Por Alexandre Santos Em Notícias Atualizada em 25 MAR 2019 - 11H11

Jovem larga tudo para cuidar de avó com Alzheimer e conta no Facebook

Carinho, atenção, amor, cuidado e muito, muito bom humor. Esse foi o espírito com que Fernando Aguzzoli, de apenas 22 anos, acompanhou a doença da avó, durante seis anos. Diante do espelho, dona Nilva enxergava uma mulher com uma idade bem maior do que imaginava ter. No aniversário de 79 anos, surpreendeu-se com o bolo e os parabéns. Ao ser avisada que estava fazendo aniversário, ela disparou: “Quem, eu?”.

Foto de: Arquivo Pessoal

Quem Eu? - Arquivo Pessoal

Fernando trancou a faculdade e largou o trabalho para cuidar da avó, dona Nilva, que sofria
da doença de Alzheimer

 

Diagnosticada com mal de Alzheimer, dona Nilva, foi sofrendo lapsos de memória e comprometimento de funções motoras. O caso foi se agravando até o ponto de não poder realizar sozinha tarefas comuns do dia a dia e de não lembrar mais de ninguém. Nem de si mesmo.

Essa foi a deixa para o jornalista Fernando Aguzzoli, de 22 anos, trancar a faculdade de Filosofia e largar o trabalho na empresa que estava abrindo para se dedicar aos cuidados da avó, junto com a mãe. “Um portador de Alzheimer precisa de cuidados 24h por dia. A aposentadoria da minha avó mal pagava os remédios que a mantinham. Uma clínica ou cuidadora nesse estágio seria inviável”, lembra.

Ao falar sobre a decisão que tomou, Fernando deixa claro que, apesar de difícil, nunca foi um fardo. “Minha avó passou a viver a vida somente depois que se aposentou. Depois do Alzheimer ela sofreu uma linda infantilização. Para mim, isso representou nada mais do que o resgate da infância que lhe fora negada. Junto com essa ‘criança’ que 'adotei' passei momentos muito divertidos”, conta.

Para Fenando, que sempre foi muito ligado a dona Nilva, foi a hora de retribuir o cuidado, assumindo o papel de pai. “Creio que os cuidados e as preocupações que eu tinha com ela eram o mais próximo que se chega da paternidade, pelo menos pra um jovem sem filhos”, afirma. Apesar da grande responsabilidade, Fernando decidiu encarar o desafio com leveza e sensibilidade. “Nunca foi um fardo. No final das contas restaram milhares de aprendizados. O que aprendi com ela levo como valores essenciais pra minha vida”, garante.

Ele conta que, no início, lidar com o Alzheimer foi desesperador, mas depois optou por conviver da melhor forma possível. E a escolha foi o bom humor: Chega uma hora em que você cansa de sofrer e resolve que não quer virar um jovem amargurado. A única saída é gargalhar e seguir em frente”, relata. 

Partilhando experiências

Foi com esse bom humor que Fernando criou a página Vovó Nilva, no Facebook, para compartilhar as experiências de se conviver com um portador de Alzheimer. Com posts impagáveis, a página transforma o drama vivido por milhares de famílias em histórias engraçadas e, ao mesmo tempo, cheias de carinho, sensibilidade e amor. “Senti a necessidade de contar outra versão de uma história. Todo material sobre a doença incentiva os familiares a se livrarem do portador, o que é errado. Queria mostrar que é possível e é bom. Descobri que podia ajudar outras famílias ao mostrar que elas não estavam sozinhas e que havia outra alternativa”, justifica.

A página deu tão certo que hoje já tem mais 56 mil seguidores e continua recebendo novas curtidas diariamente. “É estranho, assumo. Minha avó passou do anonimato para uma coroa conhecida, quem dera ela visse tudo o que conquistou! Estou adorando ver que as pessoas não curtem em vão, elas buscam forças para seus problemas, acho que essa é a grande motivação”, afirma.

Para Fernando, a maior recompensa é saber que a página está ajudando muitas famílias a lidar com casos semelhantes. “Mensagens chegam, de minuto a minuto, contando das vidas dessas pessoas e do quanto a página ajudou. Não existe palavra que descreva essa sensação”, conta. 

Quem, eu?

O sucesso da fanpage é tão grande que as históricas da Vovó Nilva viraram livro. Como título, a frase com a qual ela duvidou ter quase 80 anos, em seu último aniversário: Quem, eu? – Uma avó. Um neto, Uma lição de vida. “O livro vai emocionar, divertir e, principalmente, ajudar muita gente que passa pela mesma situação. Essa é nossa bandeira: informar como conviver com portadores e inseri-los em suas vidas. Dessa forma vamos valorizar a estrutura da família. Ninguém está livre dessa doença. Ainda buscamos patrocínio de empresas que queiram fazer parte do projeto. Ele será como um guia de bordo que, infelizmente, eu não tive”, afirma.

Com previsão de lançamento para setembro, o livro foi finalizado em novembro do ano passado, um mês antes de dona Nilva partir. Ela morreu o dia 19 de dezembro, pouco antes de chegar aos 80 anos de idade. “Quando a minha avó suspirou pela última vez, de mãos dadas comigo, uma lágrima correu, e sorri aliviado. O Alzheimer é um banho de incertezas até para medicina. Cada dia é uma novidade, nem sempre é positiva. Quando ela descansou e foi em paz, tive uma certeza pela primeira vez naqueles últimos seis anos: ela estava bem”, recorda.

Histórias da Vovó Nilva

“A vó quer tomar café da manhã com uma samambaia na cabeça?! Os idosos com Alzheimer perdem um pouco – pouco? REALLLLY? – a noção de muitas coisas, inclusive do que é bacana de vestir e o que não é de fato!

O estilo deles continua impresso em alguns itens, mas outras coisas vão mudando.

Minha avó nunca tirou o batom rosa-choque, mas ela virou uma tigresa: quanto mais estampa de bicho, cor e brilho melhor!

Ainda dou uma dica: Se ela quer sentar na mesa vestindo uma planta, escolhe uma blusa verde pra combinar! #TrèsChic#QuemEu?”

Histórias da Vovó Nilva

Bom dia pra todos que tem avós filósofos!

Eu: Credo que estampa cafona!

Vó: Cafona é tua vó!

Eu: Tu é minha avó!

Vó: Quem, eu?

Eu: SIM!

Vó: Então é a outra!

Para conhecer a página Vovó Nilva, acesse: facebook.com/vovonilva

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