Catarina, a Grande, imperatriz da Rússia, é outra que praticamente é esquecida pelos livros. Por importantes articulações políticas de sua mãe Sofia, outra notável mulher russa, Catarina consegue o seu casamento com Pedro III, que posteriormente se tornaria Czar da Rússia (Imperador). Entretanto, Catarina nunca aceita se submeter ao marido, sempre tramando situações para que ela passasse a ter o poder para si. Pedro III, amante das guerras e da liderança presente nos campos de batalha, por vezes se ausentava por meses de Moscou.
Durante a ausência dele Catarina aumentava o círculo de pessoas fiéis a ela e não ao marido. Enquanto ele gastava a maior parte das economias da Rússia com guerras que não traziam vantagens ao império, Catarina tentava incentivar escolas de arte e universidades, modernizando seu povo. Enfim, quando Pedro se ausenta em uma dessas campanhas militares ele é assassinado pelo amante de Catarina, Gregório Orlov. Embora não seja possível provar, é possível que ela tenha encomendado a morte do próprio marido para assumir o trono.
Com a volta de Orlov esse reivindica o casamento com Catarina (o que tradicionalmente passaria o poder a ele ao ser coroado como Czar), mas ela se nega e assume o trono inteiramente para si. O irmão do Pedro III, Ivan, ainda consegue apoio de uma parcela da sociedade russa que não acreditava que uma mulher pudesse governar sozinha. Mas Catarina consegue comprovar que o irmão não teria condições mentais de governar e o coloca em um asilo. Apesar da crueldade de Catarina para assumir o poder em suas mãos, ela basicamente moderniza a Rússia em uma velocidade nunca antes vista por esse reino, além de assegurar o controle da Rússia sobre a Crimeia (dando acesso ao mar para a Rússia, que somente então poderia abrir seu comércio com o ocidente).
Muitas vezes a renovação do nosso conhecimento sobre a história da África pode também trazer interessantes nomes femininos à tona, é o caso de Nandi, mãe de Shaka, líder dos Zulus.
Nandi, do povo Mtetwa, provavelmente capturada pelos Nguni, mais importante clã dos Zulus, é pega para ser amante de Senzanganakhona, líder dos Nguni. Ao saberem que ele havia engravidado uma mulher da tribo inimiga e não querendo que o filho dele pudesse ter poder, Nandi é expulsa grávida, devolvida novamente ao seu povo Mtetwa. Lá é rejeitada pelo seu povo por saberem que em sua barriga carregava o filho do chefe inimigo.
Ao tentar mentir, dizer que era um verme e não um filho ela usa a expressão Shaka (verme) e quando a criança nasce esse passa a ser seu nome. Apesar do início da história nada propício, Nandi dá a volta por cima, quando os Mtetwa expulsam-na com seu filho, ela consegue sustentá-lo sozinha no rigor das florestas, ele começa a treinar e consegue entrar no exército.
Shaka aproveita-se da situação da morte de seu pai para tentar assumir a liderança dos Zulus e demonstrando grande avanço nas técnicas de guerra acaba sendo reconhecido como líder guerreiro. Ao mesmo tempo que Shaka faz sua fama pelas guerras, ao unificar diversos povos africanos contra a dominação dos holandeses e ingleses na África do século XIX, Nandi é quem de fato governava o povo nos aspectos domésticos, enquanto o filho estava sempre ligado à guerra.
A figura dela é tão importante que apesar de Shaka ter criado um verdadeiro império Zulu, após a morte de Nandi ele demonstra não conhecer praticamente nada da administração do império em si, criando leis absurdas como a proibição de as famílias zulus engravidarem ou suas crianças seriam mortas. Demonstrando a inabilidade de governar sem a mãe ao seu lado Shaka é morto e o império desaba.
Os exemplos não cessam rapidamente, temos Hipátia, importante filósofa grega, esquecida entre os famosos homens da filosofia grega, temos Isabel de Castela, que desafio o marido ao enviar uma expedição que garantiria futuramente o controle de quase toda a América pela Espanha, Sóror Juana Inés de la Cruz, que se destaca com importância semelhante ao do Padre Anchieta no Brasil, Elisabeth I da Inglaterra e a Rainha Vitória entre tantas outras.
Vivíamos em um mundo machista, ou é um machismo atual não percebermos quantas importantes mulheres garantiram o avanço para o mundo que vivemos atualmente?
Leandro Villela de Azevedo é professor de História, graduado pela Universidade de São Paulo (USP)
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