Pessoas "grossas" ou autoritárias sofrem menos?

Aristóteles, afirmava que a virtude consiste em manter o equilíbrio. Curiosamente em latim a palavra “virtus” quer dizer também “força”, o que torna a sentença do filósofo grego ainda mais interessante.

Aparentemente as pessoas “grossas” e as autoritárias manifestam força e desenvoltura, mas, se fizéssemos um levantamento sobre o seu índice de popularidade, creio que se sairiam bastante mal. Esse tipo de perfil psicológico não atrai. Pessoas que dão livre vazão à sua agressividade somente se dão bem quando encontram um psiquismo que tende à submissão e que se deixa capturar pela virulência do comportamento alheio.

Evidentemente, se quem é grosso e autoritário encontrar alguém com o mesmo perfil, o barraco está montado e certamente os dois lados terão que enfrentar uma dose de estresse considerável. Sem contar que, mesmo quando o comportamento agressivo aparentemente não é revidado, ele pode ser contrastado sutilmente por reações inconscientes que tendem a sabotar quem é grosso ou autoritário (é o caso da faxineira que quebra inadvertidamente o vaso mais caro da casa da patroa que a trata mal).

Tudo isso não isenta esse tipo de personalidade de enfrentar dificuldades em sua vida diária, embora, aparentemente, os problemas pareçam atingi-los menos, mesmo porque não é fácil para esse tipo de pessoas admitir suas fraquezas.

Por trás de tais perfis de personalidade pode haver um funcionamento psíquico em que o mecanismo do recalque é reduzido, autorizando o psiquismo a se expandir além do necessário, sem se preocupar com as reações do mundo externo. Outra possibilidade é que exista por trás do autoritarismo inflexível um psiquismo marcado por uma intensa necessidade de controle e rigidez. No primeiro caso, os problemas de somatização enfrentados por outros perfis psicológicos mais propensos a reprimir suas reações, tendem a ser menores, pelo menos de imediato. No segundo caso, o mundo interno da pessoa sofre com a mesma rigidez que ele manifesta e impõe no mundo externo.

Roberto Girola é psicanalista e terapeuta familiar