Por Alexandre Santos Em Notícias

Morando com o perigo: crianças e idosos necessitam de cuidados redobrados para evitar acidentes domésticos

Estar em casa, ao lado da família, naturalmente nos remete a uma sensação de proteção. Contudo, nem sempre o aconchego do lar é garantia de segurança. Segundo estudo de 2008 da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Unicef, no mundo inteiro, cerca de 870 crianças e adolescentes morrem por dia vítimas de acidentes em casa ou em locais próximos.

Em 2012, a dona de casa Ligia Perina da Costa passou por um grande susto. O primeiro filho, Lucas, com apenas 15 dias de vida, engasgou com o leite e não conseguia respirar. “Foi horrível. Ele foi ficando roxinho e pensei que poderia não tê-lo mais em meus braços. Além disso, na hora, vem um sentimento de culpa”, relata.

Foto de: Arquivo Pessoal

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Ligia Perina da Costa: "É preciso ter muita atenção e
alguns cuidados, como usar um portãozinho para
bloquear a passagem da criança para a cozinha e buscar
orientação preventiva para saber como agir em situações
de emergência"

A saída foi pedir ajuda aos bombeiros. Pelo telefone, o oficial a orientou como proceder. “Ele pediu para que virasse o bebê de bruços sobre a minha coxa e, com a cabeça dele levemente inclinada, mais baixa que o bumbum, fizesse massagens e desse palmadinhas de leve para desobstruir as vias aéreas. Saiu uma gotinha de leite pelo nariz e ele conseguiu finalmente chorar. Quando o bombeiro ouviu, falou que já havia passado e orientou a levá-lo a um hospital para fazer exames”, relembra.

Casos como o de Lucas são muito comuns. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Pediatria, todos os anos, mais de 5 mil crianças morrem e cerca de 110 mil são hospitalizadas por causa de acidentes domésticos no Brasil.

Não deixar medicamentos, produtos de limpeza ou inflamáveis em locais de fácil acesso. Evitar brinquedos e outros objetos espalhados pela casa, especialmente em corredores e próximo a escadas, são alguns dos cuidados que se deve ter, sobretudo em relação a idosos e crianças.

De acordo com levantamento do Sistema de Vigilância de Violência e Acidentes (Viva) e do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), a principal causa de morte em crianças de até 14 anos são os acidentes domésticos. Segundo dados do Ministério da Saúde, as principais causas são sufocação na cama, asfixia com alimentos, afogamentos e exposição à fumaça e ao fogo. Realizado desde 2006, o estudo Viva revela ainda que os acidentes domésticos são a terceira maior causa de morte na população em geral.

As estatísticas mostram que os acidentes domésticos representam 20% das ocorrências de salvamento registradas pelo sistema Resgate do Governo do Estado de São Paulo e 32% dos atendimento nos principais hospitais do Brasil.

Entre os idosos, as quedas são a terceira maior causa de mortalidade, segundo revela pesquisa do Centro de Estudos sobre o Envelhecimento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Levantamento do Hospital Albert Einstein, de São Paulo (SP), aponta que cerca de 70% dos acidentes com idosos acontecem dentro de casa. Segundo dados do Sistema Único de Saúde (SUS), 46% dos casos acontecem no trajeto do quarto para o banheiro durante a noite.

Prevenir é o melhor remédio

Estudos apontam que, entre 2000 e 2010, houve uma diminuição do número de internações decorrentes de acidentes domésticos. Só na faixa etária de 0 a 10 anos, em 2000 foram registradas 376 mortes. Em 2010, esse número caiu para 253.

Um dos motivos dessa redução pode ser a conscientização das pessoas a respeito da importância de prevenir, porém os índices ainda continuam altos. Estudos apontam que, pelo menos, 90% dos acidentes domésticos poderiam ser evitados com a adoção de medidas preventivas.

Foto de: Proteste.Org

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Segundo a Cartilha de Acidentes Domésticos Infantis, produzida pela ONG Proteste, alguns dos fatores que estão associados ao aumento do risco de acidentes são a falta de informação, falta de infraestrutura adequada em espaços de lazer, creches e escolas, habitações precárias, mães solteiras ou muito jovens, baixo nível de educação e famílias numerosas. Contudo, a cartilha chama a atenção para o fato de que crianças de qualquer classe social estão sujeitas a sofrer acidentes domésticos. “Além de adotar medidas que reduzam ao máximo a exposição dos pequeninos aos riscos domésticos, há que ficar atentos. Um momento de desatenção é suficiente para que um acidente ocorra”, adverte o documento. 

Em relação a adultos e idosos, medidas simples também podem diminuir os riscos. Entre elas, evitar o uso de tapetes, não deixar objetos em locais de passagem, melhorar a iluminação, evitar salto alto e utilizar calçados com solado antiderrapante. Outras providências podem até exigir uma reforma no ambiente.

Queimaduras, intoxicações, quedas e choques elétricos, podem ser prevenidos a partir de simples mudanças de hábito. Na cozinha e área de serviço, por exemplo, podem-se direcionar os cabos das panelas para dentro do fogão, evitando que as crianças os alcancem ou que adultos esbarrem nas panelas. Objetos cortantes e equipamentos elétricos devem ser mantidos fora do alcance das crianças. Crianças são as principais vítimas de envenenamentos por ingestão de remédios, produtos de limpeza, inseticidas e outras substâncias. Por isso, produtos devem estar tampados e guardados em locais fechados.

Segundo o Ministério da Saúde, em caso de acidentes por contaminação ou queimadura, as pessoas não devem se automedicar, mas procurar o pronto-socorro imediatamente. Em caso de envenenamento, levar o produto para análise da equipe médica.

Para a técnica de segurança Vanessa Commodo, muitos fatores de risco de acidentes domésticos passam despercebidos da maioria das pessoas. “Muitas vezes acontecem vazamentos de gás, por defeitos na borracha de vedação ou por defeito da mangueira de gás fora do prazo de validade. Tomadas elétricas sem proteção são um risco para crianças que, por curiosidade, podem inserir objetos, muitas vezes até metálicos. Por isso é importante usar dispositivos que vedam as tomadas e orientar, especialmente as crianças, sobre os riscos presentes no ambiente doméstico”, aconselha.

Outro hábito que, segundo Vanessa, oferece grande risco é subir no vaso sanitário, em bancos ou em cadeiras para trocar lâmpadas. “A peça sanitária é feita de louça. Quando estamos sentados o peso do corpo é dividido pelas bordas do vaso, mas em pé, o peso se concentra no local em que estamos pisando. Caso quebre, a louça pode provocar cortes profundos e de difícil cicatrização”, adverte.

Foto de: Alexandre Santos / JS

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Carlos Eduardo de Oliveira: "É um bom aprendizado, porque
serve para o dia a dia, saber como agir, como socorrer e ajudar"

Aprender a prevenir

O porteiro Carlos Eduardo de Oliveira fez um curso de brigadista pela empresa em que trabalha. Além de técnicas de salvamento e combate a incêndios, ele também aprendeu a lidar com acidentes domésticos. “É um bom aprendizado, porque serve para o dia a dia, saber como agir, como socorrer e ajudar”, afirma.

A técnica de segurança, Vanessa Commodo concorda. Para ela, todas as pessoas deveriam ter, pelo menos, treinamento de primeiros socorros. “Com o conhecimento adequado, a pessoa consegue preservar a própria vida e a de outros, além de evitar danos maiores”, argumenta. Na opinião de Vanessa, treinamentos desse tipo deveriam ser aplicados desde a pré-escola. “Crianças assimilam com muita facilidade e cresceriam aprendendo gradativamente sobre primeiros socorros e a própria segurança em qualquer ambiente”, defende.

Para o oficial do Corpo de Bombeiros e instrutor de cursos para brigadistas Ronaldo Santos, o treinamento amplia a visão preventiva. “Não se trata apenas de ter o conhecimento teórico-prático de socorro e prevenção, mas dá uma visão diferenciada dos riscos que podem existir no dia a dia do cidadão comum”, conclui.

Primeiros socorros

Durante o curso, Ronaldo Santos demonstra a aplicação de técnicas básicas de imobilização, reconhecimento de sinais vitais, contenção de hemorragias, tratamento de fraturas, queimaduras e paradas respiratória e cardíaca.

Segundo ele, numa situação real, a primeira medida deve ser a observação do local para fazer um levantamento de riscos potenciais. “Se não houver esse cuidado, ao tentar ajudar, a pessoa pode tornar-se vítima”, adverte. De acordo com Ronaldo, a observação é necessária também para traçar estratégias de ação.

O bombeiro lembra que muitos acidentes acontecem em casa, na utilização de objetos simples do dia a dia. De acordo com Ronaldo Santos, muitos traumas caseiros são agravados por causa da realização de procedimentos inadequados, como colocar creme dental sobre uma queimadura ou fazer torniquete para estancar sangramentos. “Em queimaduras leves, a única orientação é lavar o local com água fria. Já em caso de hemorragia, deve-se fazer uma leve pressão sobre o ferimento, utilizando um pano limpo. Em casos mais graves, a vítima deve ser levada ao hospital”, ensina.

Foto de: Eduardo Gois / JS

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Vanessa Commodo: "Com o
conhecimento adequado, a pessoa 
consegue preservar a própria vida e 
a de outros, além de evitar danos
maiores"

Os perigos do gás de cozinha 

Ronaldo Santos também orienta seus alunos sobre a utilização dos botijões de gás de cozinha. O bombeiro ressaltou a importância de trocar válvula e mangueira a cada cinco anos, para não ter problemas com vazamentos de gás.

Segundo ele, o ideal é que o botijão fique do lado de fora da cozinha, em local arejado e protegido do sol e da chuva. Contudo, ele adverte que, nesse caso, pelo fato de ter de passar por dentro da parede, a mangueira deve ser de cobre.

Ele orienta ainda a não deitar o botijão quando o gás está acabando. “Muita gente, infelizmente tem esse hábito. Só que no fundo do reservatório de gás há um líquido. Ao fazer isso, o líquido entra em contato com a saída do botijão e pode provocar a obstrução e danificar a válvula”, adverte.

Outro costume errado, apontado pelo instrutor, é usar ferramentas para apertar a válvula. “No próprio equipamento há uma orientação do fabricante, dizendo que deve-se utilizar apenas as mãos. Também não é não necessário apertar demais”, ensina.

Como evitar acidentes em casa

Queimaduras

Deve-se evitar cabo de panela voltado para fora do fogão, brincadeiras com álcool e fogo e também o uso de fogos de artifício.

Afogamentos

Para bebês e crianças pequenas, até baldes, banheiras e vasos sanitários oferecem riscos. Supervisionar crianças e adolescentes, mesmo que saibam nadar.

Quedas

Foto de: Cartilha Mais Segura

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Usar protetores nas quinas dos móveis, não deixar cadeiras, camas e bancos perto de janelas e colocar antiderrapantes em tapetes e em degraus para evitar escorregões.

Intoxicação

Manter produtos de limpeza, químicos e medicamentos guardados em locais fechados. Em casos de ingestão de substâncias tóxicas, a primeira providência é levar a vítima ao hospital, se possível, junto com a embalagem do produto.

Brinquedos

Siga as recomendações do fabricante em relação à faixa etária. Fique atento a peças que possam representar risco de engasgamento, estrangulamento e corte.

Fonte: Blog da Saúde

Acesse também a Cartilha Casa Mais Segura para adultos

Dicas para evitar morte súbita

– Colocar o bebê para dormir de barriga para cima.

– Evitar o excesso de roupas e fraldas que possam dificultar os movimentos do bebê ou superaquecer.

– Deixar os braços do bebê livres, para fora das cobertas, evitando que deslize e fique com a cabeça embaixo das cobertas.

Foto de: Reprodução

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– Deixar a cama livre de almofadas, travesseiros, “cheirinhos”, bichos de pelúcia e outros brinquedos que possam dificultar a respiração. 

– A temperatura do quarto deve ser confortável para um adulto vestindo roupas leves. O bebê não deve parecer quente ao ser tocado.

– Evitar a exposição do bebê ao fumo e à fumaça. Bebês de mães que fumaram durante a gestação têm três vezes mais riscos de morte súbita.

– Amamentação exclusiva até os 6 meses de idade previne da morte súbita e protege o bebê contra várias doenças.

Fonte: Pastoral da Criança

 

 

 

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