Milhares de fiéis demonstram a fé em São Benedito

Na ladeira que conduz a Matriz Basílica à igreja de São Benedito, cores, danças e movimentos são um prelúdio. Aos poucos, pessoas vindas de todas as partes começam a preencher os arredores. Congadas e moçambiques apresentam seus ritmos, cada qual de forma distinta, mas com um objetivo único: louvar e agradecer ao Santo Mouro. Assim, a tradição que atravessou mais de um século se mantém viva. Em 106 anos de história, a Festa de São Benedito, em Aparecida (SP), arrasta multidões para as celebrações que homenageiam o Santo Cozinheiro.

Foto de: Allan Ribeiro / JS

Festa teve como tema São Benedito: Homem de serviço
e acolhimento fraterno

Iniciada no domingo de Páscoa, as festividades terminaram no dia 13 de abril, segunda-feira. Nesta edição o tema refletido durante os nove dias de celebração foi São Benedito: Homem de serviço e acolhimento fraterno e analisou a forma humildade em que o Santo servia a Deus.

Filho de africanos alforriados, São Benedito nasceu na Sicília, na Itália. Ingressou no convento franciscano de Palermo como irmão leigo. Não possuía nenhum curso, mas foi dotado pelo Espírito Santo de um grande dom de sabedoria e, por isso, chegou a ser nomeado superior do convento e mestre dos noviços. Depois de importantes funções, Benedito retornou com humildade ao serviço de cozinheiro dos franciscanos.

Durante a missa solene, o cardeal arcebispo de Aparecida, dom Raymundo Damasceno Assis, ao relembrar da vida do Santo Mouro, ressaltou que Benedito é, sem dúvida, um modelo de humildade, de obediência, de serviço e acolhimento fraterno a ser seguido. Ele destacou que as comemorações são uma forma de refletirmos a importância do serviço ao outro, a exemplo de São Benedito. “Vamos pedir a Deus que o Espírito Santo nos renove por dentro para que possamos fazer da nossa vida, a exemplo de São Benedito, um serviço em primeiro lugar a Ele. Sabemos que isso se traduz no serviço ao irmão, ao mais pobre, ao mais necessitado”, diz.

Foto de: Allan Ribeiro / JS

Maria Aparecida Alves, Belo Horizonte (MG): "O que
traz a gente até aqui é a fé. É o que nos move. Já
pedi por várias pessoas e elas alcançaram graças. Eu
comecei a ter devoção desde a primeira vez que vim"

Inúmeras eram as histórias de fé e devoção, em meio aos milhares que homenageavam o Santo Cozinheiro. Nem os 850 quilômetros que separam Florianópolis (SC) da terra da Padroeira foram empecilho para Maria de Lourdes Pereira. Todos os anos ela está presente na Festa e atribui a intercessão de São Benedito a melhora de seu filho. “Meu filho estava na UTI após um acidente. Ele ficou mal, mas se recuperou. Eu venho para pagar essa promessa”, conta. 

Pela primeira vez na festa, Denise de Souza Silva, de Várzea Grande (MT) afirma estar maravilhada com as manifestações artístico-culturais dedicadas ao Santo Mouro. Ela contou que já esteve na cidade outras vezes, mas nunca tinha participado do evento. “Hoje, graças ao caminho de Nossa Senhora, chegamos a São Benedito. Tudo é lindo, principalmente a fé das pessoas, pagamento de promessas, a dança de congadas. Eu não conhecia esse lado e agora estou encantada com tudo”, relata.

As congadas, que também são responsáveis por fomentar a tradição em São Benedito, receberam uma boa notícia. O bispo auxiliar de Aparecida, dom Darci Nicioli, anunciou mais um passo para criação da casa do Congadeiro, que acolherá os grupos durante os dias de festa.

Foto de: Deniele Simões / JS

Claudeir Durães, Sete Lagoas (MG): "Sou devoto dele e de
Nossa Senhora Aparecida. Lá em casa tenho uma imagem
dele que a minha irmã me deu. Eu deixo na cozinha e não
falta nada em casa"

Um protocolo de intenções foi assinado em parceria com a Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP), que doará um terreno para a instalação do prédio. Fora do período da festa, o espaço funcionará como um hotel e os recursos serão utilizados para a manutenção da própria casa e outra parte será canalizada para o Lar de Idosos São Vicente de Paulo.

No período da tarde de encerramento dos festejos, às 15h30, uma procissão em louvor a São Benedito levou milhares de pessoas as ruas. Durante a celebração, foram anunciados os novos reis, que serão responsáveis pela elaboração da festa do próximo ano.

Tradição dos doces

Já nas primeiras horas da manhã, uma grande fila se formava em frente ao centro comunitário da Irmandade de São Benedito. Eram devotos que queriam garantir os doces do Santo, que segundo a tradição, ao distribuir alimento aos mais necessitados, ele não deixava que lhes faltasse a sobremesa. Junto às embalagens, uma pequena imagem de São Benedito e um pão, símbolo da fartura.

Foto de: Deniele Simões / JS

Dalmar, Luzes (MG): "Venho
todos os anos. Vai fazer 19 que
participo da festa de São Benedito
com alegria e com satisfação"

E, para atender a todos os fiéis, cerca de 100 voluntários se revezaram para a montagem e distribuição das 10 mil embalagens, com três variedades de doce: batata, abobora e mamão. Cerca de 12 toneladas foram entregues. 

A tradição é passada de geração em geração na família de Júlio Ferraz, responsável pela distribuição dos doces. Ele lembra que foi influenciado pelo pai, que, desempenhava a mesma função que ele hoje ocupa. Hoje ele passa o ofício aos filhos e para a neta, mantendo aceso o hábito popular.

“Pessoas levam esse doce como fosse um alimento da fé. Nós trabalhamos aqui, mas não conhecemos essas pessoas. Não sabemos para onde o doce vai, nem temos noção da transcendência disso”, disse Fortes, reforçando as diversas histórias de fé atribuídas ao doce.