Por Alexandre Santos Em Notícias

Seminarista conta como descobriu chamado e aponta desafios

Aos 9 anos de idade, Guilherme Jaime Ribeiro sentiu o primeiro chamado. Nessa idade, atuando como coroinha, viu brotar no coração um desejo: ser padre. Seminarista da diocese de Lorena (SP) e membro da Comunidade Canção Nova, Guilherme conta que, quando criança, tinha outro sonho: ser apresentador de TV.

Foto de: Arquivo Pessoal

Guilherme Ribeiro - Arquivo Pessoal

Guilherme Jaime Ribeiro: "No mundo de
hoje há muitos chamados. O jovem hoje
vive a crise da existência. Por isso o maior
desafio, na minha opinião, é reconhecer o
chamado de Deus, que mistura razão e fé.
Coloco minha emoção, meu sentimento e
a agitação interior de lado, para ouvir a voz
de Deus em sinais concretos"

“Queria trabalhar numa grande emissora. Na adolescência, desisti de ser padre, fui estudar e me formei em Rádio e TV. Fui convidado para trabalhar numa emissora, mas aí foi o momento de fazer uma renúncia concreta”, conta.

Assim como Guilherme, milhares de jovens sentem o mesmo chamado e enfrentam os mesmos desafios. Contudo, muitos não conseguem responder à vocação ou desistem durante o caminho. No Brasil, há 22.119 padres. Cerca de 7 mil seminaristas estão nos quase 500 seminários diocesanos. Parece muito, mas, em média, há cerca de um padre para mais de 8.600 habitantes. Os dados são do último Censo Anual da Igreja Católica, publicado em 2009 pelo Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris), órgão ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Segundo Guilherme, a maior dificuldade é reconhecer a vocação. “No mundo de hoje há muitos chamados. O jovem vive a crise da existência. Por isso o maior desafio é reconhecer o chamado de Deus, que mistura razão e fé. Coloco a emoção, o sentimento e a agitação interior de lado, para ouvir a voz de Deus em sinais concretos. Por exemplo, quando um padre conversou comigo e me ajudou a perceber minha vocação ou quando na missa me veio o desejo de levar Jesus Eucarístico para o povo”, explica.

Outro desafio apontado pelo seminarista é manter-se sempre respondendo à vocação. “Aquele chamado, quando tinha 9 anos, não pode ficar no passado. É preciso atualizá-lo constantemente. O desafio é olhar para si, olhar para a própria vontade, olhar para aquilo que o mundo me oferece e acreditar: Deus me chamou. Eu escuto a voz de Deus quando ele fala: ‘renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me’. Quando toco meu chamado com minha fé, posso dizer: foi a melhor renúncia que fiz”, afirma.

Para discernir bem

Para o padre redentorista Anísio Tavares, responsável pelo Secretariado Vocacional do Seminário Santo Afonso de Ligório, em Aparecida (SP), todas as pessoas são chamadas por Deus para desempenhar uma missão. Daí a importância, segundo ele, de se fazer um bom discernimento vocacional. Para isso, ele aponta alguns critérios.

O primeiro critério é sentir o chamado de Deus no coração e estar atento aos fatos, acontecimentos, pessoas e experiências, através dos quais Ele também fala. “Deus usa de todos os meios para manifestar seu amor por nós, chamando-nos a continuar esse mesmo amor no mundo”, indica.

O segundo critério é valorizar a simplicidade. “Ainda que algumas pessoas tenham descoberto sua vocação por meio de experiências de êxtase místico, não podemos esquecer que Deus pode fazer seu convite por meio das experiências mais simples do dia a dia”, aconselha.

Por fim, o padre descreve o que, segundo ele, trata-se do maior dos critérios: “É a disponibilidade para servir os irmãos, vivendo o Evangelho com alegria. Deus fala por meio do clamor do povo”, afirma.

Crise vocacional?

Foto de: Reprodução

Pe. Anísio Tavares - Reprodução

Pe. Anísio Tavares: "A diminuição do número
de vocacionados, tida por muitos como crise,
no sentido negativo, é uma oportunidade de
refletir seriamente sobre a condição atual da
Pastoral Vocacional. Isso não nos deve assustar,
se estivermos dando o máximo de nós. A
preocupação numérica, pura e simples, pode
nos levar a desvios de nosso trabalho vocacional"

Apesar do aumento de sacerdotes em números gerais, alguns seminários têm sofrido com a falta de novas vocações. Contudo, o padre Anísio acredita que não está havendo uma crise vocacional. “Muitos jovens continuam buscando discernir sua vocação e entregando suas vidas na vida sacerdotal e religiosa. Precisamos articular melhor nossa pastoral vocacional para estar conectada ao mundo da juventude e manifestar a eles a grandeza da vocação”, conclui. 

Guilherme concorda. Para ele, se observar estritamente os números, pode se pensar que existe uma crise vocacional. Contudo, segundo o seminarista, é preciso levar em conta outras questões. “É preciso tocar, com a nossa fé, no fato de que há diversidade de carismas. Acredito que as vocações não estão em falta. Acredito que abriu-se o leque para diversas outras realidades de Igreja. Mas realmente nós precisamos chamar mais, pois Cristo vai revelar o chamado de um jovem através de nós. Precisamos fazer o convite, antes de tudo, a partir do nosso próprio testemunho de vida”, argumenta.

Contudo, apesar de não crer em crise vocacional, o padre Anísio chama a atenção para o fato de que existe um processo, cada vez mais acelerado, de secularização na sociedade. “Já sentimos os sinais aqui no Brasil também. Ao invés de pensar que chegaremos a uma realidade como a de alguns países da Europa, que não têm mais candidatos ao sacerdócio, prefiro procurar meios para que a juventude continue tendo oportunidade para discernir sua vocação, pois Deus chama sempre e em qualquer lugar”, adverte.

Segundo padre redentorista, para atrair outros jovens é essencial que os padres e religiosos vibrem mais com a vocação a que foram chamados e manifestem alegria pela consagração que vivem. “A diminuição do número de vocacionados, tida por muitos como crise, no sentido negativo, é uma oportunidade de refletir seriamente sobre a condição atual da Pastoral Vocacional. Isso não nos deve assustar, se estivermos dando o máximo de nós. A preocupação numérica, pura e simples, pode nos levar a desvios de nosso trabalho vocacional. O Papa Francisco alerta sobre esse perigo. O importante é levá-los à verdadeira opção por Cristo, anunciando seu Evangelho”, conclui.

 

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