Por Sidnei Oliveira
O comentário que mais ouço de pais e gestores a respeito da Geração Y é: “Por que essa geração pergunta tanto?”
Certa vez, conversei com um experiente executivo sobre isso. Ele dizia que esse comportamento era extremamente irritante. Muitos conflitos com seus subordinados aconteciam exatamente por questionarem constantemente suas decisões. Comentou como era difícil adotar um comportamento sereno quando os próprios subordinados colocavam em dúvida a capacidade dele de liderá-los. Ele desenvolveu sua liderança de acordo com modelos mais estruturados, com papéis bem definidos e uma ordem hierárquica clara. Aprendeu desde cedo a jamais contestar seus “superiores”.
Esse comportamento veio da educação recebida de seus pais – mais precisamente de seu pai, que exerceu forte influência em seu estilo de liderança. O pai do executivo foi um trabalhador honesto e extremamente fiel à empresa em que trabalhou durante quarenta anos. Sempre que percebia o filho em conflito com seus chefes, aconselhava: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”.
Em nossa conversa, o executivo afirmou que não era esse tipo de líder, que era mais aberto, mais acessível que seus antigos chefes. Falava em tom de desabafo, pois tinha certo “trauma” de um antigo chefe que havia anu- lado sua opinião em uma reunião de forma humilhante. Isso me lembrou outra frase muito usada por chefes nas organizações: “Você não é pago para pensar e sim para trabalhar”.
Seus comentários, porém, demonstravam claramente um conflito pessoal, pois se avaliava como um líder moderno, mas não achava correta sua forma de atuação. Entendia que precisava ser flexível e transparente com sua equipe, mas considerava estar dando uma liberdade excessiva e perdendo sua autoridade com isso. Os questionamentos dos subordinados apenas reforçavam essa sua impressão. Mas perguntas precisam ser mais bem entendidas, pois são uma característica marcante na Geração Y.
Primeiro, precisamos considerar que questionamento não é contestação ou desafio ao nosso conhecimento. Quando um jovem da Geração Y está questionando, raramente ele está duvidando do conhecimento de seus “superiores hierárquicos”, sejam pais, professores ou gestores.
Devemos lembrar que essa geração assumiu uma postura muito mais interativa na sua infância e se desenvolveu em um ambiente de constantes desafios, mesmo nos mais simples jogos de videogames. Para ela é muito importante interagir com o mundo que a cerca. Seus jovens buscam constantemente conexão com as coisas e as pessoas e, como não foram diretamente afetados pelos rígidos padrões disciplinares de seus pais, não desenvolveram premissas e preconceitos a respeito das hierarquias estabelecidas.
Eles consideram todo relacionamento um processo de integração, e de certa forma dão menos valor a cargos e posições sociais. Cresceram questionando seus pais a respeito de tudo e hoje questionam seus líderes nas escolas e nas empresas. Questionar é uma forma de se conectar!
Nossa postura diante disso deve ser mais clara e transparente. Devemos dar atenção verdadeira às questões que eles apresentam. Isso representa um desafio, principalmente para pessoas da Geração X, que desenvolveram uma postura competitiva e focada no trabalho e nos processos.
Os modelos de liderança adotados pelas empresas nos últimos trinta anos conduziram os gestores a focar apenas em processos e resultados. Os líderes foram pressionados, cobrados e preparados nessa direção. Da mesma forma, os pais se impuseram objetivos pessoais, focados nas mesmas dimensões. Suas carreiras e conquistas materiais foram mais privilegiadas e receberam maior atenção, tornando-os tolerantes em relação aos desejos e caprichos de seus filhos, mas omissos no estabelecimento de valores reais.
Poucos conseguem realmente dedicar um tempo nobre para entender a Geração Y e todas as suas singularidades.
Recentemente, ouvi um programa de rádio focado no público jovem. Os locutores faziam uma brincadeira de humor negro: convidaram uma jovem a ligar para seu pai durante o programa dizendo que estava grávida de um motoboy. A reação do pai foi absolutamente emocional; inicialmente, até tentou manter um diálogo, mas rapidamente perdeu a postura e iniciou uma série de agressões ao rapaz.
Quando a produção do programa percebeu que o homem poderia ter um problema de saúde, pediu à filha que entrasse na conversa e tentasse acalmá-lo. Ele só parou de falar depois que ela gritou “pai!” nove vezes seguidas e disse que tudo não passava de uma brincadeira. O pai desligou o telefone.
Muitas vezes esse tem sido o tipo de reação que a Geração Y recebe de seus gestores, de seus pais e de seus professores, que por terem mais experiência acreditam já conhecer o final de cada história e logo partem para a ação.
Inúmeras vezes, vi gestores dizendo que os jovens de hoje são arrogantes. Esse pensamento anula por completo a capacidade de ouvir o que eles têm a dizer até o final. Nitidamente, os jovens da Geração Y estão mudando muitas verdades que aprendemos em nossa juventude. Eles valorizam muito mais os relacionamentos, a conexão e a integração com as pessoas.Querem respostas diretas e claras, sem coisas subentendidas e obscuras. Exigem transparência de seus pais e de seus líderes e estão dispostos a lutar por seus sonhos.
Não devemos subestimar a capacidade desses jovens para entender todo o contexto; temos de tirar proveito de suas impressionantes habilidades de trabalhar em múltiplas dimensões simultaneamente e apresentar-lhes todas as informações e possibilidades, assim como as consequências das escolhas que vierem a fazer. Isso representará um desafio mútuo entre as gerações, mas permitirá uma aproximação muito maior do que a que está ocorrendo hoje.
Não acredito que os jovens dessa geração sejam infalíveis; pelo contrário, eles são extremamente vulneráveis, pois não possuem referências suficientes para agir com todas as habilidades que conseguem obter em curto período de tempo. Também não se trata de considerar os constantes questionamentos como uma batalha, uma “luta de espadas”. Quando eles nos questionam, não devemos responder com outra pergunta. Pergunte somente se não houver mesmo entendido a questão apresentada.
E, principalmente, não especule sobre a vida que o jovem está levando, tendo como base apenas as atitudes que consegue observar.
Diariamente, os noticiários nos apresentam roteiros impressionantes de acontecimentos envolvendo jovens. Grande parte das notícias refere-se a atitudes irresponsáveis e incoerentes. Mencionam acidentes, rachas, festas radicais, brigas e muitas coisas que sugerem uma imagem de completo desapego à vida por parte do jovem.
No final do último ano foi divulgada uma notícia inquietante sobre uma jovem que faleceu em uma festa de formatura realizada em um cruzeiro em alto-mar. Imediatamente, a notícia tornou-se mais relevante nos noticiários, que passaram a entrevistar psicólogos e educadores – que sempre têm uma teoria sobre a falta de propósitos desses jovens. Os colegas da jovem rapidamente defendiam o estilo de vida, dizendo ter sido uma fatalidade, pois ela era uma pessoa centrada e completamente feliz. Enquanto isso, os pais da moça sofriam tentando entender o que ha- via acontecido.
Devemos abandonar nossa postura arrogante e parar de fazer suposições. Precisamos reconstruir rapidamente as conexões que estão rompidas com nossos filhos, com nossos funcionários, com nossos alunos.
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