Por Alexandre Santos Em Notícias

Psicóloga analisa poder de influência das mídias na população

Faz tempo que TV, rádio, revistas e jornais fazem parte da vida das pessoas. Contudo, a popularização da internet e da tecnologia, e os processos de convergência de mídias fizeram com que os conteúdos de todos esses veículos estivessem presentes o tempo inteiro no dia a dia do cidadão, por meio de smartphones, tablets, aplicativos etc.

Foto de: Arquivo Pessoal

Ana Carolina Coelho - Arquivo Pessoal

"A mídia aparece com um grande 
poder, cujas informações são
transformadas em mercadorias a
serem vendidas para as pessoas.
O conteúdo ideológico pode atender
ao ser humano, como sujeito, ou
também feri-lo, interferindo na
capacidade de fazer escolhas de
forma autêntica"

Vivemos num tempo no qual imperam a velocidade e um fluxo de informação gigantesco. Contudo, o excesso de conteúdo produzido e publicado em pouco tempo pode gerar desinformação ou produzir distorções de realidade.

Até que ponto os meios de comunicação influenciam o modo de pensar e agir das pessoas? Para conversar sobre isso, entrevistamos a psicóloga Ana Carolina Coelho.

Jornal Santuário de Aparecida – Até que ponto os meios de comunicação influenciam o modo de pensar e agir das pessoas?

Ana Carolina Coelho – Do ponto de vista da Psicologia, os meios de comunicação influenciam nas formas de sociabilidade e produção da subjetividade. A mídia aparece com um grande poder, cujas informações são transformadas em mercadorias a serem vendidas para as pessoas. O conteúdo ideológico pode atender ao ser humano, como sujeito, ou também feri-lo, interferindo na capacidade de fazer escolhas de forma autêntica, influenciando sonhos, gostos, hábitos. Dou como exemplo a cultura do consumo exacerbado, ou do corpo perfeito.

JS – De modo geral, que avaliação você faz das programações, especialmente de TV, no Brasil?

Ana Carolina – Assim como qualquer outro tipo de meio de comunicação, a TV tem o dever de informar o cidadão. Porém há certos princípios e ética que deveriam ser respeitados. Apesar das vantagens que os grandes avanços tecnológicos trazem para todos nós, avalanches de informações chegam aos lares sem qualquer conteúdo educativo. São programas humorísticos, com brincadeiras sem qualquer noção de senso crítico, que muitas vezes estereotipam comportamentos, quase um bullyng. É o incentivo à beleza e à estética, o culto à imagem de corpos moldados com pouco roupa, o incentivo ao consumismo como forma de ostentação. Muito se discute no Brasil os direitos dos cidadãos. Devemos analisar de maneira mais crítica as programações.

JS – Quais as consequências da exibição na TV de cenas de violência, sejam elas reais ou fictícias?

Ana Carolina – Vai depender do público que recebe a exibição. Em caso de crianças, elas podem vir a reagir imitando o comportamento agressivo ou com indiferença afetiva, naturalizando de certa forma o fenômeno. Contudo, isso vai depender tanto do ambiente em que se insere quanto da maneira como o conteúdo foi transmitido e tratado. O tipo de violência também pode determinar respostas diferentes. Em se tratando de adolescentes e adultos, as consequências podem ser um reforço de ideias, ambições, atos violentos e até criminosos.

JS – Polêmicas, brigas, violência e tragédias cativam a audiência. Essa é uma das justificativas das emissoras para o tipo de programação exibem. Por que violência dá tanta audiência?

Ana Carolina – Não sei se as pessoas gostam desse tipo de conteúdo. Não sei se a exibição leva o público a se interessar. Talvez sim, como um tipo identificação. Precisamos explorar mais essas questões em nossas pesquisas. O que me faz pensar é que o sujeito da contemporaneidade é caracterizado pela busca da individualidade e de vários tipos de liberdade. E me faz levantar uma questão: é possível sem violência? Deixando claro que não faço apologia a isso. O homem contemporâneo busca adaptação e respostas para tal questão e talvez queira encontrar respostas nos meios de comunicação.

JS – Como esse tipo de programação influencia as crianças e que consequências essa exposição tem provocado em médio e longo prazo?

Ana Carolina – Estudos apontam que esse tipo de programação pode influenciar de inúmeras formas. Depende do meio em que estão inseridas, embora seja praticamente consensual que crianças não devem ser expostas a cenas violentas. Na legislação brasileira, as crianças são protegidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, que determina que cenas de sexo e violência em qualquer programa de televisão, cinema ou espetáculo público seja avaliada para a classificação etária. Quando as crianças estão em ambientes educativos, como a família ou a escola, junto a um adulto que as proteja e respeite a fase de seu desenvolvimento, pode-se elaborar tais cenas de maneira saudável. Quando não há essa proteção, pode-se naturalizar as cenas de duas formas: pela indiferença ou pela imitação do comportamento, chamado de efeito copycat. Problematizar a questão da liberdade total da mídia de conteúdos para determinados públicos se faz necessário.

JS – Como você avalia do ponto de vista ético, as declarações de jornalistas incentivando ou justificando práticas de justiceiros, como aconteceu recentemente?

Ana Carolina – A ação do justiceiro é reprovável judicialmente, considerada um crime punível à luz do Direito. Apoiar ações desse tipo não me parece ético, independentemente da intenção do formador de opinião. Quando se vive refém da impunidade ou da prática um tanto tardia da justiça, percebe-se o descrédito com o estado e o inconformismo. Os meios de comunicação colhem desses espaços as informações, as elabora e devolve ao social. Contudo, a forma como a informação é transmitida pode sim reforçar atos moralmente reprováveis. Devolver ao social de modo que possibilite ressignificar os espaços do cidadão, respeitando-o como tal, não seria o papel da mídia? Quando isso não acontece, não foge de um posicionamento profissional ético?

 

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