A cidade de Três Pontas, ligada à diocese da Campanha (MG), está em clima de alegria e muita ansiedade. Tanto os católicos que lá residem como aqueles que vêm de fora para cultivar a espiritualidade na cidade aguardam com satisfação a cerimônia de beatificação de Francisco de Paula Victor, o padre Victor.
Foto de: Deniele Simões / JS
Para dom Diamantino, padre Victor
foi um homem à frente do tempo,
que tinha uma postura de primordial
caridade para com os mais pobres
De acordo com o bispo da diocese da Campanha, dom Diamantino Prata de Carvalho, provavelmente a cerimônia acontecerá no dia 21 de novembro, mas a data ainda não foi confirmada pelo Vaticano.
Segundo o religioso, a data foi preestabelecida em alusão ao Dia da Consciência Negra.
O aval para a beatificação foi dado após o Vaticano reconhecer um milagre que ocorreu por intercessão de padre Victor, por meio de decreto assinado pelo Papa Francisco, no último dia 5 de julho.
“A junta médica deu parecer favorável, no final de outubro do ano passado; os teólogos também em março deste ano, e a junta de cardeais aprovou no último dia 2 de julho”, conta o bispo.
Segundo ele, a graça foi alcançada pela professora Maria Isabel de Figueiredo, que sofria de atrofia na única trompa que restava no aparelho reprodutor. “Quando ela engravidava, não gestava, mas não quis tirar a trompa, onde estava solidificado o óvulo”, explica.
Mesmo desacreditada pelos médicos em relação à maternidade, a professora pediu com fé a intercessão de padre Victor em uma das tradicionais novenas em louvor ao Servo de Deus que acontecem na cidade.
Após rezar com fé, Isabel foi recuperando as funções reprodutoras, conseguiu engravidar duas vezes. Hoje, ela é mãe de duas meninas.
Entendendo o processo
O processo de beatificação de padre Victor vem de longa data, assim como a devoção dos fiéis de várias localidades, que recorrem à cidade de Três Pontas em busca de graças.
A abertura aconteceu no dia 16 de julho de 1993, juntamente com o processo da hoje beata Nhá Chica, da cidade de Baependi (MG).
Após tramitar por cinco anos no Vaticano, houve a troca do postulador, que estava com idade avançada. Em 1997, o trabalho, com o envolvimento de dois religiosos: o frei franciscano Paolo Lombardo e a irmã Célia Cadorin.
Dom Diamantino passou a acompanhar o processo mais de perto quando chegou à diocese da Campanha, em 1998. Foi neste ano que aconteceu a exumação do corpo de Padre Victor, dando andamento ao processo complementar, que corrigiria algumas questões documentais.
“Não tínhamos a documentação histórica das ordens sacras dele e a irmã Célia foi a Mariana, onde padre Victor foi ordenado presbítero”, recorda.
Na fase diocesana do processo, as análises de possíveis curas começaram a ser feitas em 1999, mas só apareceram casos mais consistentes há cerca de seis anos.
Quem foi padre Victor
Foto de: Reprodução
Ao longo da vida, Victor pregou,
de modo especial, a caridade.
Francisco de Paula Victor nasceu na cidade da Campanha (MG), no dia 12 de abril de 1827. Era filho da escrava Lourença Maria de Jesus e, ao ser batizado, no dia 20 de abril do mesmo ano, teve como madrinha Marianna Bárbara Ferreira.
“O que impressiona é que a vida dele foi realmente um calvário”, ressalta dom Diamantino. Foi dona Mariana que o libertou da escravidão e ofereceu o dote para que o rapaz pudesse seguir a vida religiosa.
Antes disso, Victor foi aprendiz de alfaiate e sofreu preconceito racial, principalmente antes da ordenação. Quando manifestou a intenção de ser padre, mestre Inácio, que ensinou ao jovem o ofício de alfaiate, caçoou dele. “Deu risada e disse: um negro escravo ser padre? Só no dia em que as galinhas tiverem dentes”, conta dom Diamantino.
Foi em uma das visitas do então bispo de Mariana (MG), dom Antônio Ferreira Viçoso, que o jovem falou sobre o desejo de ser padre. Dom Antônio o acolheu com alegria no seminário, no dia 5 de junho de 1849.
Victor foi ordenado sacerdote em 1851 e permaneceu em Campanha como coadjutor até o ano seguinte, mas foi no município de Três Pontas que desenvolveu suas atividades pastorais. “Lá ele passou 53 anos em e toda a sua vida ministerial foi servindo o povo, fazendo escola para as crianças”, conta o atual bispo da Campanha.
Para dom Diamantino, padre Victor foi um homem à frente do tempo, que tinha uma postura de primordial caridade para com os mais pobres. “Pouco guardava para ele e chegou a esconder um leproso na casa paroquial para cuidar dele”, detalha.
Ao longo da vida, Victor pregou a fé, a esperança, a fortaleza, a prudência, a justiça, a obediência, a castidade, a temperança, a humildade, o temor a Deus e, de modo especial, a caridade.
Faleceu no dia 23 de setembro de 1905 e a notícia de sua morte abalou toda a região da Campanha, cujo povo já o venerava em vida.
Evento em setembro celebra morte do venerável
Entre 50 mil e 100 mil romeiros devem passar por pela cidade de Três Pontas, no dia 23 de setembro, quando acontece a festa em celebração ao aniversário de morte de padre Victor.
Foto de: Reprodução
Em 22 de setembro uma grande procissão marca
as celebrações, com saída da Igreja Matriz Nossa
Senhora D'Ajuda até a Capela de Padre Victor
A informação é da assessoria de comunicação da prefeitura local que, em conjunto com a diocese da Campanha, a Associação Padre Victor de Três Pontas e a equipe sacerdotal das paróquias Nossa Senhora d’Ajuda, Nossa Senhora Aparecida e Cristo Redentor organiza a festa.
Neste ano, os devotos vão comemorar o 110º aniversário de morte, mas uma grandiosa novena antecede a festa, com ampla programação.
No dia 22, uma grande procissão marca as celebrações, com saída da Igreja Matriz Nossa Senhora D'Ajuda até a Capela de Padre Victor. “São mais ou menos 8 ou 9 quilômetros e uma multidão de gente faz esse trajeto a pé, canta, reza e dá testemunhos de graças alcançadas pela intercessão do venerável Servo de Deus”, diz dom Diamantino.
Também no dia 22 são celebradas nove missas, sendo a primeira às 5 horas e a última às 19 horas.
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