Por Roberto Girola Em Artigos

Sob o jugo da depressão

Um amigo sofre de depressão. Ele costuma ir ao psiquiatra, mas não toma os remédios prescritos. Está afastado do trabalho e não tem ânimo para nada. Será que é mais cômodo para ele se proclamar depressivo, já que não quer tomar os remédios? (João Francisco Cunha – Taubaté, SP) 

O que caracteriza a depressão é um estado de desistência, justamente porque o depressivo se sente aprisionado por correntes internas que o fazem sentir impotente diante da vida como um todo. Isto acarreta uma sensação de inutilidade e, por consequência, de paralisia perante os desafios que a vida apresenta, desde os mais significativos (trabalho, família, vida amorosa etc.) até os mais rotineiros (tomar banho, tomar remédio, cuidar do corpo, comer etc.).

O quadro que o nosso leitor apresenta é típico de quem sofre de depressão. Existem quadros clínicos em que a pessoa nem consegue mais se levantar da cama, ou fica o dia inteiro em estado quase catatônico sentada em um sofá. Para quem não sofreu essa terrível doença é difícil entender o que se passa no mundo interno de um depressivo. Muitas vezes ele é tachado de “preguiçoso”, “folgado” e seu comportamento é julgado como beirando a perversão.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 400 milhões de pessoas no mundo sofrem da doença. As mulheres são as mais afetadas (dados extraídos de um artigo publicado no Valor Econômico). Isto faz com que, na previsão da OMS, a doença tenda a se tornar uma das mais preocupantes para o futuro da humanidade.

A depressão é considerada uma das doenças mais incapacitantes (9,8% do total de vida saudável perdido, segundo pesquisa realizada em 2010), ou seja, que impede a pessoa de fazer qualquer outra atividade. Somente 47% dos depressivos fazem terapia, mas apenas 27% se curam.

Normalmente o depressivo em estado mais grave precisa de um acompanhamento para que possa realizar as tarefas básicas de seu dia a dia, inclusive tomar os remédios prescritos pelo psiquiatra (nesses casos o acompanhamento psiquiátrico é necessário). Da mesma forma é altamente recomendável que a pessoa tenha um atendimento terapêutico adequado, o que exige um profissional experiente e treinado para acompanhar esse tipo de pacientes que costumam ser particularmente difíceis.

No entanto, para o depressivo viver sob o olhar de outra pessoa pode acentuar seu estado de “opressão” interna, o que o torna irritadiço com quem quer cuidar dele, aspirando por ter uma vida independente e até solitária.

Roberto Girola é psicanalista e terapeuta familiar

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Roberto Girola
Roberto Girola

Psicanalista e terapeuta familiar

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