O mundo está em constante renovação, mudança de costumes e quebra de diversos paradigmas. Para muita gente, o velho e querido livro de cabeceira é item indispensável, mas também é grande o número de pessoas que não dispensam ter suas coleções favoritas disponíveis no celular, tablet e computador. O mercado de e-books é bastante otimista, além de ser um forte atrativo para o acesso da nova geração de leitores à literatura. Porém, o mercado ainda é algo relativamente novo e gera muitas dúvidas.
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O vice-presidente da Associação Nacional de Livrarias (ANL) e Gerente de Marketing das Editoras e Livrarias Santuário e Ideias & Letras, Augusto Mariotto Kater, define o mercado como um segmento, incerto e imerso entre luzes e sombras. Mas calma! Ele explica. "Há uma mudança comportamental na sociedade, que é transparecida na geração dos smartphones, do conhecimento rápido e prático que está fascinada por esse tipo de material. Essa mudança comportamental pode favorecer, e muito, o crescimento desse segmento. Isso são luzes", detalha. Segundo o executivo, o livro digital é uma tendência de mercado mais evidente a partir da virtualização das atividades. "Tudo hoje é virtual, até namoros, bate-papos, jogos, cinema. Livros, assim como as músicas, tendem cada vez mais a ir para o ambiente virtual e tecnológico", explica.
Kater afirma que é evidente e crescente o bom convívio entre as mídias: livro físico (tradicional), audiolivros e livros digitais. Na opinião dele, eles se complementam. Investir no livro digital parece ser um caminho natural necessário para acompanhar as evoluções comportamentais do leitor, mas na avaliação do vice-presidente da ANL, o desafio está em dosar esse investimento entendendo que há competição com empresas de tecnologia. "É importante associar e trabalhar a complementariedade das mídias, entendendo que o hábito de leitura é mais importante que a forma com que ele se manifesta. Um leitor assíduo sempre será um bom cliente para a editora e para a livraria", aponta.
E quais são as sombras?
Kater revela que existem incertezas no mercado, que ainda não apontaram na direção e na velocidade esperada e são uma barreira para investimentos maiores por parte das empresas. "O risco do modismo passageiro, principalmente dos e-readers, diante de outras tecnologias disponíveis e mais completas. Esse é, sem dúvida, um dos pontos mais preocupantes para quem investe no segmento", acrescenta.
Para ele, há indefinição do que é o produto: livro ou tecnologia? Google e Apple disparam a venda de e-books a partir do momento que disponibilizam aplicativos (leitores digitais) em aparelhos celulares. O mundo tecnológico é um terreno desconhecido para as editoras, o mundo editorial também é pouco conhecido pelas empresas de tecnologia. Esse entrave atrasa as ações e as parcerias demoram a acontecer no Brasil.
As expectativas
Segundo Augusto Kater, o impacto direto como substituto da venda de livros físicos ainda é incerto, mas não deve ser nem avassalador como nos EUA, nem tão inexpressivo como é na França. Mas existe um problema, segundo Kater: "O nosso povo tem um índice de leitura baixo e isso é uma incerteza grande para o segmento. Será que o brasileiro passará a ler mais diante dessa tecnologia ou não se interessará tanto por não ter o hábito de leitura em sua vida?".
Ele acrescenta que as pequenas e médias livrarias podem ser grandes aliadas para quem deseja entrar no mercado agora, graças a sua capilaridade. "Há um vasto terreno para que as pequenas e médias livrarias sejam a grande propagadora dos livros digitais, dada a facilidade com que se comunicam com o leitor. Além de ser muito mais prática a operacionalização de estoques e aumento do acervo ofertado", opina.
Na opinião do diretor da Moby Dick E-books, Leandro Barros, a qualquer momento pode ocorrer uma mudança mais súbita a favor dos livros digitais. De acordo com ele, os pontos fortes dos e-books são a facilidade de compra e de leitura, a disponibilidade quase imediata do livro digital nos mais diversos dispositivos de leitura, a economia de cerca de um terço do preço do livro em papel, além da inexistência de taxas de envio e de agendamento ou espera de entrega. Como ponto ainda a ser trabalhado há a resistência de alguns leitores que julgam que o custo de impressão é o principal custo de um livro, não levando em conta o trabalho do autor, do revisor, do tradutor, do diagramador, do editor, do publisher, do capista e do ilustrador, assim como o custo da tecnologia de produção de um e-book, que é bastante elevado.
Segundo Barros, o maior desafio das editoras é mostrar que o livro digital está apenas a poucos cliques do leitor e que não provoca a perda do potencial afetivo que o livro de papel tem. Essa visão vem recrudescendo recentemente, o que já sinaliza a força crescente da oferta digital. "Há um saudável saudosismo do livro papel", brinca.
Quando questionado se os e-books serão o futuro da literatura ou vão sempre dividir espaço com o livro físico, ele afirma que não dá pra ser profeta no assunto, mas é preciso informar os leitores sobre a existência, a partir de já, de uma experiência muito acessível e prazerosa, que é a leitura de livros digitais, de modo a permitir a ele uma decisão informada. "Isso é parte de um processo mais amplo, de bases históricas, que é o da evolução do livro: da argila para papiro, para pergaminho, para papel e, a partir de agora, para o livro digital. Penso que, em dez anos, no máximo, os livros de papel serão um mercado de nicho, como ocorre hoje com os discos de vinil. Existe também a questão ecológica, cada vez mais na agenda da humanidade, e que o livro digital também ajuda a resolver", finaliza.
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