Menos da metade dos brasileiros têm acesso à coleta de esgoto. Quando o assunto é tratamento de esgoto, o desempenho ainda é pior e abrange apenas 39% da população, segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), de 2013.
Esse foi um dos motivos que levaram as Igrejas que integram o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic) a enfocar o saneamento básico na Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) do ano que vem.
De acordo com a secretária-geral do Conic, pastora Romi Bencke, a ideia é dar visibilidade ao tema, sob a perspectiva do cuidado com a criação, aproveitando a oportunidade para tocar em uma problemática concreta.
“A falta e precariedade do saneamento básico nos afetam em todas as perspectivas: saúde, justiça ambiental, econômica”, aponta. Ela ressalta que a intenção é contribuir para que haja uma mobilização favorável aos Planos Municipais de Saneamento Básico, assim como convidar e provocar as pessoas a refletirem sobre o modo como vivem.
Para Romi, o saneamento básico é um tema que exige não só o comprometimento do poder público, mas de toda a sociedade. “Exige mudanças concretas na forma como vivemos: precisamos consumir menos, ser mais racionais na utilização da água, da energia elétrica, na nossa relação com o lixo”, explica.
O Instituto Trata Brasil, que trabalha com a conscientização sobre saneamento básico, foi uma das entidades que sugeriu a adoção do tema na CFE.
Foto de: Trata Brasil
Iniciativa busca aprofundamento ambiental com envolvimento de toda a sociedade
O presidente executivo do Instituto, Édison Carlos, promoveu algumas visitas à sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília (DF), para apresentar o assunto. “Sempre recebi deles uma atenção muito grande e acho que essas visitas e a acolhida que eu tive culminou nessa campanha de 2016, tão importante para o país”, alegra-se.
No final de agosto, um seminário reuniu membros das igrejas cristãs para debater o tema da CFE 2016, Casa Comum, nossa responsabilidade, tendo como lema Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca (Am 5,24).
O aspecto ecumênico da CFE deverá ser bastante enfatizado, por meio da participação de diferentes Igrejas, como uma resposta às múltiplas intolerâncias. “Mostrar que a concorrência entre Igrejas fere a perspectiva de comunhão apresentada no Evangelho”, acrescenta Romi.
A CFE, por meio das Igrejas reunidas e de seus fiéis, pode ser uma grande aliada em favor da melhoria dos índices de saneamento básico no país.
A secretária-geral do Conic salienta que a principal ação é que, enquanto cidadãos, os leigos conscientizem as pessoas que integram os grupos onde estão inseridos sobre os impactos da precariedade dos serviços de saneamento nas comunidades e no meio ambiente.
Outra forma importante é chamar a atenção para a urgência da mudança no estilo de vida, para que as gerações futuras tenham a possibilidade de usufruir da água e da natureza. “Não podemos ser egoístas a ponto de não assumir a preocupação com a continuidade da vida no planeta. Isso é um desafio e uma tarefa que as Igrejas devem assumir”, aponta Romi.
Organismos parceiros
Foto de: CNBB
Pastora Romi Bencke, do Conic, ressalta
que o tema exige mudanças concretas
nas relações de consumo
Por ser ecumênica, este ano a coordenação da CFE ficará a cargo do Conic. O organismo contará com a parceria de muitas organizações, como a Misereor, que trabalhará o tema e o lema na Alemanha.
Além da Misereor, a parceria inclui as cinco Igrejas que integram o Conic: Católica Apostólica Romana, Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Episcopal Anglicana do Brasil, Presbiteriana Unida do Brasil e Sirian Ortodoxa de Antioquia.
O trabalho ainda terá foco na mobilização dos jovens que integram essas Igrejas, por meio da articulação de coletivos de juventudes como a Rede Ecumênica da Juventude, Pastoral da Juventude, Rede Fale e Movimento Jovem de Políticas Pública (MJPOP).
Saneamento garante mais saúde e educação
Investimentos em saneamento básico ajudam a melhorar os índices de saúde e educação. Isso é o que defende o Instituto Trata Brasil, um dos parceiros da CFE 2016.
De acordo com Édison Carlos, o acesso ao saneamento é um direito de todo cidadão, conforme determinação da própria Organização das Nações Unidas (ONU), mas nem todos se dão conta disso.
Foto de: Divulgação / Trata Brasil
Édison Carlos, do Instituto Trata Brasil, adverte que
muitos brasileiros vivem em condições insalubres por
causa da falta de saneamento básico
“Muitos brasileiros vivem em condição insalubre, moram perto de rios poluídos, jogam os esgotos em fossas, sem qualquer cuidado, ou até mesmo nas ruas”, adverte.
Na opinião dele, a falta de interesse do poder público em investir em saneamento deve-se ao fato de que são “obras enterradas”. "Mas quando nós, cidadãos, levamos essa preocupação para os nossos governantes, aí os governantes, eles passam a olhar esses serviços com mais cuidado e a investir nisso", aponta.
O Trata Brasil cataloga dados sobre esgoto, saneamento e consumo de água. Segundo Édison, as estatísticas mostram que um dos fatores que mais atrapalham o Brasil a avançar nas áreas da educação e saúde é a falta de progresso nos números de saneamento básico.
Para Édison, é muito importante conscientizar a população de que o acesso à água de qualidade e ao esgoto coletado é um direito básico. Ele defende que a sociedade, como um todo, envolva-se nessa luta. “Ter as Igrejas fazendo parte do movimento em prol do saneamento básico faz toda a diferença”, conclui.
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