Aprovada no ano de 2004, A Lei de Inclusão Social obriga empresas com mais de 100 funcionários a destinar de 2% a 5% das vagas para pessoas com deficiência. A realidade do mercado de trabalho é um desafio a ser rompido, por algumas dificuldades tanto para os profissionais, quanto para o empregador.
Foto de: Raquel Esteves
"O setor de limpeza e
conservação considera
justo e lícito o estabelecimento
de cotas para contratação de
pessoas com deficiência.
Entretanto, deve-se levar em
consideração as singularidades
de cada segmento, para que as
empresas tenham possibilidade
de atender a lei"
Dentre os maiores obstáculos que as pessoas com deficiência enfrentam estão o preconceito por parte dos colegas de trabalho, a necessária adaptação de ambientes de trabalho, como rampas e alargamento de portas, e a dificuldade de comunicação com pessoas cegas e surdas.
Já para os empregadores o maior desafio se concentra em atender exigências da Lei e encontrar candidatos. Um setor específico tem ainda mais barreiras a vencer, são as empresas que prestam serviços terceirizados na área de limpeza e segurança privada, que têm mais de 100 colaboradores, que são obrigadas a cumprir a Lei, mas que não são proprietárias dos espaços físicos onde prestam serviços, portanto não têm o controle das normas e padronizações exigidas.
Para esclarecer mais sobre o assunto, conversamos com o presidente da Federação Nacional das Empresas Prestadoras de Serviços de Asseio e Conservação (Febrac), Edgar Segato Neto.
Jornal Santuário de Aparecida – Quais os principais desafios na contratação de Pessoas com Deficiência?
Edgar Segato Neto – A área de limpeza tem dificuldades de contratação, porque o setor não é atrativo e muitas pessoas preferem continuar recebendo o auxílio da Previdência. No segmento de asseio e conservação, por exemplo, o salário médio de um trabalhador é por volta de R$ 800 e o benefício da previdência é aproximadamente R$ 900. Qual trabalhador vai preferir sair de casa, tendo de enfrentar diversos obstáculos para chegar ao trabalho e ganhar menos que o benefício que ele recebe do governo? Não é vantajoso.
JS – Já teve dificuldades para obedecer a cotas?
Edgar Segato Neto – O segmento de asseio e conservação sofre constantemente para cumprir com a cota exigida por lei. Inclusive, são desenvolvidas diversas campanhas para atrair esses profissionais ao mercado de trabalho. Em uma dessas campanhas no Estado de Goiás, disponibilizou-se 1.000 vagas. Após o processo seletivo, apenas quatro trabalhadores aceitaram a contratação e um mês depois não tínhamos mais nenhum desses trabalhadores nas empresas, principalmente pelos obstáculos que o candidato tem de superar nas ruas para chegar até local de trabalho.
JS – Empresas que oferecem serviços terceirizados sentem alguma dificuldade específicas para conseguir atender exigências da Lei?
Edgar Segato Neto – O Estatuto da Pessoa com Deficiência, que foi aprovado pelo Senado recentemente, afirma que todas as empresas devem fazer adaptações arquitetônicas para atender aos deficientes. No entanto, como uma empresa que oferece serviços terceirizados vai fazer adaptações de acessibilidade na tomadora de serviços que, em muitos casos, é o próprio governo?
JS – Acredita que a dificuldade nas questões de acessibilidade, como, por exemplo, transporte público, obstáculos em ruas e calçadas etc. pode gerar uma desmotivação de trabalhadores ou uma falta de interesse em concorrer a vagas?
Edgar Segato Neto – O transporte público de má qualidade, as vias públicas sem rampas, em mau estado de conservação e a ausência de semáforos para deficientes visuais são alguns exemplos que fazem com que os candidatos não tenham interesse nas vagas.
JS – Quais áreas mais sentem dificuldades em encontrar profissionais? Explique os porquês.
Edgar Segato Neto – Os segmentos de limpeza e de segurança privada são os que mais sentem dificuldade em contratar profissionais. Como a lei exige que os profissionais atuem na atividade principal da empresa, dependendo do tipo de deficiência da pessoa, ela teria muita dificuldade para realizar a atividade de limpeza. Já no setor de segurança privada, a própria legislação estabelece que o profissional deve estar apto fisicamente para desenvolver as atividades, o que torna controversa a contratação dos profissionais no setor.
JS – Ter o benefício suspenso pelo governo ao entrar no mercado de trabalho é fator que gera uma quantidade menor de candidatos a determinadas vagas?
Edgar Segato Neto – Se determinado trabalhador tivesse a possibilidade de complementar a renda com outro trabalho, sem a perda do benefício, ele procuraria o mercado de trabalho. Seria uma forma de incentivo ao trabalhador que vai buscar novas opções e ao empresário que conseguiria acolher esses profissionais.
JS – Na sua opinião quais soluções atenderiam com responsabilidade e sustentabilidade ambas as partes?
Edgar Segato Neto – A não suspensão do benefício do governo ao trabalhador que ingressa no mercado de trabalho já incentivaria os profissionais a procurarem as empresas. Outra alternativa é referente a alguns segmentos, ou seja, contabilizar a cota a partir do número de trabalhadores da área administrativa, e não do quadro total de funcionários. Além disso, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem cerca de 46 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência. No entanto, não há nenhum estudo revelando quantas pessoas realmente estão aptas a trabalhar.
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