Por Roberto Girola Em Artigos

Relação em crise

Como mostrar sinais de que um relacionamento amoroso não vai bem. O silêncio fala por si ou é preciso pôr as cartas na mesa, mesmo que inesperadamente para um dos envolvidos? (Anônimo) 

Um primeiro sinal de que a relação está em crise é justamente quando apenas um dos envolvidos percebe o mal-estar. A cumplicidade é um elemento importante sobre o qual é construída a relação amorosa. O casal vive este aspecto não apenas quando as coisas andam bem, mas também quando algum problema surge. Se houver cumplicidade, ambos percebem que algo não está certo e juntos buscam uma solução, pois ambos se sentem corresponsáveis pela relação.

Nenhuma relação humana vem pronta para o uso. Toda relação saudável é construída no decorrer do tempo. No entanto, como em outras áreas, também na vida amorosa experimenta-se um “encurtamento do tempo”, a sequência temporal namoro, noivado, casamento, deixou de ser convencionalmente estabelecida e as etapas do processo que permite ao casal de se conhecer e avaliar se tem condições de enfrentar a vida a dois são atropeladas. O namoro tende a se confundir com uma união estável, muitas vezes confirmada pela decisão de viver juntos e o casamento segue sem que haja uma verdadeira percepção de que ele inaugura uma nova etapa da vida amorosa. Além disso, o encurtamento dos tempos é acompanhado pela percepção de que, como qualquer “produto”, a relação corre o risco de ser substituída com um novo “produto” aparentemente mais adequado e glamoroso.

Um dos elementos fundamentais para a construção da relação amorosa é a possibilidade do diálogo. Sentir-se acuado na relação amorosa é um paradoxo, pois o que a caracteriza é justamente a confiança e a possibilidade de compartilhamento da realidade.

Se o silêncio se instala como regra, é porque um aspecto importante da relação já está perdido. Para que o diálogo seja possível, contudo, é importante que cada um coloque o seu ponto de vista, como um “ponto para ver as coisas”. De fato, a nossa percepção da “realidade” do outro e da relação em si não é tão “real” como parece à primeira vista. Ela é filtrada pelo nosso mundo interno que distorce nossa percepção da realidade. Expressar os próprios sentimentos supõe, portanto, entender que o que o vivemos é real a partir do nosso mundo interno, embora possa não ser percebido como “real” pelo outro.

Roberto Girola é psicanalista e terapeuta familiar

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Roberto Girola
Roberto Girola

Psicanalista e terapeuta familiar

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