A espiritualidade pascal tem como base a Páscoa, ou seja, o acontecimento central da fé cristã, através da proclamação da morte e da Ressurreição de Jesus Cristo.
Foto de: Reprodução
Páscoa é celebração de fundamental
importância para os cristãos, por ter
sido instituída pelo próprio Cristo
A Páscoa tem fundamental importância para aqueles que professam a fé católica e, de acordo com o missionário redentorista padre Ulysses da Silva, que atua no Santuário Nacional de Aparecida, é uma celebração realmente instituída por Jesus Cristo.
Segundo o sacerdote, essa celebração nasce quando Cristo, reunido com seus apóstolos na última Ceia, cria o rito que deveria perpetuar a doação de sua vida pela humanidade.
“Ao distribuir o pão e o vinho como sinais do seu corpo e sangue, Ele transformou em rito o que estava para acontecer: a sua morte e Ressurreição. Assim, Jesus, na moldura da tradicional páscoa judaica, criou a Páscoa cristã e mandou que se fizesse sempre aquele rito em sua memória, como uma nova e eterna aliança entre Deus e os homens”, contextualiza.
Isso foi o que fizeram as primeiras comunidades cristãs, a partir da repetição do rito da celebração da Páscoa em cada domingo. “Logo no segundo século começaram a celebrá-la também anualmente, em substituição à Páscoa judaica”, completa.
Hoje, a celebração da Páscoa começa com a Ceia do Senhor, na Quinta-feira Santa. Na Sexta-feira Santa e na manhã do sábado Santo, os fiéis recolhem-se em oração para, no sábado à noite, irromper em aleluias de festa e de alegria com a Ressurreição do Senhor.Padre Ulysses lembra tambémque a celebração é tão importante que se estende até Pentecostes.
Mas, será que os cristãos têm dado a devida importância a esse período e, de fato, vivenciado a espiritualidade pascal?
Apesar do grande comércio de chocolate e de bacalhau nessa época do ano, ainda existe uma grande devoção durante o período. “Eu diria que nossos católicos ainda mantêm uma sensibilidade religiosa pela Semana Santa, quando as celebrações litúrgicas se entrelaçam com os atos de piedade popular, tais como procissões, vias-sacras etc.”, diz padre Ulysses.
Foto de: Deniele Simões / JS
Padre Ulysses da Silva: "Mais do que um ato físico,
nossa ressurreição será uma participação na vida
nova de Jesus ressuscitado"
Ele pondera que a própria festa da Páscoa acabou não sendo assumida pelos católicos como a mais importante de todo o ano litúrgico. “Essa omissão deve-se às tradições de piedade do povo, a uma Liturgia ainda clericalizada e principalmente à secularização da sociedade, que prioriza o descanso e a diversão a qualquer compromisso religioso”, explica.
Como exemplo, ele cita algumas festas muito mais solenizadas e com maior participação popular do que o Domingo de Páscoa, como a de santos padroeiros, tal qual São Benedito,em Aparecida (SP). “Talvez seja uma questão de catequese e de integração maior entre piedade popular e liturgia oficial”, questiona.
O missionário redentorista e diretor de Periódicos da Editora Santuário, padre Ferdinando Mancilio, entende que muitos católicos transformam o período pascal em “qualquer coisa”, menos no sentido profundo da busca da vida nova e de um novo sentido para a vida, até por falta de compreensão.
“A nossa fé cristã é fundada justamente na Ressurreição de Jesus, mas a modernidade, que oferece muitas possibilidades para o ser humano, o faz também desviar desse sentido”, justifica Mancilio.
Como vivenciar, de fato
De acordo com padre Ulysses, a Páscoa oferece ao povo de Deus vários sentidos ou dimensões. Isso acontece por se tratar de um período que celebra a essência da fé cristã, ou seja, a Ressurreição do Senhor.
“É, primeiramente, uma memória da morte e da Ressurreição de Jesus, quando Ele, por nós e para nós, venceu definitivamente a dominação do mal e da morte sobre o ser humano”, explica.
Foto de: Deniele Simões / JS
Padre Ferdinando Mancílio: "Nossa fé cristã
é fundada justamente na Ressurreição de
Jesus, mas a modernidade que oferece muitas
possibilidades para o ser humano o faz também
desviar desse sentido"
O religioso coloca também que essa memória não se limita à história passada, já que, na medida em que celebram os gestos e as palavras de Jesus, as pessoas têm a oportunidade de atualizar a graça redentora, participando dela sacramentalmente.
Ainda segundo ele, um terceiro sentido da Páscoa é dar às pessoas a possibilidade de renovar uma vida de fé, de participação na comunidade e de empenho evangelizador na sociedade.
Por fim, o sacerdote lembra que a celebração da Páscoa anual é um sinal seguro de participação da Páscoa eterna, em que todos serão ressuscitados por Jesus para existir para sempre no seio da Trindade santa.
“Por isso, o cristão deve vivenciar a Páscoa a partir da Quarta-feira de Cinzas, iniciando uma caminhada quaresmal de conversão pessoal e de participação intensa nas celebrações litúrgicas e nos atos de piedade. Somente assim o seu canto de Aleluia pascal brotará com força do íntimo de seu coração”, ensina padre Ulysses.
Padre Ferdinando ressalta, ainda, a necessidade de que cada cristão tenha em mente o grande mistério da nossa fé cristã, que se expressa numa participação da comunidade, na leitura do Evangelho, no compromisso da caridade, da justiça e da fraternidade. “São sinais dessa vivência pascal e sinal da Páscoa: libertar o outro e fazer com que ele faça a experiência da Páscoa”, conclui.
E, como a Páscoa é sinônimo de vida – dom sagrado dado a cada um de nós por Deus – é fundamental ter em mente que a vida tem um início, mas não deve ter um fim.
Para padre Ulysses, essa consciência ocorre a partir do momento em que as pessoas amam a própria vida, respeitando e defendendo também a vida do outro ser humano, desde a concepção até o último suspiro. “Assim estamos sendo cristãos pascais”, assegura.
O missionário ressalta que o amor é o maior responsável pela transformação da vida terrestre em uma vida eterna. “Mais do que um ato físico, nossa ressurreição será uma participação na vida nova de Jesus ressuscitado.”
Por isso, a Páscoa deve ser uma vivência diária do amor de Jesus por nós e do nosso amor por Ele, a ser demonstrado através do nosso empenho em assumir o mandamento maior do amor ao próximo de forma incondicional”, reflete.
Segundo o religioso, esse é o caminho que garante a ressurreição após a morte para uma vida plena de amor, que durará para sempre.
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Sentido litúrgico e pastoral
“O sentido litúrgico e pastoral da celebração da Páscoa está ligado essencialmente à Páscoa dos judeus, ou seja, à saída do Egito”, explica padre Ferdinando Mancilio.
Os judeus foram conduzidos por Moisés à Terra Prometida e essa passagem é considerada a primeira libertação do povo de Israel. “E Jesus vai celebrar, justamente em Jerusalém, essa Páscoa”, acrescenta Mancilio.
O sacerdote lembra que toda dor e sofrimento de Cristo – que culminaram com sua morte – apontam para a libertação do povo.
“Biblicamente, isso traz um sentido profundo para nós: Jesus como o novo Moisés e o verdadeiro libertador do povo de Deus, através da ressurreição”, ressalta.
Por isso mesmo, celebrar a Páscoa torna-se fundamental para os cristãos. A celebração mais significativa do período é, portanto, é a Vigília Pascal, no Sábado Santo, que rememora a memória pascal de Jesus, através da Eucaristia.
O missionário redentorista padre Ulysses da Silva explica que a origem da liturgia pascal está na preparação das pessoas adultas que se convertiam a Jesus e eram admitidos ao Batismo, à Crisma e à Eucaristia na festa da Páscoa.
“Essa proposta original continua válida ainda hoje para o período da Páscoa, como renovação da vivência desses três Sacramentos da iniciação cristã na vida de cada cristão e de cada comunidade”, ressalta.
Nesse sentido, o rito do Sábado Santo oferece visualmente esses elementos. “Jesus ressuscitado é simbolizado pelo grande Círio aceso. Ele é a Luz que espanta a escuridão do pecado e da morte, na qual todo cristão acende a vela da sua fé cristã”, acrescenta padre Ulysses.
A Liturgia da Palavra proclama a História da Salvação, desde a criação até a Ressurreição. Ainda de acordo com o religioso, a renovação das promessas do Batismo significa a decisão do cristão em ser fiel à fé em Jesus e à participação em sua Igreja.
Por fim, a Eucaristia conclama os fiéis a entrar em profunda comunhão com o Senhor ressuscitado e em fraterna comunhão com toda a comunidade. “Trata-se de mergulhar espiritualmente na morte de Jesus para ressuscitar com Ele para uma vida mais renovada”, resume padre Ulysses.
A liturgia do período pascal, que vai até o domingo de Pentecostes, lembra sobre a realidade da nossa fé. “Nesse tempo pascal, vamos relembrando todos os fatos e feitos de Jesus, que vão culminar com um mandato de Jesus para os discípulos saírem pelo mundo afora e anunciarem a boa notícia”, conclui padre Ferdinando Mancilio.
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Paralelo entre vida e morte
“O Natal está profundamente ligado à Páscoa de Jesus.” É o que explica Ferdinando Mancilio ao traçar um paralelo entre as duas datas mais significativas para os cristãos. Assim, é possível traçar um paralelo entre a vida e a morte, já que o menino Jesus nasceu pobre e simples em Belém e, depois, em Nazaré, já moço, aos 33 anos, morre pregado na Cruz para salvar a humanidade.
Embora a Páscoa signifique o triunfo da vida sobre a morte, através da ressurreição de Cristo, o Natal acaba sendo muito mais festejado por grande parte dos fiéis.
“A celebração do Natal é bastante festiva, muito próxima do povo, porque há um momento em que as famílias se encontram”, explica. Apesar da ligação direta entre as duas datas, padre Ferdinando acredita que a compreensão teológica ainda não é muito clara. “Nós ainda não aprendemos a celebrar devidamente a Páscoa; sinto que cresceram a compreensão e a participação na celebração da Páscoa, mas ainda falta bastante caminho a ser feito”, pondera.
O tema também permite uma comparação com a morte humana, já que, quando as pessoas perdem seus entes queridos, sentem dificuldade de entender ou até mesmo de aceitar.
“Quando perdemos alguém querido, é claro que, humanamente, sentimos e não há problema nenhum nisso”, justifica Ferdinando Mancilio. É preciso ter a consciência, entretanto, de que a morte é também algo “bonito”.
“É um momento decisivo na vida da pessoa e, naquele momento, a pessoa assume sua individualidade como um ser criado por Deus, como fruto do amor de Deus e a morte, então, vai fazer com que ela mergulhe plenamente nesse amor divino”, exemplifica.
Na avaliação do sacerdote, a morte humana seria uma “Páscoa plena”, ou seja, uma Páscoa plena da vida dos cristãos que, ao mergulhar na eternidade, conhecerão plenamente o amor de Deus e também a si mesmos.
Vivência na comunidade
O administrador Francisco Floriano da Silva Neto procura vivenciar a Páscoa da melhor maneira possível, participando de todas as celebrações programadas no período.
“Vivencio na expectativa de renovar a entrada triunfal de Jesus Cristo na terra natal, assim como também aguardo Jesus no coração, depois de viver a Santa Quaresma, através da penitência, do jejum e da oração”, conta.
Foto de: Eduardo Gois / JS
Francisco Floriano: "Que o amor esteja em primeiro
lugar; que a Páscoa possa nos lembrar da passagem
do velho para o novo, a fim de que possamos viver
sempre o bem a cada dia, vivendo a Santa Quaresma
o ano todo, pois, como Jesus, viemos para servir e
não para sermos servidos"
Francisco tem plena consciência de que a Páscoa é a data mais importante do calendário cristão e, por isso, entende tratar-se de um período crucial para a tomada de consciência. “A Páscoa nos traz vida livre, nos faz crer que realmente Jesus Cristo ressuscitou e está no meio de nós, fazendo algo acontecer em nossas vidas”, diz.
Ele espera que a Páscoa traga muita paz, amor, união e fraternidade e que cada pessoa esteja pronta para servir o outro, praticando a obra de Jesus Cristo.
“Que o amor esteja em primeiro lugar; que a Páscoa possa nos relembrar a passagem do velho para o novo, a fim de que possamos viver sempre o bem a cada dia, vivendo a Santa Quaresma o ano todo pois, como Jesus, viemos para servir e não para sermos servidos”, reflete.
Muitas pessoas ainda encaram a Páscoa como um período cada vez mais influenciado pelo comércio de chocolate e gêneros alimentícios. Por isso, ele defende a conscientização de que esses elementos não são fundamentais.
Para o administrador, é preciso cada vez mais educar os cristãos, desde a preparação para a Primeira Comunhão, ensinando que a vivência pascal é o verdadeiro amor de Jesus, que veio ao mundo para pregar e evangelizar, desde os primórdios da Igreja.
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