Eu e meu marido somos idosos e vivemos em um ambiente de brigas conjugais, mas não temos condições de nos separar. Não consigo aguentar as provocações dele e acontece o mesmo com ele. O que fazer quando o amor acaba? (Antônia Araújo, São Bernardo do Campo – SP)
É doloroso para o casal perceber que o amor acabou. Mesmo que não haja “provocações” explícitas, é difícil escapar do sentimento de decepção e até de “ódio” que acompanha a percepção de ter-se enganado, de ter investido algo que não deu certo.
Quanto maior foi o investimento nesse “amor”, maior é a dificuldade de admitir que ele acabou de forma tão inesperada. Mesmo assim, alguns casais, superando a decepção e tentando olhar para frente, conseguem se separar sem a necessidade de se agredir mutuamente, simplesmente aceitando o que parece ser inevitável.
O amor conjugal é um sentimento complexo que envolve diferentes níveis de “ligação” com o outro, níveis que tendem a ser visitados com maior ou menor intensidade, nas diferentes fases da vida e do desenvolvimento emocional de cada um.
O amor erótico (Eros) cede lugar ao amor que envolve menos a estrutura desejante e mais os núcleos profundos da psique (self), gerando empatia, cumplicidade, admiração, afinidades. Tudo isso é o que chamei de Philia em outros artigos, inspirando-me no professor Clóvis de Barros. Finalmente chega a fase em que prevalece o acolhimento do outro (Ágape), percebido como pessoa inteira, com seus aspectos bons e falhados.
Contudo, nem sempre o psiquismo de cada um dos parceiros tem condições de acompanhar esse desenvolvimento. Em alguns casos, a psique acaba se fixando na necessidade de reviver aspectos mais instintivos do processo, regredindo para reviver experiências que não foram suficientemente exploradas do ponto de vista psíquico. Isto pode acontecer em qualquer idade, inclusive em idade mais avançada.
Os motivos que conduzem à necessidade de regredir à fase inicial da ligação erótica e do apaixonamento variam de pessoa para pessoa. De forma geral podemos apontar alguns deles: sentimentos depressivos ligados à percepção de que o corpo dá seus primeiros sinais de desgaste, a introdução da ideia de morte no panorama das fantasias conscientes e inconscientes, uma relação que se torna desgastante por condenar os parceiros a um sentimento de impotência diante das expectativas do outro que não “podem” ser atendidas são apenas alguns dos exemplos possíveis.
Roberto Girola é psicanalista e terapeuta familiar
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