Por que alguns movimentos religiosos, inclusive da igreja católica, têm gerado jovens agressivos quando são contrariados? (Josefa Cunha - São Paulo)
É fácil perceber que quem defende com arrogância e agressividade a sua religião, que na maioria dos casos prega o respeito do próximo e a tolerância, não está defendendo a religião e sim a si mesmo de algum fantasma interno que o persegue. Infelizmente a história está permeada de exemplos em que os representantes dessa ou daquela religião se armaram para agredir os que não compartilhavam suas crenças.
Assim como hoje setores radicais do Islamismo defendem a guerra armada contra os infiéis (a Jihad), no passado também as igrejas cristãs se empenharam na mesma cruzada contra os infiéis ou contra os irmãos cristãos de outras denominações. As guerras de religião assolaram a Europa por séculos, espalhando ódio, morte e destruição.
O que leva esse tipo de crente a investir com tanta agressividade contra os que não pensam como ele? Contra o que essas pessoas estão lutando? Qual é o demônio interno que eles tentam exorcizar com esse tipo de ataques?
Os funcionamentos psíquicos detectáveis nesse comportamento são a “projeção” e a identificação projetiva. Trata-se de conteúdos que são reprimidos no inconsciente pelos mecanismos internos de censura por serem considerados perigosos, assustadores e maus, uma espécie de lixo psíquico.
O material recalcado é expelido e colocado no outro. O ódio com o qual o “infiel” é investido representa o ódio que o inconsciente do crente fundamentalista sente por si mesmo e pelos aspectos de seu mundo interno que o aproximam do “infiel”, começando pelas próprias dúvidas que o atormentam e o fazem se sentir culpado.
A ênfase e a agressividade com a qual o fundamentalista defende a sua fé são diretamente proporcionais à sua “falta de fé”. Quem quer impor o seu deus aos outros é paradoxalmente um ateu que se defende contra a falta de Deus que sente em si, contra a ideia de que ele está afastado de Deus, contra o lado negro da sua personalidade que não pode ser acessado. Tudo isso é paradoxalmente comprovado pela total falta de ética com qual o fundamentalista age “defendendo” a sua “religião”.
Roberto Girola é psicanalista e terapeuta familiar
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