Por Deniele Simões Em Notícias

Padre Lourenço Kearns analisa vocação e vida religiosa

No mês dedicado às vocações, o JS conversa com o padre Lourenço Kearns, missionário redentorista da Província de Curitiba (PR) e Campo Grande (MS).

 

Nascido nos Estados Unidos e radicado no Brasil há 47 anos, padre Lourenço é uma das referências na área de formação vocacional e autor de vários livros sobre o tema.

Foto de: Deniele Simões / JS

Pe. Lourenço Kearns - Deniele Simões JS

Padre Lourenço Kearns: "Posso testemunhar, em relação
aos meus 55 anos como religioso, que estou nesse caminho
por causa da vida comunitária"

O religioso fala sobre formação religiosa, secularização, a vida no Brasil e analisa o atual momento da Igreja sob a ótica da vocação.

Jornal Santuário de Aparecida Muitas pessoas afirmam que há uma crise nas vocações. O senhor concorda?

Padre Lourenço Kearns – A questão é complicada. Eu acho que há uma crise, mas a crise começa na família. Muitas vezes, os pais não apoiam a vocação. Mas, além disso, a juventude está muito secularizada e esse apelo para que eles doem suas vidas a Deus torna-se muito difícil.

JS  Qual a diferença entre a secularização de hoje e a de quando o senhor optou pela vida religiosa?

Padre Lourenço – Eu digo que a vocação começa na família. Éramos em seis filhos. Isso já faz uma grande diferença, porque você tem de participar nas tarefas em família. A cada semana, todos participavam.

A exemplo de fé, meu pai era um imigrante irlandês e nunca perdeu a missa aos domingos. A cada domingo recebíamos 10 centavos dele, dos quais cinco eram para o filme e outros cinco para a pipoca. E meu pai só fazia uma pergunta: você já foi para a missa? E, se tivéssemos ido, recebíamos os 10 centavos. Isso é uma diferença muito grande: estimular a religiosidade na família. Isso é importante para que as vocações floresçam.

JS – Como foi o despertar da sua vocação?

Padre Lourenço – Mais uma vez, digo que foi a partir da religiosidade familiar. Comecei, em nossa paróquia, em Nova York, fazendo parte no coral. Era uma paróquia redentorista, em Nova York. De repente, duas irmãs que faziam parte da escola católica mantida pela paróquia, convidaram-me para sair do coral e ser coroinha. Foi aí que começou a minha vocação.

JSO fato de 2015 ser o Ano da Vida Consagrada pode dar um ânimo a mais às vocações?

Padre Lourenço – É uma grande esperança, mas depende de cada congregação promover coisas além do normal. Isso é importante. Agosto é o mês vocacional em toda a Igreja do Brasil e nós temos o dever de promover ações diferentes.

É também o que eu sempre falo e que são as palavras ditas por Jesus: Rezem ao Pai para que haja mais operários para a messe. Então, a oração para as vocações é muito importante.

JS  O senhor acredita que o fato de o Papa Francisco ser um Papa diferente, que pede uma Igreja “em saída”, pode refletir na busca por novas vocações?

Padre Lourenço – Eu acho que o personagem dele deve acordar muitas vocações, graças a Deus. E ele é um religioso, um jesuíta.

A esperança é que ele acorde o sentido de Igreja, de unidade, independentemente de ser leigo ou religioso.

Acho que é isso que ele está dizendo: é possível santificar-se no casamento, mas se Deus chama a pessoa para a vida religiosa, então, é lá que ela vai se santificar. Não que um é melhor ou maior do que o outro. Mas esse é o sentido de ser um vocacionado.

Acredito que o exemplo de Francisco vai despertar muitas coisas, mas, como ele sempre fala, nós temos que nos mexer para isso.

JSEm relação à vida religiosa consagrada, no caso dos padres, existem os religiosos e os diocesanos. Qual é a diferença básica da vida que eles levam?

Padre Lourenço – A diferença básica, eu acho, é que, primeiramente, a vida religiosa opta por uma vida em comunidade. O padre diocesano, às vezes, vive sozinho, pois não tem uma comunidade.

JSMas, quando se vive em comunidade, há também problemas de relacionamento?

Padre Lourenço – É a mesma coisa que acontece em um casamento. Há casamentos bons e ruins. O mesmo serve para a vida religiosa.

Posso testemunhar, em relação aos meus 55 anos como religioso, que estou nesse caminho por causa da vida comunitária. Sem nenhuma dúvida, o apoio, a ajuda – não que não houve brigas e desentendimentos – vêm do amor mútuo que, enquanto religiosos, dá forças para pregar a Copiosa Redenção ao povo de Deus.

JS E o que o senhor, que já está há tanto tempo no Brasil, o acha desse país?

Padre Lourenço – Eu adoro o Brasil. As pessoas perguntam. Por que você não volta para os Estados Unidos? Eu falo que não quero.

JSOs Estados Unidos são um país protestante. Como estão as vocações lá?

Padre Lourenço – Mais uma vez, acho que temos de fazer distinção. No bairro onde morei, a maioria é de irlandeses, poloneses e italianos. Imigrantes, quase todos, sendo uma maioria católica. Hoje em dia, nos Estados Unidos, os católicos, muitas vezes, são apenas no nome. Não há mais aquele fervor que veio dos países imigrantes.

Quando eu estava no seminário maior, no meu segundo ano, havia 110 estudantes redentoristas professos. Agora existem mais ou menos 12.

JSHá muitos missionários brasileiros que vão para os Estados Unidos em missão?

Padre Lourenço – Nossa Província tem uma paróquia em Nova Jersey e lá eles cuidam dos imigrantes brasileiros. Lá há missas em português e em inglês. Atualmente há quatro missionários daqui da Província cuidando dessa paróquia.

 

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