Por Robson Sávio Reis Souza Em Artigos

Um outro olhar sobre a juventude

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, as mortes por causas externas correspondem à grande parcela de óbitos em, praticamente, todos os países do mundo, ocupando, sempre, a segunda ou terceira colocação. Porém a sua distribuição quanto ao tipo de causa é diversa.

No Brasil, o total de mortes por causas externas (que, além de homicídios, inclui também acidentes, suicídios e outras causas não naturais) provocou no país cerca de dois milhões de mortes de 1980 a 2000 – o equivalente à população de Brasília. Em 82,2% dos casos, as vítimas foram homens. Em 2000, as causas externas foram a segunda maior causa de morte no país (14,5% do total de mortes), junto com as neoplasias malignas (14,9%).

Porém, o problema da violência não se limita aos homicídios: milhares de pessoas perdem suas vidas no Brasil por outras causas, como acidentes de trânsito e suicídios. Há, ainda, a violência de gênero, a violência sexual, inclusive contra crianças e adolescentes; o preconceito e a discriminação, que são formas de violência simbólica; a exclusão social e a miséria, que são violências que afetam a vida de milhões de pessoas.

No caso específico dos jovens, maiores vítimas da violência não somente física, mas outras tantas (como o desemprego – devido à escassez de políticas sociais juvenis), outros fatores de vitimização e risco juvenil estão relacionados ao enorme número de armas disponíveis (e sem controle estatal) nas mãos desse segmento e o adensamento do tráfico de drogas (motivando disputas sangrentas entre gangues), principalmente nas periferias das grandes cidades. Estes elementos associados contribuem para o aumento da vitimização dos jovens e respondem por altas taxas de letalidade desta população.

As políticas sociais, e dentre elas as ações de segurança pública, principalmente voltadas para a prevenção à criminalidade juvenil, não deveriam ratificar o preconceito que rotula os jovens como sendo um problema, pois se eles são os principais autores da violência, são também as principais vítimas.

Os jovens das periferias das grandes cidades brasileiras enfrentam muitos desafios que os impedem de exercer sua cidadania; portanto, a função das políticas públicas é auxiliá-los para que eles possam vencer os empecilhos e usufruírem plenamente dos seus direitos de cidadãos.

Sem romantismos, é necessário vencer os obstáculos impostos pelas diferenças de geração, articular os programas e políticas públicas focados para os adolescentes e jovens, com o objetivo de ouvir esses sujeitos; entender suas angústias e transformar suas reivindicações em demandas legítimas. Entender que não há um único modelo e forma de vivência da juventude. Na verdade, existem juventudes que vivem e labutam dentro de contextos sociais dos mais diversos. Dar conta de que as novas configurações do mundo, da sociedade, das famílias supõem novos contratos sociais mais flexíveis e baseados na negociação, na compreensão, no diálogo, na valorização da diversidade e não mais na imposição de normas ditadas pelos adultos.

A reflexão de que é possível construir outro olhar sobre os jovens e as juventudes e o reconhecimento da importância de articular instituições públicas e sociais para dividir as angústias e as responsabilidades pelo crescimento sadio dos jovens, tendo a consciência das funções e limites das instituições, possibilita a construção de políticas e ações de conjunto para garantir maior proteção às crianças, aos adolescentes e aos jovens.

Assim sendo, pensar na política pública de promoção à cidadania, baseada nos pressupostos dos direitos dos jovens implica em restituir direitos à grande parcela da população (notadamente os mais pobres – maiores vítimas da criminalidade violenta) constrangida e amedrontada com o avassalador incremento da violência nos últimos anos. Uma política de promoção da cidadania juvenil não deve ratificar o preconceito que rotula os jovens como sendo um problema.

Robson Sávio Reis Souza é filósofo e cientista social

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Robson Sávio Reis Souza

Filósofo e cientista social

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