O JS conversa com a historiadora e mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), Regina Kátia Rico Santos de Mendonça.
Kátia Rico – como é mais conhecida – aborda um assunto pouco explorado na história do Brasil: a escravidão indígena.
Foto de: Reprodução
Kátia Rico dedicou 15 anos de estudos sobre um assunto
pouco explorado na história do Brasil: a escravidão indígena
A historiadora dedicou 15 anos de estudos ao tema, que virou tese de mestrado e, mais recentemente, foi transformado no livro Escravidão Indígena no Vale do Paraíba: exploração e conquista dos sertões da Capitania de Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém – século XVII.
A pesquisa de Kátia retrata a escravidão na região do Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, no final do século XVI e durante o século XVII.
Na época, várias armações paulistas dirigem-se à região de cativos indígenas como força de trabalho para suas fazendas em São Paulo e para auxiliar nas buscas por minérios na região dos sertões dos Cataguás, hoje sul de Minas Gerais.
Segundo a historiadora, que é membro do Instituto de Estudos Valeparaibanos, a mão de obra usada na construção de várias obras, como igrejas e prédios históricos na região, foi basicamente constituída por indígenas.
A curiosidade da autora em descobrir os relacionamentos entre indígenas do Vale do Paraíba com colonos e missionários motivou a realização da pesquisa.
Kátia Rico espera que o estudo possa contribuir para as análises e futuros trabalhos que complementarão a história do Vale do Paraíba, do Brasil e da América Latina.
Jornal Santuário de Aparecida – A senhora é autora de um livro que retrata a escravidão indígena na região do Vale do Paraíba. O que a motivou a escrever sobre o tema?
Kátia Rico Santos de Mendonça – Esse assunto é pouco divulgado e analisado. Quando fui procurar a respeito do tema, não encontrei nada, praticamente. Resolvi, então, fazer essa pesquisa, que iniciei no curso de graduação em História e fui ampliando.
Busquei esse tema para poder saber mais, porque aqui na região do Vale do Paraíba não havia nada a respeito.
JS – A senhora é pioneira no levantamento desses dados?
Kátia – O professor Paulo Pereira dos Reis escreveu O indígena no Vale do Paraíba, que aborda o indígena no Vale mas não relata a escravidão. Fiz a pesquisa através de inventários, testamentos e comunicação da época, baseada em documentos do período seiscentista. Percebi que havia uma relação entre esses índios e as pessoas que viviam aqui na região. O trabalho foi ficando cada vez mais interessante e assim fui desenvolvendo a pesquisa, que virou tese de mestrado e deu origem ao livro.
JS – Em que período se deu a escravidão indígena e por que esse assunto é tão pouco explorado na história do Brasil, sobretudo em sala de aula?
Kátia – Essa história de que o índio era preguiçoso e não gostava de trabalhar é uma visão europeia. A História do Brasil, na verdade, foi contada por pessoas que vieram de fora. Agora, ela agora está sendo recontada através de historiadores daqui, com base em documentação e recursos arqueológicos. Usei esses elementos na minha pesquisa. Os índios não eram preguiçosos, mas trabalhavam muito. Eles construíram praticamente todos os prédios aqui na região do Vale do Paraíba, principalmente igrejas. A primeira mão de obra usada aqui no Brasil foi indígena, mas não se podia falar que eram escravos porque havia uma lei em Portugal proibindo a escravização dos índios.
JS – Em que atividades eles eram empregados?
Kátia – Pesquisei o período seiscentista e, aqui no Vale do Paraíba, as armações paulistas vinham criar índios no sertão para trabalhar nas fazendas das igrejas, nas fazendas dos colonos paulistas que plantavam trigo em São Paulo e também para trabalhar nas minas de ouro.
Eles vinham para a região denominada “Sertões de Taubaté”, perto do sul de Minas Gerais. Nas lavouras das fazendas usavam-se as mulheres e as crianças, porque sabiam mexer com agricultura e, inclusive, era o trabalho delas na aldeia. E os homens eram usados na mineração, um serviço mais pesado.
Como os europeus não conheciam a região, os índios eram usados para caçar outros índios. Aqui no Brasil havia tribos rivais. Eles faziam amizade com os inimigos dos índios que queriam cativar, davam presentes e iam às expedições com os portugueses.
JS – A escravidão ocorreu nas Américas espanhola e portuguesa. Existem diferenças entre o sistema adotado nas duas regiões?
Kátia – Aqui no Brasil, nessa época em que pesquisei, no ano de 1640, o rei espanhol Felipe II comandava o Brasil, e não o rei português.
Nós tínhamos uma influência espanhola muito forte na região do Vale do Paraíba e o esquema adotado para escravizar os índios aqui foi o mesmo da América espanhola.
O sistema utilizava-se de pequenos blocos de pessoas que eram encaminhadas para fazer o trabalho necessário. Negociava-se, doava-se e até ofereciam-se escravos como dotes de casamento.
JS – Que contribuição a senhora espera oferecer com esse estudo?
Kátia – A minha intenção é divulgar o trabalho, falar sobre o tema, realizar seminários, simpósios, workshops, debates e ir às escolas para divulgar o livro.
JS – Como as pessoas devem proceder para receber uma palestra, por exemplo?
Kátia – Podem entrar em contato comigo por e-mail, nos endereços katiarico@ig.com.br e caterete.produtoracultural@gmail.com, ou pelo telefone (12) 99774-1148.
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