No dia 30 de novembro é comemorado o dia do Teólogo. Para marcar a data, recordamos a entrevista com o filósofo e teólogo Augusto Pasquoto, que bateu um papo com o JS sobre questões ligadas ao criacionismo e à Teoria da Evolução das Espécies.
Foto de: Arquivo Pessoal
Pasquoto é autor de um livro lançado pela Editora Santuário, que defende o equilíbrio entre ciência e religião. Além de falar sobre sua publicação, o filósofo opinou sobre temas como fundamentalismo, dogmas e as metáforas usadas nos livros bíblicos para explicar nossa existência.
Jornal Santuário de Aparecida – A teoria criacionista coloca-se como um contraponto ao evolucionismo. Como essa questão é tratada pela Igreja Católica hoje?
Augusto Pasquoto – É importante, antes de tudo, distinguir dois tipos de criacionismo. Em sentido amplo, todas as pessoas que creem em um Deus que criou o Universo e tudo o que nele existe podem ser consideradas criacionistas. Os católicos e os cristãos, em geral, são criacionistas. Esse tipo de criacionismo não entra em conflito com a teoria evolucionista, pois admite que a vida pode ter evoluído a partir do primeiro ser vivo que surgiu sobre a terra. A Igreja Católica admite a teoria da evolução, mas coloca uma ressalva: Deus interveio diretamente na criação do espírito humano. Admite, inclusive, que o ser humano pode ter tido um animal como ancestral.
JS – Qual deles causa polêmica?
Pasquoto – O criacionismo que causou muita polêmica no século passado, e continua causando até hoje, é aquele conhecido como fundamentalista. Esse termo apareceu primeiro nos Estados Unidos. No início do século 20, alguns presbiterianos fizeram uma lista dos seus dogmas religiosos essenciais, que foram publicados numa série de panfletos intitulados 'The Fundamentals' (Os Fundamentos). Ali surgiu o termo 'fundamentalista' para designar a pessoa que crê nos fundamentos ou nos dogmas essenciais de sua religião.
JS – Os católicos podem ser chamados de fundamentalistas, já que também têm dogmas fundamentais?
Pasquoto – Sim. Mas, o termo tem também outro sentido, que teve origem na grande rivalidade que havia entre os protestantes liberais e os conservadores. Os liberais queriam fazer uma leitura mais crítica e mais livre da Bíblia, ao passo que, para os conservadores, a verdade literal das Escrituras era uma questão de sobrevivência do cristianismo. Por isso, interpretam a Bíblia ao pé da letra e afirmam que a criação do mundo foi realizada por Deus em seis dias de 24 horas e que, segundo cálculos baseados na Bíblia, a terra tem menos de 10 mil anos. Esse é o tipo de fundamentalismo radical, conhecido como Criacionismo da Terra Jovem. Os católicos não admitem isso.
JS– O cristianismo tem sua própria teoria explicativa, narrada na Bíblia. É possível conciliá-la com a teoria da evolução?
Pasquoto – O criacionismo fundamentalista, o da Terra Jovem, sem dúvida é irreconciliável com a teoria da evolução e com as descobertas da ciência. Já o criacionismo como entendido pela Igreja católica não causa nenhum conflito com a teoria.
JS – O livro do Gênesis usa metáforas para explicar a origem do mundo. Como interpretá-las?
Pasquoto – Na Sagrada Escritura existem muitas narrações que são evidentemente históricas; mas existem outras que usam de símbolos ou metáforas, com a intenção de transmitir uma ideia. Exemplo disso são as parábolas que Jesus inventava como meios de transmitir seus ensinamentos. O ensinamento central do livro pode ser resumido em uma frase: Foi Deus que criou o mundo e tudo o que nele existe. Mas o autor bíblico achou bom revestir essa frase com muitos símbolos, imaginando a criação do mundo em sete dias; e descreveu simbolicamente a criação do homem como um boneco de barro moldado por Deus, que lhe transmitiu o espírito com um sopro e, da costela do homem, fez a mulher.
JS – Deus, segundo a filosofia judaico-cristã, intervém diretamente no plano da matéria, como no exemplo da arca de Noé. Como Deus inspira seus filhos?
Pasquoto – Podemos distinguir dois tipos de pessoas que creem em Deus. Existem os deístas, que acham que Deus criou o mundo e colocou nele todas as leis necessárias para o seu perfeito funcionamento e depois o abandonou. A imensa maioria dos que creem em Deus, entretanto, são teístas, aqueles que creem que Deus criou o mundo e dele cuida continuamente com amor. Penso que a afirmação central e mais importante da Bíblia seja aquela que se encontra no Evangelho de São João: “Deus amou tanto o mundo que enviou o seu próprio Filho, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Essa afirmação mostra toda a atenção de Deus para com a humanidade. Deus nos ama e nos inspira principalmente através da Sagrada Escritura e dos ensinamentos dos seus apóstolos.
JS – O senhor é autor de um livro pela Editora Santuário (Razão e Fé: Reflexões para uma Fé Adulta), que destaca o equilíbrio entre ciência e religião. Qual é a proposta dessa publicação?
Pasquoto – Existe a ideia de que ciência e religião não se combinam. É uma ideia errada, mas infelizmente é espalhada por alguns cientistas e pela mídia. A Igreja Católica ensina claramente que não pode nem deve haver contradição entre as verdades da ciência e as verdades da fé. Verdade é sempre verdade. E Deus é o autor de toda verdade, e Ele nunca se contradiz. Fé e ciência podem e devem ser aliadas; e ambas, de mãos-dadas, podem contribuir efetivamente para que o ser humano viva em equilíbrio. Fé e ciência são como dois trilhos paralelos, que nunca devem distanciar-se um do outro. Devemos viver nossa vida apoiando-nos em ambos, não apenas em um deles, para não provocar um descarrilamento em nossa viagem para um futuro melhor. É isso que pretendo transmitir aos leitores do meu livro.
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