Por Allan Ribeiro Em Notícias

Teóloga aborda relevância feminina nas Escrituras

A figura feminina se faz presente em todo o contexto bíblico. Desde o Velho ao Novo Testamento, as mulheres exerceram relevantes papéis. Dentre elas está Maria, a Mãe do Salvador, que ganha destaque como serva pelo seu sim a Deus. Os estudos direcionados a essa vertente ainda são pequenos, mas aos poucos se desenvolvem.

 

A teóloga do Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), Cleide Giusti, faz uma análise sobre o protagonismo das mulheres nas Sagradas Escrituras. Seguindo uma linha feminista em suas pesquisas, a especialista busca compreender as formas como elas eram vistas pela sociedade do período e como certos aspectos comportamentais permanecem até os dias atuais.

 

Ela afirma que, no processo de tradução da Bíblia, a reprodução de algumas palavras dá um outro significado à imagem da mulher. Cleide também mostra que Cristo foi responsável pela quebra de paradigmas, por demonstrar uma maior valorização da figura feminina nos seus atos e ensinamentos.

Foto de: Allan Ribeiro / JS

Cleide - Allan Ribeiro JS

"Cristo discutiu as coisas de igual para igual, aceitou
as mulheres com todas as missões que elas tinham,
com todos os defeitos e com todas as virtudes",
afirma a teóloga

Jornal Santuário de Aparecida – Como surgiu o desejo pelo estudo feminista da Bíblia?

Cleide Giusti – Não fui eu que escolhi. A primeira vez que fui ao encontro de mulheres não havia quem fosse. Eu fui e gostei muito desse jeito de ler a Bíblia, diferente, suspeitando. Comecei a me interessar e fui lendo tudo que foi vindo pela frente. A gente entra por um caminho e não para mais.

JS – Como a mulher é retratada? Existe uma diferença na forma que a figura feminina é apresentada no Velho e no Novo Testamento?

Cleide – Existe. No Antigo Testamento a mulher é sempre uma propriedade do homem. Já no Novo Testamento, Jesus não admitiu isso. Ele nunca tratou a mulher como um objeto. Cristo discutiu as coisas de igual para igual, aceitou as mulheres com todas as missões que elas tinham, com todos os defeitos e com todas as virtudes. Por isso, nós falamos que Jesus é Deus. Deus vê e conhece os nossos limites, assim como Cristo também. Ele sabia o que podia pedir para as pessoas. Essa coisa foi envolvendo as pessoas em Jesus e até hoje envolve.

JS – As Sagradas Escrituras, algumas vezes, trazem uma tradução diferente em relação ao texto original, em hebraico. Isso implica outra visão da figura da mulher?

Cleide – Em hebraico, está escrita uma coisa e, na tradução, vem outra. Um exemplo é a questão da costela. O termo do hebraico, que é “costela”, significa “lado inteiro”. Ele aparece 40 vezes na Bíblia. Só em uma parte [da criação da mulher] usaram o termo “costela” para traduzir. Em todos os outros usaram o termo “lado inteiro”. Se, em todo os outros é “lado inteiro”, por que só esse é costela? Não sou um lado inteiro? Se você perceber como o texto está escrito, você vê que Deus encheu de carne o lado inteiro daquele boneco de barro. Outra coisa que eles falam é que Adam é homem. Porém, Adam significa o terrestre, o boneco de barro. O boneco de barro dividiu-se meio a meio e encheu-se de carne. Quando eles se enchem de carne é que se tem o homem e a mulher. Adam é o boneco de barro.

JS – Temos Maria como a principal mulher na Bíblia. Como ela é tratada?

Cleide – Maria é tratada com muito carinho e respeito. Pelo feminismo, ela é muito mais. Maria é uma sustentação para nós, mulheres. Quando você começa a estudar textos que a Igreja Católica e as outras Igrejas usam dizendo quem é Maria, você pega um gancho para defender a mulher, principalmente em Apocalipse 12. Se você pegar o texto a verá como a Mãe de Deus. Ela salva o menino do dragão; ela é quem luta com o dragão; ela quem vai ser coroada Rainha do Céu e da Terra, ganhar as asas de águia. Se você for observar as divindades do Antigo Testamento, a grande Mãe Rainha do Céu e da Terra tinha asas de águias. Apocalipse não fala, em nenhum momento, que é Maria, mãe de Jesus, mas, fala apenas que é uma mulher, um dragão e um filho. A própria Igreja Católica pegou isso para justificar o dogma da Mãe de Deus. Quando lemos isso e vemos toda essa figura divina que está lá, temos um jeito de ver Maria muito divinal, muito bonito, muito esclarecedor; de dizer que ela é mesmo maior, a Rainha do Céu e da Terra.

JS – As Sagradas Escrituras trazem uma perspectiva patriarcal? Por quê?

Cleide – A Bíblia é patriarcal. Toda a escrita foi feita por homens. Desconfia-se que se tenha por trás mulheres, mas não temos provas. A única coisa que se tem prova é que a tradução que São Jerônimo fez contou com a ajuda de duas mulheres, a Marcela e a Paula, que trabalhavam na igreja dele e conheciam o idioma hebraico. Ele pôde traduzir porque elas ajudaram.

JS – A mulher na Bíblia ainda é pouco estudada?

Cleide – Ela é muito pouco estudada. Não há interesse, não gostam do tema. Parece que as pessoas têm medo do que elas podem fazer. A sociedade tem muito medo da mulher, mas não sei o porquê. A mulher quer o bem. Até hoje, há inúmeras alas que querem diminuir a mulher, porque a mulher é diferente. O feminismo defende homens e mulheres juntos. O feminismo tem de ver essas construções sociais para descontruir e construir coisas novas.

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