Por Carolina Alves Em Notícias

Robson Sávio expressa empenho às causas sociais

Liberdade e coerência. Dois valores que regem cada ação realizada por esse filósofo, doutor em ciências sociais e professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Por meio deles coloca em voga a vontade que cultiva dentro si de tornar o Brasil um lugar de e para todas e todos.

Detentor de uma variedade de experiências e engajado às causas sociais, Robson Sávio Reis Souza ergue vulneráveis e de maneira modesta, como ele mesmo define, promove uma mobilização em prol de ações transformadoras.

Acompanhe as motivações e as soluções do cientista social em conversa com o JS

 

Jornal Santuário de Aparecida O que motivou sua aproximação às causas sociais?

Foto de: Nome do fotógrafo

robson_savio_reis_souza

Robson Sávio: “Utilizo de várias 
plataformas de comunicação para falar,
dialogar e debater questões que acho 
importantes para a vida, para as pessoas.
Penso que é uma maneira, mesmo
que modesta, de colaborar com a
mobilização em prol de ações
transformadoras”

Robson Sávio Reis Souza – Fui, durante nove anos, seminarista e religioso da Congregação de dom Orione. Desde aqueles tempos, já atuava em áreas sociais: crianças e adolescentes com deficiência; pastoral em aglomerados urbanos, entre outros. Quando deixei a congregação, fui trabalhar na assessoria da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais; posteriormente, na criação da Secretaria Adjunta de Direitos Humanos de Minas Gerais, implementando políticas públicas de defesa de segmentos vulneráveis da população, como os presos, a população LGBT e as vítimas de crimes violentos. Naquela ocasião, atuei no Conselho Estadual de Direitos Humanos, coordenando a Comissão de Indenização às Vítimas de Tortura. Na sequência, comecei a pesquisar a área da segurança pública, preocupado com os déficits de cidadania ocasionados pela seletividade do sistema de justiça criminal brasileiro. Quando cheguei à PUC Minas, em 2004, iniciei meus trabalhos no Instituto da Criança e do Adolescente; na coordenação de um projeto de uma unidade prisional, a Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac) de Santa Luzia; depois na coordenação do Núcleo de Direitos Humanos e na sequência no Núcleo de Estudos Sociopolíticos. Durante todo o período, atuei como voluntário em ONG’s e instituições de defesa, proteção, reparação e promoção dos direitos humanos, como a Comissão Pastoral de Direitos Humanos da Arquidiocese de Belo Horizonte e o Fórum Mineiro de Direitos Humanos. Em todos esses trabalhos pude me aproximar, não só como pesquisador, mas fundamentalmente como militante dos segmentos vulneráveis da sociedade, o que definiu minha opção pelas causas sociais. 

JSQuais são os momentos mais notáveis de sua trajetória pessoal, profissional e humana?

Robson – Todos foram igualmente importantes para o desenvolvimento de uma postura crítica em relação às desigualdades socioeconômicas e étnico-raciais que produzem exclusão, segregação e impedem o pleno exercício da cidadania de uma grande parcela da população brasileira, não obstante os muitos avanços conquistados na última década. O trabalho como educador também me propicia um contato permanente com a juventude e a possibilidade de estar sempre antenado com alguns dos dilemas dessa parcela altamente vitimizada da nossa sociedade. Por falar em vitimização, como pesquisador na área da segurança pública sou extremamente preocupado com as múltiplas formas de violências e violações de direitos que colocam o Brasil na triste posição de campeão no número de homicídios (principalmente de jovens, negros e pobres). Ademais, nossa sociedade é marcada por múltiplas formas de violência e há uma imensa tolerância e naturalização desse fenômeno tão perverso para a deterioração do tecido social. Por isso, nos últimos anos grande parte dos meus esforços como pesquisador tem sido no sentido de estudar essa realidade, como o intento de ajudar, mesmo que modestamente, na sensibilização das pessoas com vistas a reformas no nosso sistema de justiça criminal por um lado e, por outro, na discussão sobre nossa cultura altamente violenta. 

JS –De que maneira suas atividades profissionais contribuem em seu desenvolvimento diário como cidadão e construtor social?

Robson – Dois valores para mim são muito importantes: a liberdade, para que eu possa, sem amarras, dizer e agir a partir de princípios éticos que me orientam. Coerência, articulando pensamento e ação. Assim sendo, todo os meus trabalhos, seja no campo profissional, no voluntariado e nas ações do cotidiano buscam alcançar esses dois objetivos. 

JS –Em consonância com sua área de atuação, quais entraves o Brasil tem mais dificuldade de eliminar? Quais as possibilidades para alcançar um resultado satisfatório?

Robson – Penso que o Brasil, para dar um salto qualitativo na consolidação democrática, ou seja, numa democracia inclusiva (de e para todos e todas, e não para uma pequena parcela da população) precisa avançar em reformas estruturais imprescindíveis: da justiça, especialmente da justiça criminal, aqui inclusa uma ampla reforma do sistema de segurança pública; tributária (produzindo equidade; incidindo mais na renda e nas grandes fortunas e não o consumo); da comunicação (democratizando a mídia) e, sem sombra de dúvida, uma reforma política ampla, para melhorar a qualidade dos nossos representantes eleitos, além de ampliar os mecanismos de democracia participativa e direta. Porém, é preciso enfrentar uma grande coalização conservadora que domina este país desde sua “fundação”, representada entre outros pelos donos do capital (empresários, latifundiários, agronegócio, banqueiros); a mídia tradicional (porta-voz dos estratos mais retrógrados da nossa sociedade); os segmentos conservadores presentes em quase todos os partidos políticos. É uma tarefa civilizatória que só será possível se a sociedade se mobilizar permanentemente para não permitir retrocessos no pouco já conquistado e lutar pela ampliação da cidadania.

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