Por Deniele Simões Em Notícias

“É preciso transgredir parâmetros”, aponta educadora

A educação é uma ferramenta imprescindível na transformação da sociedade. Mas, o modo como essa transformação acontece está diretamente ligado à relação ensino-aprendizagem, que tem sido cada vez mais desacreditada.

A média de escolaridade no Brasil, um dos critérios educacionais que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) leva em conta na elaboração do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), é de 7,2 anos. Embora esse índice tenha aumentado, o Brasil detém os piores números da América do Sul.

 

Com a bagagem de quem lecionou dos 15 aos 63 anos e formação nas áreas de pedagogia, psicologia, sociologia e técnicas educacionais, Maria Luiza Silveira Teles conversa com o JS sobre educação e cidadania.

Foto de: Arquivo Pessoal

Maria Luiza - Arquivo Pessoal

"Os cientistas, os escritores, os tecnólogos, artistas
e intelectuais, de um modo geral, continuarão a ser
uma pequena fatia da população, geralmente exportada
para países de primeiro mundo"

A educadora é autora do livro Pedagogia da Transgressão – Um novo olhar sobre a educação, lançado recentemente pela editora Ideias & Letras. Na obra, ela analisa o cenário da educação no país e aponta soluções criativas que podem reverter a situação de caos, como a “pedagogia da transgressão”.

A proposta busca a transgressão dos parâmetros atuais, voltando-se para uma preocupação real em educar e não apenas em transmitir ensinamentos vazios e sem conexão com a vida e o mundo atual.

Maria Luiza tem a convicção de que a educação pode reproduzir uma sociedade ou transformá-la. Mas, se não houver mudanças radicais, infelizmente a educação continuará sendo privilégio de uma pequena “fatia” da população.

Jornal Santuário de Aparecida  Por que a senhora escolheu a educação?

 

Maria Luiza Silveira Teles  A educação tem sido a minha vida. Lecionei dos 15 aos 63 anos e continuo fazendo palestras. Preocupo-me seriamente com a educação porque sei que é a mola propulsora de desenvolvimento pessoal e de um povo.

JS – Em seu mais recente livro, Pedagogia da Transgressão – Um novo olhar sobre a educação, a senhora diz que a nossa escola é uma farsa. Por quê?

Maria Luiza – Porque ela realmente não educa. Ela apenas prepara mal os educandos para os vestibulares. Além disso, é mostrado para o povo um panorama que não é verdadeiro.

JS – Qual o significado da Pedagogia da Transgressão, proposta central da obra?

Maria Luiza  É a de transgredir os parâmetros atuais e voltar-se para uma preocupação real em “educar” e não apenas em transmitir ensinamentos vazios e sem conexão com a vida e o mundo atual.

JS – Apesar do analfabetismo funcional, os índices de escolarização no país têm aumentado progressivamente. Por que mascaram a realidade?

Maria Luiza – Aqui você põe o dedo na “ferida”. O Brasil continua um país de analfabetos, pois a grande maioria dos indivíduos não é capaz de fazer a interpretação de um texto. Será que interessa às classes dominantes um povo esclarecido e crítico?

JS – Em sua opinião, a disparidade entre o ensino público e o privado é o que determina a falta de qualidade na educação, ou as causas são de ordem estrutural?

Maria Luiza  As causas são muitas. Vários fatores estão implicados nesta realidade e eu procuro analisá-los na obra. Essa diferença já estabelece um futuro, onde os privilegiados continuarão com o poder na mão e os pobres sem ferramentas para um futuro melhor.

JS – Por que a escola pública era boa no passado e hoje é ruim?

Maria Luiza  Essa é uma questão muito bem lembrada. Eu mesma, na época do então chamado “ginásio” e segundo grau, tive de prestar concurso para entrar em escola pública, pois essa era disputada. A questão não pode ser analisada superficialmente. Penso, porém, que, no passado, os professores eram respeitados, preocupados em estudar e amavam o que faziam. Hoje, quando o indivíduo não sabe que carreira escolher (são múltiplas as causas…) resolve ser professor.

JS – Hoje o cenário da educação é composto por professores mal remunerados, que possuem dois ou três empregos e nem sempre dominam a didática. Uma política de gerenciamento de recursos humanos seria a solução para o problema ou ainda falta formação?

Maria Luiza  Faltam formação, amor e respeito pela profissão e valorização, é claro, do professor. Como consultora editorial free lancer da Editora Vozes, durante vários anos, tive a oportunidade de ler muitos originais, que eram dissertações de mestrado e não mereciam mais que o lixo. As pessoas sabem, hoje, copiar muito bem, mas não sabem criar nada. Claro que existem notáveis exceções, que põem a ciência e o país para frente.

JS – Analfabetismo funcional, progressão continuada e índices de escolaridade crescendo, apesar de todos esses fatores negativos. Se não houver mudanças radicais, que cenário a senhora vislumbra para a educação nos próximos anos?

Maria Luiza  Um povo de “segunda categoria”, se é que podemos dizer assim (acho que não é “politicamente correto”). Os cientistas, os escritores, os tecnólogos, artistas e intelectuais, de um modo geral, continuarão a ser uma pequena fatia da população, geralmente exportada para países de primeiro mundo.

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