O ano de 2015 é de fundamental importância para a educação católica. Afinal, comemoram-se os 50 anos da declaração Gravissimum educationis e o 25° aniversário da Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae. Os dois documentos tratam, respectivamente, da educação católica e do ensino universitário católico.
Foto de: Deniele Simões / JS
Padre Angel Astorgano: "A maioria das escolas tem
grande porcentagem de alunos não cristãos, mas
que estão muito felizes de estarem nessas escolas"
Em 2011, o então Papa Bento XVI lançou o desafio aos membros da Assembleia Plenária da Congregação para a Educação Católica para que apontassem os desafios do setor, à luz desses dois importantes marcos da educação católica.
Desde então, o caminho para a ressignificação do papel da Igreja na educação vem sendo preparado e, no ano passado, foi criado o Instrumentum laboris Educar hoje e amanhã – Uma paixão que se renova.
O texto contém os pontos de referência essenciais dos dois documentos, as características fundamentais das escolas e das universidades católicas, bem como os principais desafios das instituições católicas de ensino, nos mais diversos âmbitos, para as próximas décadas.
O Instrumentum laboris está sendo analisado e deve ser referendado em um grande encontro mundial de educação católica, que acontecerá no Vaticano, em novembro.
No Brasil, ele foi detalhado durante um congresso promovido pela Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (Anec), em Curitiba (PR), no mês de julho.
De acordo com o secretário-geral da Organização Internacional de Educação Católica (OIEC), padre Angel Astorgano Ruiz, o principal desafio da educação católica no mundo é a diversidade de cultura e pensamentos.
“A educação católica está presente em mais de 100 países e as realidades são muito variadas, nos cinco continentes”, aponta. Enquanto na Europa a presença é muito “assentada” e “tradicional”, o continente americano representa uma oportunidade.
Se na Europa as instituições católicas devem cuidar da identidade da escola para não perder o eixo que vem dando sustentação ao trabalho, nas Américas é preciso “trabalhar fundamentalmente nos aspectos de humanização e caridade”, segundo Astorgano.
O representante da OIEC ressalta que a África é um continente muito especial e, por isso, tem havido esforço no sentido de estar presente nas localidades onde não existe outro tipo de educação.
Foto de: Deniele Simões / JS
Para irmão Paulo Fossati, presidente da Anec, é preciso
"ser Igreja em educação", a exemplo do próprio Cristo,
contribuindo com a humanização e com as grandes
questões que tiram a dignidade humana
Já no Oriente Médio, a aposta acontece no eixo da integração com diferentes culturas e religiões. “Há um traço muito forte de enculturação, por assumir a presença majoritária de muçulmanos, e eu creio que, nesse momento, a escola católica é a única aberta a todos”, justifica.
Astorgano avalia que, ante às diferenças de cada país, há uma realidade muito particular na escola católica como um todo: a apreciação. “A maioria das escolas tem grande porcentagem de alunos não cristãos, mas que estão muito felizes de estarem nessas escolas”.
Na opinião dele, é preciso que a educação católica assuma totalmente essas diferenças, com o objetivo de ajudar a todos – sem exceção – a crescer como homens e mulheres. “Isso não é fácil, mas é um desafio que nós temos em nossas mãos e um dos maiores da educação católica hoje”, conclui Astorgano.
Realidade no Brasil
Para o presidente da Anec, professor doutor irmão Paulo Fossati, o grande desafio da educação católica é reafirmar sua identidade católica, diante do mundo contemporâneo e dos novos areópagos. “Creio que é um momento singular para reeditarmos, para reafirmarmos, principalmente, os nossos princípios, ou seja, as marcas da humanização e da evangelização por meio da nossa educação”, pontua.
A educação católica no Brasil é formada por uma rede de 2,5 milhões de alunos, que são parte de um sistema que busca a difusão dos valores humanos e evangélicos, por meio da formação integral, como estudantes, cidadãos e profissionais.
Para que as escolas católicas reafirmem essa identidade, Fossati ressalta ser preciso “ser Igreja em educação”, a exemplo do próprio Cristo, contribuindo com a humanização, para que os estudantes sejam melhores, e com as grandes questões que incomodam a sociedade e tiram a dignidade humana.
Já a 1ª secretária da Anec, irmã Marli Araújo da Silva, aponta que o diferencial da educação católica tem sido a evangelização por meio da educação. “É isso que a Igreja nos pede, desde os primórdios, e o Papa Francisco tanto tem reforçado: educar com valores, por meio dos valores, para os valores”, salienta.
No tocante à convivência com alunos de diferentes culturas e credos – uma realidade na educação católica em todo o mundo – Marli justifica que a expertise é o acolhimento a todos. “Fazer com que todos se sintam queridos, abraçados e amados por Deus”, justifica.
Ainda de acordo com irmã Marli, a inclusão social, hoje, é um grito que se expande pelo mundo. “Nas nossas escolas, isso é bem forte; não somente em relação à inclusão das pessoas de diferentes credos, ou até aquelas que não têm credo, mas também de pessoas com necessidades especiais e aqueles que se sentem um pouco afastados de tudo e de todos”, finaliza.
Congresso discute desafios educacionais nas culturas contemporâneas
Foto de: Deniele Simões / JS
Segundo irmã Marli, acolhimento a todos é a grande
"expertise" da educação católica, na convivência com
a diversidade
Mais de 1.300 profissionais da área de educação, entre professores, coordenadores e gestores, estiveram reunidos em Curitiba (PR), entre os dias 15 e 18 de julho, para discutir as principais tendências e desafios da educação católica.
O III Congresso Nacional de Educação Católica, promovido pela Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (Anec), na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), foi norteado pelo tema Desafios e Oportunidades para a Educação Católica nas Culturas Contemporâneas.
Além da ampla participação do público, que permitiu momentos de convivência e partilha entre os congressistas, o encontro foi oportunidade de socializar o conhecimento produzido pelas escolas ligadas à Anec.
Durante cinco dias, os congressistas tiveram acesso a uma programação bastante ampla, que incluiu palestras, fóruns, apresentação de oficinas, sessões de comunicações científicas, exposição de produtos e serviços, dentre outras atividades.
A conferência A escola católica, uma instituição educativa com mística evangelizadora, na quarta-feira, dia 15, abriu os trabalhos do Congresso e foi ministrada pelo padre Angel Astorgano Ruiz. Ele ressaltou o compromisso social das escolas católicas, pautado na inclusão social, sem distinção de credo, mas apontando para a essência do Evangelho.
O Congresso teve quatro palestras sobre educação, duas delas sobre ensino básico e as demais sobre ensino superior.
Para a orientadora educacional Vivian Maria Farias de Ferreira, que atua nos colégios Gentil e Santa Rosa, em Belém (PA), o Congresso foi muito rico. “São temas realmente muito desafiadores, que fazem com que a gente fique instigada e busque, cada vez mais, esse conhecimento de como lidar com os nossos alunos, que são os nossos tesouros”, conta a educadora, que participa do evento pela segunda vez consecutiva.
Já a diretora-geral do Colégio Viktor Frankl de Ribeirão Preto (SP), Marina Lemos Silveira Freitas, acredita que o Congresso é um encontro desafiador, do qual os congressistas têm a oportunidade de serem protagonistas.
“A gente não vem só como aluno, mas para contribuir com toda essa inovação, essa mudança, ou essa resposta a que o Papa Francisco tem pedido para haver uma transformação do mundo por meio da educação”, salienta.
Confira a opinião de algumas participantes sobre o congresso:
O professor doutor irmão Juan Ojeta foi o responsável pela conferência de encerramento do Congresso, no dia 18. O acadêmico apresentou as conclusões derivadas da pesquisa sobre a pesquisa Instrumentun Laboris – Educar hoje e amanhã: uma paixão que se renova, elaborada pela Congregação para a Educação Católica, organismo pontifício.
A pesquisa é um dos documentos preparatórios para o Encontro Mundial de Educação Católica, que será realizado no Vaticano, em novembro deste ano.
Na mesma data, a direção da Anec divulgou a Carta de Curitiba. O documento traz a síntese dos Princípios e Valores da Anec, além de reafirmar sua identidade enquanto instituição católica, comprometida com a retomada dos valores da família; com a formação continuada dos educadores e a ideia de uma comunidade educativa que tem a responsabilidade social com o entorno.
Educação básica
O professor doutor Celso dos Santos Vasconcellos ministrou a palestra O desenvolvimento de competências e conhecimentos na Educação.
O conferencista é autor de vários livros nas áreas de educação, projetos políticos pedagógicos, planejamento e processo de avaliação. A linha de raciocínio de Vasconcellos propôs o resgate do sentido da vida na educação.
No dia 17, o educador César Nunes abordou o tema Antevendo o Futuro: tendências da Educação Básica no Brasil. O palestrante é professor titular da Faculdade de Educação da Unicamp, na área de Filosofia da Educação e defendeu que o docente deve dar o exemplo ao aluno. “Como pode um professor que não gosta de ler passar o prazer da leitura? Ninguém dá o que não tem; ninguém tem o que não cultiva”, questionou.
Foto de: Deniele Simões / JS
Professor doutor César Nunes: "Como pode um professor
que não gosta de ler passar o prazer da leitura? Ninguém
dá o que não tem; ninguém tem o que não cultiva
O educador também defendeu o resgate das premissas da filosofia e da pedagogia cristã. “Nós temos de falar mais pelo coração, pois o que educa é o amor; é o exemplo”, concluiu.
Ensino superior
Na primeira palestra sobre educação superior, no dia 16, o pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Design da Unisinos, professor doutor Carlo Franzato, abordou o tema O desenvolvimento de competências e conhecimentos no Ensino Superior.
O docente destacou a trajetória da universidade contemporânea, mostrando o processo de adaptação ante as mudanças sociais, tecnológicas e científicas, que exige uma postura cada vez mais aberta, colaborativa e conectada em rede.
No dia 17, o reitor da Universidade Estácio, professor doutor Ronaldo Mota, ministrou a palestra Antevendo o futuro: tendências do Ensino Superior no Brasil.
Mota, que é membro do Conselho Deliberativo do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB), ressalta que o primeiro desafio da universidade no mundo contemporâneo, dominado pelas chamadas TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação), é não ter preconceito.
O reitor da Estácio também ressaltou que a educação flexível, híbrida, que combina os bons ingredientes da educação presencial e a distância, é uma forte tendência, mas é importante que os professores estejam adaptados às novas plataformas digitais.
Escolas conectadas
Um dos momentos mais produtivos do Congresso foi a assinatura de um convênio entre a rede global Scholas e o Portal Futurum, plataforma digital educativa das instituições católicas brasileiras.
A rede Scholas é o instrumento virtual que o Papa Francisco usa para se comunicar com jovens de todo o mundo. O recurso está presente em 160 países e a parceria com o Portal Futurum vai permitir que a rede idealizada por Papa ganhe uma dimensão acadêmico-pedagógica.
O Portal Futurum existe desde 2011 e foi criado por entidades católicas salesianas, maristas, lassalistas, pela Editora FTD e pela Anec. O objetivo dessa rede é contribuir com soluções de educação para a construção de uma sociedade ética e solidária.
Atualmente, o portal apoia o trabalho pedagógico de 200 escolas e 90 mil alunos, compartilhando recursos educacionais entre os usuários, como questões, provas, correções on-line, imagens, livros didáticos, entre outros.
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