Foto de: Alexandre Santos / JS
Não é só de artes que vive o Hallelluya. A solidariedade também faz parte do evento, considerado o mais solidário do estado. Este ano foram recolhidas 2,4 toneladas de alimentos não perecíveis.
Parte desses alimentos é encaminhada para a Defesa Civil do Estado, que distribui para famílias necessitadas, especialmente em cidades que sofrem com a seca. Outra parte é enviada aos projetos de promoção humana da Comunidade Católica Shalom.
Um desses projetos é a Casa São Francisco, um albergue, localizado no centro de Fortaleza, que abriga moradores de rua. O microempresário Edmar Fernandes viveu seis anos na rua, por causa do alcoolismo. Ele conta que se afastou porque a família já não aguentava ter um alcoólico em casa. Depois de vários internamentos em hospitais psiquiátricos, ele foi abordado na rua por pessoas da Comunidade Shalom. “Eu não acreditava mais em ninguém. Perguntaram se queria tomar um banho, mas eu só me preocupava que outros tomassem minha cachaça. O álcool dividiu minha família e me tirou da sociedade. Nem documentos eu tinha mais”, lamenta.
Edmar conta que, apesar da resistência, o acolhimento das pessoas do albergue o desarmou. “Eles me deram sopão, roupa, cama para dormir, mas minha perturbação era para voltar para a rua. Minha família era a da calçada, não mais a de casa. Deram-me um terço e uma Bíblia, mas resisti muito, sem aceitar a oração deles. Uma semana depois, eu já estava segurando o terço. E aí começou a minha vida aqui. Comecei a abrir os olhos para o mundo”, recorda.
Um dos primeiros a chegar à Casa São Francisco, em 2000, Edmar hoje ajuda outros que vivem uma situação semelhante à que ele viveu. Ele conta que o momento mais difícil foi reencontrar a família. “Eu tinha vergonha por tudo o que eu havia aprontado. Mas eles insistiram nas orações e nas conversas, e eu fui. Foi difícil, mas hoje colho os frutos, pois reconstruí minha família, minha identidade e meu trabalho”, conclui emocionado.
O diretor da Casa São Francisco, Valdízio Pereira, explica que levar os internos de volta para suas famílias é um dos principais objetivos do albergue. “Nós fazemos um acompanhamento com eles para ajudá-los a resgatar a própria dignidade humana e para que possam ser reinseridos na família, no mercado de trabalho e, consequentemente, na sociedade”, explica.
Na casa, funcionam duas oficinas profissionais. Uma delas é a fabricação manual de vassouras. A produção é vendida nos mercados da cidade, para ajudar nas despesas da casa. Os albergados também aprendem a produzir bolos. Segundo Valdízio, ao longo do tempo eles adquirem uma noção sobre as duas atividades. “Os que ficam mais tempo já saem em condições de pegar a matéria-prima e produzir. Isso pode ajudá-los lá fora a terem uma fonte de renda”, afirma.
Valdízio explica ainda que, na casa, funcionam grupos de autoajuda, reuniões do Alcoólicos Anônimos (AA), grupos de oração, Seminários de Vida no Espírito Santo, entre outras atividades. “Se não houve o trabalho, o acompanhamento e também o lado espiritual, fica muito difícil para que eles entendam o que significa esse resgate da dignidade humana”, defende.
De acordo com o diretor, cada pessoa fica, em média, seis meses na casa. Contudo, segundo ele, muitos saem antes e outros precisam de mais tempo para se ressocializar. “Com o tempo, eles começam a tirar novamente os documentos e saem em busca de trabalho. Nós temos muitos aqui que têm especialidades profissionais e, muitas vezes, até voltam para a própria empresa onde trabalhavam antes”, explica.
Para se manter, a casa conta com o apoio de benfeitores. O trabalho no albergue é feito por alguns membros da Comunidade Shalom, que se disponibilizam como servos, e também por alguns funcionários.
Valdízio explica que o limite da casa é de até 50 pessoas. Segundo ele, as abordagens são feitas nas atividades que eles chamam de extramuros. “Duas vezes no mês, nós distribuímos sopa, café, água e pão para os irmãos que estão dormindo na rua. Através desse contato é que alguns, que são novatos na rua, passam a conhecer o albergue. Mas isso nós levamos como que uma isca, pois o que levamos de mais importante é a Palavra de Deus. Por isso, realizamos também grupos de oração na rua. Mas muitos também já nos procuram e alguns órgãos, como hospitais e o próprio terminal rodoviário da cidade, também nos indicam”, relata.
A casa foi fundada em 2000, a pedido do Arcebispo de Fortaleza, dom José Antônio Marques. Ao longo de 14 anos de funcionamento, passaram pelo albergue cerca de oito mil internos. Desses, muitos voltaram para suas famílias, para o emprego, alguns chegaram até a terminar a faculdade. “Temos o exemplo de um médico, que foi morador da casa e hoje exerce sua profissão em Salvador (BA). Tem outro que terminou faculdade e hoje ele é professor, lá em Roraima. Além do próprio Edmar, que também foi morador e hoje é um microempresário. Há também irmãos que passaram por aqui e hoje são consagrados da Comunidade Shalom. Enfim, muitos realmente aproveitaram a oportunidade que Deus deu através da casa São Francisco”, conclui.
Sangue novo
O Halleluya também tem, há doze anos, uma parceria com o Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce). O evento faz campanha para conseguir doadores de sangue.
Na edição deste ano, foram coletadas mais de 600 bolsas de sangue. É a maior coleta do Hemoce, em eventos, durante todo o ano. Durante o Halleluya também foram efetivados mais de 300 cadastros para doação de medula óssea.
Quem quiser ser um benfeitor da Casa São Francisco, pode ligar no telefone: (85) 3252-3530.
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