Por Deniele Simões Em Jornal Santuário

Extremismo na rede revela despreparo para o debate de ideias

As redes sociais têm funcionado como uma via de comunicação de mão dupla, que fomenta o debate e a troca de ideias através da participação digital.

Foto de: Reprodução

Extremismo Redes Sociais - Reprodução

Troca de farpas e ânimos exaltados tem sido comum
na internet; problema foi agravado no período eleitoral

Aplicativos como Twitter, Facebook e até mesmo os widgets que permitem a postagem de comentários nos posts dos principais jornais on-line do país estão recheados de comentários e troca de ideias entre as próprias pessoas que participam.

O doutor em direito e professor da Faculdade Especializada em Direito (Fadisp), Renato Gugliano Herani, ressalta que as redes sociais criam um ambiente propício e acessível para debater os mais variados temas, principalmente em função do grande número de pessoas que aglutina.

“Essa possibilidade de debater assuntos diversos é muito salutar, pois o indivíduo tem acesso a ideias e informações que, em regra, não teria fora das redes, além disso, com elas podemos atingir pessoas em lugares e número antes impensáveis”, salienta.

As pessoas que interagem nessas redes ou utilizam o espaço para comentários acabam discutindo pontos de vista e interagindo entre si, mas, muitas vezes, partem para as ofensas pessoais quando há divergência de opiniões.

Herani avalia como “positivas” essas discussões, ainda que ocorram de forma acirrada. Afinal, defender ideais com argumentos lógicos e respeito à opinião do outro é extremamente construtivo.

“O que não entendo como positivo é quando as discussões saem do debate de ideias para a troca de ofensas pessoais e exteriorização de preconceitos”, questiona.

O especialista em liderança comportamental, Jô Furlan, acredita que a troca de “farpas” pela internet nada mais é do que o reflexo da realidade. “Se você vai no papo de cafezinho, na empresa, uma pessoa fala positivamente e o restante fala criticando”, opina.

Para Furlan, entre 90% e 95% das pessoas querem fazer parte do problema e adoram criticar. “Os outros 5% querem resolver. São aquelas pessoas imbuídas de grandes verdades, que realmente não fizeram nada na vida e têm todo um espaço para se manifestar”, completa.

Falta de preparo

Na época das eleições, os ânimos dos internautas estiveram altamente acirrados e as discussões nas redes sociais e outros canais de comunicação on-line beiraram o ódio.

O analista de marketing Fábio R. Romão foi vítima de ódio e preconceito no Facebook. “Tudo começou quando fiz um comentário em um post”, recorda. Até então, o autor do post não conhecia a posição política de Fábio.

“No início, trocamos algumas opiniões”, continua. A discussão manteve-se sadia até o momento em que o autor do post percebeu que o posicionamento político de Fábio era oposto ao dele.

De acordo com o publicitário, a discussão evoluiu e transformou-se em ofensa indireta, até o ponto em que Fábio foi taxado de defensor de corruptos.

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Extremismo Redes Sociais_2 - Reprodução

Fábio ainda argumentou que as trocas de opinião transformaram-se em conflito e que seria melhor finalizar o debate, mas se disponibilizou a conversar com ele pessoalmente para esclarecer qualquer tipo de mal-estar. 

 

 

“Ele respondeu dizendo que não tinha o que conversar comigo; na sequência, me excluiu e me bloqueou no Facebook”, conta. Fábio classifica o episódio como uma grande surpresa, sobretudo por considerar o autor do post uma pessoa inteligente, de bom senso e não esperar dele uma atitude como aquela. 

Ao refletir sobre as constantes discussões on-line, o professor Renato Herani avalia que esses comportamentos são a maior prova de que boa parte da população não está acostumada a debater ideias e tampouco ouvir e considerar a opinião do outro.

“O ser humano tem a tendência de, estando em multidão, deixar fluir sentimentos e ideias que, em regra, sozinho não deixaria. Assim, o preconceito e, até mesmo, a prática dos chamados ‘crimes contra a honra’ acontecem com certa frequência nas redes sociais”, justifica.

Para Fábio, atitudes de ódio e extremismo nas redes sociais são lamentáveis e precisam parar. Ele argumenta que o país vive sob um regime democrático em que cada cidadão tem o direito constitucional e legítimo de se posicionar política ou partidariamente.

“Levantar a bandeira da democracia implica, primeiro, em respeitar o direito dos outros. Mas na verdade, o que estamos presenciando é uma séria falta de capacidade argumentativa somada ao egocentrismo e à falta de educação de muitas pessoas que se escondem por trás do ‘anonimato’ das redes sociais para mostrar sua verdadeira face”, opina o publicitário.

Ofensa via redes sociais configura crime

A troca de ofensas e farpas nas redes sociais pode configurar crime contra a honra, categoria de crimes previstas no Código Penal Brasileiro, segundo o professor Renato Herani.

A categoria a que ele se refere inclui crimes como a calúnia, a injúria e a difamação e que são cometidos também ao se externar certas ideias via redes sociais.

O especialista explica a diferença entre os três tipos de crimes. “Calúnia acontece quando a pessoa diz que a outra cometeu um crime que ela não cometeu”, ressalta.

A difamação acontece quando alguém atribuiu a uma pessoa fato que ofende sua reputação. “Como, por exemplo, dizer que a pessoa não paga suas contas, não paga ninguém”, esclarece.

Herani ressalta que a diferença entre difamação e calúnia é que, na primeira, o fato atribuído à outra pessoa não é crime.

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Extremismo Redes Sociais_3 - Reprodução

Já a injúria consiste no popular xingamento, incluindo o ato de chamar alguém de ladrão ou corrupto, inclusive via redes sociais.

Penalidades

– Calúnia: seis meses a dois anos de detenção, além de multa

– Difamação: três meses a um ano de detenção mais multa

– Injúria: um a seis meses de detenção, ou multa

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