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Psicóloga e escritor analisam seriado Chaves

Falecido no último dia 28 de novembro, aos 85 anos, em Cancun, no México, o ator, escritor, dramaturgo e comediante mexicano Roberto Gómez Bolaños é o idealizador da série de TV que permanece no ar há mais tempo no Brasil.

Foto de: Reprodução

Seriado Chaves - Reprodução

Chaves chegou por aqui em 1984 e, desde então, são 30 anos de transmissão ininterrupta pelo SBT. Desde novembro de 2010, a série é exibida pelo canal fechado Cartoon Network, voltado ao público infantil, e reforça a tese de que a atração desperta o interesse tanto da criançada como dos adolescentes, e também dos adultos, que hoje estão na casa dos 30 aos 40 anos.

Mas o que faz do seriado um programa tão prestigiado, há tantos anos no ar e com grande audiência? Segundo especialistas em comportamento e comunicação, são vários motivos.

A psicóloga clínica e professora de psicanálise do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal), Ana Carlota Pinto Teixeira, atribui o sucesso da turma do Chaves ao formato do programa, que prioriza emoções e sentimentos vividos pelas pessoas comuns. “Ali tem o agressivo, o invejoso, o ganancioso; tem a bruxa, tem o Chaves, que é o ingênuo, que faz o sem querer querendo”, salienta.

Para Ana Carlota, o bordão usado por Chaves (“sem querer querendo”) é um ato que denuncia o inconsciente das pessoas, que agride sem ao menos se dar conta. “Quer dizer, é uma forma de o leigo se dar conta de que existe uma vontade contraditória dentro dele que, mesmo sem querer, acaba agredindo e fazendo as coisas não tão perfeitas assim.” Dessa maneira, grande parte do público acaba enxergando-se no próprio personagem.

A psicóloga lembra que a arte tem o poder de unir as pessoas, partindo do fator emocional e muitas vezes transformando sentimentos negativos, que poderiam gerar agressões, em algo positivo. “Através da interpretação desses personagens, a arte pode conter esses conteúdos de uma forma humorada, alegre, fazendo todos nós participarmos de todo aquele drama que está acontecendo ali e nos aliviarmos.”

Foto de: Reprodução

Seriado Chaves_2 - Reprodução

O jornalista Luís Joly é coautor de dois livros sobre Chaves e atribui o sucesso da série no Brasil a três pilares básicos. “O primeiro deles é a qualidade do texto que o Bolaños criou, que é atemporal e universal.” 

 

De acordo com Joly, Chaves foi escrito baseado no contexto que envolvia o México nos anos 70, e as situações vividas na época traziam um humor muito humano, com situações cotidianas que todo mundo enfrenta ou enfrentará, independentemente das mudanças que afetaram o mundo. 

O segundo pilar foi o trabalho de dublagem, quando a série aportou por aqui. O outro elemento é o fato de o programa continuar sendo reprisado pela emissora. “Isso acabou colocando o Chaves num papel de elo entre as gerações, ou seja, a criança que assistiu ao Chaves em 1984 assistiu ao mesmo episódio que uma criança hoje está assistindo do jeito que ele foi dublado e exibido”, reforça.

Na opinião de Joly, a exibição dos mesmos episódios que eram veiculados na década de 80 reforça os valores mostrados pelos personagens na época, unindo aqueles que assistiam à série no passado às novas gerações.

Roberto Bolaños foi exemplo de vitalidade

Grande parte desse amor que as pessoas sentem pela turma do Chaves foi transferido também para Roberto Bolaños, que mesmo afastado das telinhas, devido à idade avançada, continuou promovendo seus personagens.

Em maio de 2011, Bolaños criou uma conta no Twitter para interagir com o público e ganhou mais de um milhão de seguidores em menos de dois meses – fato que demonstra o quanto é querido pelo público jovem. Atualmente a página totaliza cerca de 6 milhões e 800 mil pessoas.

Foto de: Reprodução

Seriado Chaves_3 - Reprodução

Fã de carterinha do dramaturgo e telespectador assíduo da série desde quando era criança, Joly, hoje com 35 anos, elogiou a adesão de Bolaños às redes sociais e viu na iniciativa uma chance que os fãs tiveram de interagir com o dramaturgo. “Mesmo com a idade avançada, ele sempre gostou de trabalhar, de escrever, de produzir.”

Para Ana Carlota, Chaves manteve-se vivo na memória do público, eternizado como um menino ingênuo, mas humorado, às vezes astuto, outras nem tanto, mas que soube exprimir como ninguém as contradições que estão no íntimo de cada um.

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