Por João Antônio Johas Leão Em Crescendo na Fé Atualizada em 03 ABR 2019 - 14H54

Deus não precisa que nos propagandeemos

Não é segredo para ninguém que, muitas vezes, as redes sociais são utilizadas para passar uma imagem que não é a imagem real, mas a ideal, de alguém. Em muitos lugares podemos ler sobre como é difícil ver alguma postagem na qual as pessoas não estejam alegres, com os amigos e com um sorriso no rosto. Fatos como o da garota que resolveu falar a verdade na sua conta do Instagram e o da outra garota que acabou tirando a própria vida sem que ninguém percebesse que algo a estava incomodando nos questionam sobre a divisão que pode existir entre a vida que propagandeamos nas redes sociais e a vida real que levamos por trás delas. 

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É um fato que ninguém espera que subamos fotos de momentos tristes nas redes sociais. O questionamento é simplesmente pela disparidade que pode haver entre a experiência real de vida pela qual estamos passando e aquela que transmitimos aos demais. Em outro nível, acontece também quando não conseguimos abrir o coração com ninguém e o nosso mundo interior, com todas as suas riquezas, mas também falhas e coisas por reconciliar, ficam presas por trás das máscaras que usamos para parecermos normais, para que a sociedade nos aceite. Isso não é saudável e acaba se tornando uma bomba relógio, que a qualquer momento explodirá. Mas porque isso acontece? 

É que no mundo só se aceitam os perfeitos, os mais capazes, os mais inteligentes, os mais bonitos. Os demais são descartados. A nossa sociedade aprendeu a não descartar descaradamente, porque “pega mal”, mas não é preciso ser muito perspicaz para perceber que existem pessoas e existem “as” pessoas. E como nenhum de nós quer fazer parte do grupo dos descartáveis, precisamos parecer valiosos aos olhos do mundo. E isso é extremamente exigente. Não se pode cometer nenhuma falha, ainda mais nos tempos de hoje, onde toda a informação corre a uma velocidade incrível (e as fofocas também). Uma foto mal postada, um pecado descoberto, qualquer imperfeição pode ser fatal. 

A questão é: não somos perfeitos.

Ninguém é perfeito! E isso se diz por aí, mas entre o que se diz e o que realmente se espera de alguém no mundo, parece haver também uma distância intransponível humanamente falando. E é por isso que Jesus diz com tanta eloquência: “Eu não vim pelos saudáveis, mas pelos que estão doentes”. A Igreja, fiel a Jesus, sabe que ninguém é perfeito e acolhe os pecadores, nos acolhe a todos e a cada um individualmente. A visão da Igreja é totalmente oposta à do mundo nesse sentido. Ela não espera de nós que sejamos imaculados, pelo contrário, justamente porque sabe que não o somos, nos acolhe e nos concede a força (que é a Graça de Deus) para levantar das nossas caídas e buscar ser cada vez melhor. 

 

O mundo exige uma perfeição impossível e porque não conhecemos o chamado de Deus a uma perfeição diferente, passamos a vida tentando alcançar esses padrões.

Na Igreja não precisamos fazer propaganda de nossa suposta vida perfeita, porque se somos perfeitos, não precisamos da Igreja, não precisamos de Deus. Ou, pelo menos, imagino que deveria ser assim. O mundo nos exige uma perfeição impossível de ser alcançada e porque não conhecemos o chamado de Deus a uma perfeição diferente, passamos muitas vezes a vida inteira tentando alcançar os padrões inalcançáveis de tal perfeição. E quando fica evidente que não conseguiremos chegar lá, talvez seja nesse momento que se deem as histórias mencionadas no começo. 

No fundo, toda a questão está em perguntar-nos se a propaganda que estaríamos fazendo de nós mesmos para os outros não está escondendo algo por baixo que eu não quero olhar, que prefiro não dialogar com ninguém. E lembrar que se no mundo esses nossos defeitos, falhas e pecados são inaceitáveis, foi exatamente por eles que Jesus, a quem esperamos nesse advento, veio ao mundo e morreu na Cruz. Ele nos conhece melhor do que ninguém e não ama a imagem perfeita que muitas vezes nos fazemos de nós mesmos, mas ama justamente ao pecador que se acolhe a sua infinita misericórdia.


Escrito por
João Antonio Johas Leão (Arquivo pessoal)
João Antônio Johas Leão

Licenciado em filosofia, mestre em direito e pedagogo em formação. Pós-graduado em antropologia cristã e entusiasta de pensar em que significa ser cristão hoje.

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