Toda pessoa batizada é chamada a ser discípula missionária de Jesus participando de uma comunidade eclesial. Este é um ideal que, aos poucos, vai se concretizando. Mas, nem todas as pessoas que recebem o sacramento participam de forma efetiva na Igreja. Para esse despertar, a Igreja no Brasil se preocupa e organiza, sempre em outubro, o Mês das Missões. Dessa forma, busca instigar os cristãos católicos a descobrirem como desempenhar o papel de missionários de Cristo.
Foto de: Rodrigo Colaço
Este ano, Campanha Missionária chama atenção para a Amazônia
Em sintonia com a Campanha da Fraternidade (CF), a Campanha Missionária traz este ano o tema Missão é servir e o lema Quem quiser ser o primeiro, seja o servo de todos (Mc 10,44). Nesse período são intensificadas as iniciativas de animação e cooperação em prol das missões em todo o mundo. O objetivo é sensibilizar e despertar vocações missionárias.Todas as famílias e comunidades são convidadas a viver com maior intensidade essa realidade durante esse mês.
O Mês Missionário tem sua origem no Dia Mundial das Missões, celebrado no penúltimo domingo do mês de outubro. A data foi instituída pelo Papa Pio XI, em 1926, como um dia de oração e ofertas em favor da evangelização dos povos. A inspiração vem do mandado de Jesus para anunciar a Boa-Nova entre todas as nações. A Campanha Missionária convida a todos a rezarem e a refletirem sobre a nossa missão no mundo.
A palavra “Missionário” é definida como aquele que se dedica a pregar uma religião, a catequizar e a trabalhar para a conversão de alguém a sua fé. Muito mais que isso, religiosos, religiosas e leigos servem com alegria a Igreja em trabalhos pastorais nas periferias urbanas, em hospitais e escolas em todas as partes do Brasil.
O Brasil também acolhe diversos missionários de outros países. Esses passam por uma preparação para iniciarem os trabalhos no Brasil. Essa iniciação ajuda a conhecer as realidades onde vão estar presentes para que assim possam trabalhar em sintonia com as Diretrizes Gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil propostas pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e o Plano de Pastoral das Igrejas Particulares.
Esse perfil missionários atua nas paróquias e, especialmente em pastorais, como da Criança, Carcerária, da Saúde, Juventude, da Terra, da Educação, da Catequese, da Comunicação e no acompanhamento às várias expressões da Piedade Popular. Alguns se dedicam, por exemplo, à formação de cristãos leigos, religiosos e de seminaristas.
Todos somos missionários
Foto de: Divulgação
O tema deste ano trabalha em
consonância com a Campanha
da Fraternidade 2015
A intenção deste mês de outubro, sobretudo, é promover também uma conscientização para lembrar todos os fiéis cristãos da missão de cada um.Os religiosos, religiosas, sacerdotes, membros de novas comunidades são missionários e assim denominados, mas os leigos também têm o dever de evangelizar.
Ao cumprir o mandado de Jesus, nem todos os cristãos deixam a sua terra para servir nas missões além-fronteiras. Nas comunidades, na igreja local, são apenas alguns os missionários e missionárias que partem. Por isso, toda a comunidade tem o dever de participar ativamente na missão universal no dia a dia.
“O Mês Missionário visa também a despertar essa consciência missionária e a consciência de pertença a uma comunidade eclesial a fim de cada cristão católico possa viver como missionário e proclamar com alegria: sou missionário de Jesus Cristo”, afirma o referencial da Ação Missionária da CNBB e bispo auxiliar de São Luís (MA), dom Esmeraldo Barreto de Farias.
No Brasil, já são milhares de cristãos leigos que estão conscientes de sua vocação e dão testemunho na comunidade eclesial, na família, no trabalho profissional, no lugar onde residem e em outros ambientes da missão recebida.
Igreja missionária na Amazônia
Foto de: Arquivo Pessoal
"O essencial do que vivi é invisível aos
olhos, vai além das fotos e vídeos, e
ficará para sempre em meu coração",
ressalta Rodrigo Mayer Colaço
Em especial, a Campanha Missionária chama atenção para a Amazônia, região com características muito específicas, com necessidade de pessoas e de ajuda econômica para o desenvolvimento do trabalho de evangelização. Muito se pode avançar com as ações missionárias nesse campo. Aos poucos, os trabalhos de catequese nessas regiões caminham. Mas há muito o que ser feito em meio ao descaso e abandono do Estado.
São inúmeros os desafios enfrentados por quem segue em missão para a região. São poucos missionários para uma extensão territorial imensa. Geralmente são necessárias horas e até mesmo dias para locomover-se. Atrelado a isso está o alto custo das viagens que, na maioria das vezes, é feita por meio de barcos.
Os trabalhos missionários na Amazônia focam, por exemplo, no acompanhamento para que os direitos dos nativos sejam respeitados e que eles possam viver dignamente. Entre outras atividades, está também o fortalecimento do trabalho vocacional com a população local e a formação de lideranças.
Esse trabalho de evangelização na Amazônia ganhou maior dinamismo com o encontro realizado em Santarém em maio de 1972. A partir de então foram traçadas as duas linhas principais: encarnação na realidade e evangelização libertadora.
Diante dessa realidade, foram definidas prioridades como formação de agentes pastorais, criação e fortalecimento da Pastoral Indígena, formação e dinamização da Comunidade Cristã de Base, atenção para a abertura de estradas na Amazônia e entre outras frentes pioneiras e suas consequências.
Juventude missionária
A Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio de Janeiro (RJ), convidou os jovens as serem missionários. “Ide, sem medo, para servir”, esse foi o chamado de Papa Francisco à juventude presente em Copacabana. A semente foi semeada em vários corações e deram origem a ações concretas.
“A JMJ é como a chuva forte que faz encher lagos, tanques e rios. Mas, o entusiasmo daquele momento que reuniu milhares e milhares de jovens precisa ser cultivado no dia a dia com iniciativas que precisam ser preparadas, rezadas, acompanhadas e avaliadas”, explica dom Esmeraldo.
A Missão Jovem Amazônia mostrou o interesse e entusiasmo da juventude em partir em missão. Cerca de 2.800 jovens se inscreveram para a primeira edição do projeto, em 2014. Desses, 72 foram selecionados de todas as regiões do Brasil e diversas expressões eclesiais. A missão aconteceu em comunidades ribeirinhas e indígenas da Amazônia, nas dioceses de Borba (AM), Parintins (AM), Coari (AM) e Boa Vista (RR).
Foto de: Arquivo Pessoal
"Sabemos da importância de fazer
por nossa realidade, mas precisamos
ter consciência da realidade do outro
e transformar isso em ação", diz
Marcelo Bleme sobre a experiência
na Amazônia
Dentre os jovens selecionados, estava Rodrigo Mayer Colaço, de Campina do Simão (PR). O jovem teve contato com comunidades indígenas localizadas na divisa com a Guiana Inglesa, Venezuela e no norte de Boa Vista. Além de conhecer e partilhar experiência nessa comunidade, ele desenvolveu encontros temáticos destinados aos jovens, às famílias e às crianças da localidade.
“Durante uma semana fiquei inserido nessa comunidade, na qual o povo indígena demonstrou enorme gratidão que eles têm à Igreja Católica e aos primeiros missionários que pisaram em suas terras. Segundo os nativos, eles são os principais responsáveis pela luta e vitória por suas terras, em 1977”, conta Rodrigo sobre a experiência.
Para ele, essa experiência o despertou para a vivência da vocação missionária. O jovem completa que a vivência demonstrou a ele o quanto é preciso pouco para ser feliz e que Deus realmente se revela nos pequenos.
O jovem Marcelo Bleme, de Belo Horizonte (MG), também teve a oportunidade de participar da ação missionária na Amazônia, na diocese de Borba. Ele se deparou com uma realidade amazonense sofrida pelo abandono e descaso político. Segundo ele, a presença da Igreja ainda é muito pequena. Durante os 16 dias de missão, o jovem visitou famílias, promoveu encontros com todas as faixas etárias, vivenciou a realidade amazonense e pôde partilhar a fé.
Foram muitos os desafios enfrentados por ele. O calor, as longas distâncias percorridas em barcos e a pé, entre outros fatores, por mais que parecessem barreiras, tornaram-se momentos de partilha e convivência. De acordo com o jovem, depois da experiência, ele retornou para casa com um ardor missionário maior e o desejo de sair em missão.
“Voltei tentando espelhar minha vida na deles, partilhando o que tenho e não o que me sobra. Eles são um povo simples, batalhador, acolhedor, humano e solidário. Agora, tento praticar mais a missão evangélica de Cristo, amando o próximo com a mim mesmo” ressalta Marcelo.
Além-fronteiras
Inúmeros missionários deixam as origens para seguirem em missão. Irmã Maria Inês Vieira Ribeiro, da congregação Mensageiras do Amor Divino, sentiu esse desejo de se somar na ajuda aos mais necessitados em outra nação. Em meio à guerra civil que assolou Angola por quase três décadas, a missionária seguiu para o país para auxiliar e evangelizar comunidades carentes da província de Huambo.
Entre o fim da década de 80 e início da década de 90, a região que a religiosa atuava era divida por duas facções. A população local era vítima da guerrilha. Diante dessa realidade, a religiosa trabalhava na pastoral local, formando catequistas adultos nas aldeias e trabalhando em movimentos ligados a Igreja.
Também desempenhava um papel na Cáritas Internacional no país, auxiliando a população mais vulnerável a guerra com alimentos, roupas e medicamentos. Nas capelas ou embaixo das arvores, reunia-se com os moradores, garantindo a eles atendimentos básicos.
Foto de: mensageiras.com.br
Trabalho missionário em Angola, feito pela Congregação Mensageiras do Amor Divino, existe desde 1982
O maior desafio a ela era não ter quase respostas diante do que vivenciava e de não saber como socorrer a uma população tão carente. Maria Inês se recorda que nesse período vivenciou a escassez de sal no país. “Essa população estava carente até de sal”, lembra. Para minimizar o problema, a missionária, com o auxílio da Cáritas Internacional, levava periodicamente o mantimento a 48 aldeias da região.
Uma das coisas mais fortes que a religiosa pode aprender com o povo é que apesar da demora para conseguir as coisas e o esquecimento do poder público, o povo não perdia a alegria e a esperança. “Um povo profundamente esperançoso em Deus, na paz e que dias melhores chegariam. Isso foi uma coisa que aprendi muito com o povo. A alegria do povo africano me tocou muito”, pontua Maria Inês.
A irmã ressalta que essa experiência a transformou como pessoa. Segundo a freira, o tempo que passou na missão em Angola a tornou mais paciente e capaz de escutar. Muito mais que aliviar aos que precisavam, ela pôde ter a experiência de ser transformada diante da realidade que viveu.
“Quando você vê tanto sofrimento e não tendo palavras, você passa a escutar e se torna solidária na dor. Quando você não pode fazer muito, você faz muito escutando, solidarizando, indo junto ao hospital, fazendo um curativo, conversando com uma mãe sofrida que perdeu um filho na guerra” diz.
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