um funcionamento pendular. Assim como pode descer nos vales obscuros da depressão, ficando presa nos pântanos da paralisia psíquica, ela pode vertiginosamente subir para os cumes mais altos das cordilheiras do gozo maníaco, onde os problemas se dissolvem e o céu adquire momentaneamente uma cor rosada, dando uma prazerosa sensação de onipotência e de alívio.

Como todo movimento que caracteriza o nosso psiquismo, isso pode não ser caracterizado necessariamente como uma doença. O aspecto patológico é dado pela intensidade com a qual o fenômeno se verifica e pela sua recorrência, bem como pelo prejuízo que isso traz para a vida normal no dia a dia da pessoa. A nossa mente tem de fato a necessidade de se movimentar oscilando entre um extremo e outro, visando conciliar as limitações impostas pela realidade externa e a necessidade que o nosso mundo interno tem de investir os seus sonhos e os seus desejos, criando sempre novas realidades ao investir eroticamente o mundo externo.

Nos casos patológicos de depressão, mas sobretudo de melancolia, a fuga para o outro extremo adquire um caráter compulsivo, pois os atos a ela associados são revestidos de uma intensidade emocional muito forte que traz um alívio imediato, mas também precário, pois o ato se esvazia (no caso mencionado acima o que é comprado não é usado) e deverá ser repetido em breve para voltar a alimentar a psique com uma nova carga de energia libidinal, que faz a pessoa se sentir viva. Evidentemente, isso acaba aprisionando em um círculo vicioso que tende a restringir a vida de quem for afetado, levando à repetição do mesmo ato (atuação maníaca).

A escolha da rota de fuga pode ter diferentes variantes: a bebida, a droga, o sexo, o jogo, viagens ou, como neste caso, as compras. Nos casos mais graves, diferentes rotas de fuga são tentadas ao mesmo tempo.

Vale contudo observar que em determinados casos a depressão não desemboca nesse tipo de reação maníaca e sim em um fechamento narcísico de caráter patológico que impede qualquer investimento do mundo externo, traduzindo-se em uma sensação de impotência e paralisia diante do mundo e dos seus apelos. Em todas essas situações o recurso a um tratamento terapêutico é altamente recomendado.

Roberto Girola é psicanalista e terapeuta familiar

 

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Roberto Girola
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Psicanalista e terapeuta familiar

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