A Editora Santuário lançou o livro 'A Música e o Canto na Liturgia da Igreja', um subsídio destinado à formação litúrgica e à capacitação técnico-musical dos cantores e instrumentistas, que atuam nas paróquias e comunidades.
Conversamos com o Missionário Redentorista Pe. Antonio Carlos Vanin Barreiro, mais conhecido como Pe. Vanin, autor do livro, que nos falou um pouco mais sobre a obra.
JS: Liturgia precede à música. Considerando isso, fale-nos sobre o papel da música na Missa, sobre sua importância nesse rito e sobre como ela integra a assembleia na celebração?
Pe. Vanin: Sempre acreditei que a música e o canto são da máxima importância em nossas celebrações litúrgicas. Costumo dizer para aqueles que se dedicam ao canto: “A música é a alma da Liturgia”. Essa afirmação soa um tanto ousada porque, na verdade, a alma da Liturgia é o Espírito Santo, que, em nós e por nós, glorifica o Pai por Jesus Cristo. Contudo, se tudo que brota em nós para o louvor de Deus é ação do Espírito, podemos então dizer que a música e o canto na Liturgia são a manifestação mais íntima do Espírito Santo em nós.
Liturgia é a expressão orante da fé proclamada pela Igreja. Por isso, além dos ritos, gestos e das palavras, também o canto é expressão do que cremos, como dizia Santo Agostinho, um dos grandes incentivadores do canto nos primeiros séculos da Igreja: “Se queres saber o que cremos, vem ouvir o que cantamos”.
Na Liturgia, o canto possibilita a participação pessoal e comunitária dos fiéis, favorecendo a sintonia das pessoas com o mistério celebrado. Ele cria comunhão e gera comunidade para além das diferenças de idade, idioma e cultura, favorecendo a unidade da assembleia celebrante. Cantar em comum cria sintonia com aqueles que estão a nosso lado.
Enquanto cantam as vozes, unem-se os corações, expressando a mesma fé e fortalecendo a fraternidade e o amor. Quem canta sai de seu isolamento interior e se coloca em atitude de escuta e de comunicação, renunciando a seu próprio tom de voz e ao próprio ritmo em favor da unidade do canto: “A experiência universal prova que o canto cria comunidade, liga as pessoas entre si e, mais eficazmente, põe-nas em sintonia com o mistério, com Deus”.
JS: O senhor aborda no livro que os cantos são ou constituem o rito ordinário da Missa. Comente sobre eles e sobre a importância de os ministros de música fazerem a escolha correta dos cantos para cada momento da celebração?
Pe. Vanin: A estrutura ritual da missa, tal como a temos hoje, é fruto de um longo processo de organização. As celebrações das primeiras comunidades cristãs concentravam-se na memória dos gestos de Jesus, na última ceia, e na recordação de seus ensinamentos e suas palavras. Aí está em embrião o que chamamos hoje de “Liturgia eucarística” e “Liturgia da Palavra”. No decorrer dos séculos, ao redor desses dois núcleos, foram sendo acrescentados outros ritos e outras orações até chegarmos à estrutura da missa hoje.
Nas celebrações litúrgicas dos primeiros séculos da Igreja, eram cantados somente os textos rituais, que constituíam o que chamamos hoje de “ordo missae”, isto é, os ritos ordinários da missa. Posteriormente, a partir do século IV, com a liberdade concedida à Igreja pelo Império Romano, quando as celebrações passaram a acontecer nas grandes basílicas, surgiram cantos para acompanhar determinados momentos, como as procissões da entrada, das oferendas e da comunhão. Temos assim a classificação que fazemos de “cantos que são ou constituem o rito” e “cantos que acompanham o rito”.
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Os cantos que são ou constituem o rito são mais importantes que aqueles que acompanham os ritos e deveriam ser mais valorizados e cantados pelos Ministérios de Canto. Os que acompanham os ritos não precisam ser cantados sempre e devem terminar quando termina o rito. Os que constituem o rito não podem ser substituídos por cantos, cuja letra não seja o texto ritual. Em passado recente, diante do vazio de músicas litúrgicas para esses momentos, surgiram cantos que nem sempre se ativeram ao texto ritual, especialmente do “Senhor, tende piedade de nós”, do “Glória” e do “Santo”. Hoje, com a riqueza de cantos rituais para esses momentos, devemos dar preferência a esses. A vantagem é que seu texto não muda e podem ser cantados de cor, facilitando a participação da assembleia.
JS: Em sua obra, o senhor aborda o silêncio na celebração litúrgica. Fale-nos sobre sua importância na Santa Missa em meio a tantos momentos sonoros contidos na celebração.
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Pe. Vanin: Desnecessário é dizer que vivemos em um contexto de muitos barulhos, que agridem nossos tímpanos e invadem até mesmo o recesso de nossas casas. Temos dificuldade de fazer silêncio, colocar-nos à escuta e ouvir o que nos é falado. Contudo, para a escuta de Deus, é fundamental criarmos ambiente e clima de silêncio.
Nosso povo chega para as celebrações depois de ter sido “bombardeado” por um ambiente musical atordoante ao longo do dia. Por isso, é urgente resgatarmos e revalorizarmos o silêncio em nossas celebrações. Não um silêncio vazio, mas um silêncio fecundo, que abre em nosso íntimo o espaço necessário para acolher o mistério. Sem a fecundidade do silêncio, uma celebração será esvaziada de sua essência, que é provocar, na intimidade do coração, o encontro com Deus.
“Música e canto são expressões de arte e, como tal, necessitam de capacitação técnica, estudo, dedicação e assiduidade.” Pe. Vanin
Na Liturgia, a música tem de ser executada com arte, beleza e fé pelos instrumentistas, os cantos devem ser cantados com expressão, sonoridade e emoção. Isso nos obriga a ter um cuidado permanente e necessário com relação à música e ao canto, proporcionando formação litúrgica e investindo financeiramente na capacitação técnico-musical de nossos cantores e instrumentistas, já que eles se colocam a serviço da comunidade e exercem verdadeiro ministério litúrgico.
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