Sempre tenho inveja daquelas que sabem o momento exato de falar ou silenciar. É uma sabedoria que se aprende com a vida ou é um dom?
O silêncio é uma forma de comunicação, no entanto, investidos pelo tagarelar constante de uma enxurrada de sons, imagens, palavras ou avisos sonoros, anunciando mensagens, somos tentados de considerar o silêncio como algo aversivo, falta de comunicação.
O silêncio do analista, quando alguém inicia uma terapia, costuma ser embaraçoso, difícil e até hostil. O analista, no entanto, cala-se para que a dupla, analista e analisando, possa escutar o inconsciente se revelando, na fala ou no silêncio do analisando.
Há um silêncio pleno e um silêncio vazio. O silêncio vazio é aquele que estabelece uma assimetria entre quem fala e quem escuta. Pode resultar em um olhar arrogante, que diminui o outro, ou em um olhar desatento, que não escuta e aniquila o outro. Há também o silêncio indevido, que se cala por covardia, para não pontuar algo que deveria ser pontuado.
À diferença do silêncio angustiado, que precisa ser preenchido por palavras vazias, o silêncio pleno é aquele que reconhece a presença do outro e a acolhe, sem querer dissecá-la, reduzi-la a um som. O silêncio às vezes é um convite à contemplação daquilo que não pode ser dito, ou daquilo que não pode ser esgotado por aquilo que foi dito.
Há ainda o que gosto de definir como “o silêncio do poço”. Quando jogamos uma pedra em um poço profundo, precisamos silenciar por um tempo para ouvir o seu impacto na água, na profundidade obscura do poço. Da mesma forma, quando alguém nos agride com uma fala inadequada, o “silêncio do poço” pode ajudar para que ele possa ouvir a sua “pedra” caindo, até fazer pluft, para que perceba a inadequação de sua fala.
Em todos esses casos a plenitude do silêncio remete à suficiência do ser. O que é não precisa se explicar, para justificar sua presença. O que é pode estar ali, em silêncio, deixando que sua presença diga o que não precisa ou não pode ser dito. Tudo isso certamente é um desafio para o homem contemporâneo que vive na sociedade do espetáculo, onde tudo precisa ser “publicado”.
Roberto Girola é psicanalista e terapeuta familiar
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