Por Anna Laura Barreto Em Crescendo na Fé

Em entrevista, Ir. Gilberto Cunha conta sobre vida religiosa

Muito se especula sobre a vida dos leigos consagrados, padres e irmãos. E as dúvidas não são só por parte dos curiosos, não – existem muitos jovens interessados em seguir a vida vocacional.
Por isso, entrevistamos o irmão Gilberto Cunha, leigo consagrado da comunidade Sodalício de Vida Cristã, para nos explicar como é a vida de quem aceita o chamado divino e segue a vocação religiosa.

Irmão Gilberto tem 37 anos e é natural de São Gonçalo – RJ. Hoje, ele vive em missão em Aparecida-SP.

JM – Gilberto, quais as diferenças entre leigos consagrados, irmãos e padres?

Ir. Gilberto – A diferença poderia se dizer que tem relação com o caráter da missão. Os padres desenvolvem uma série de atividades, mas a sua principal é ser custódio do sagrado, especialmente da Eucaristia. Os leigos consagrados e os irmãos realizam atividades apostólicas que buscam complementar o serviço apostólico do sacerdote. A diferença fundamental entre os irmãos e os leigos consagrados está na forma com que fazem a sua consagração e nas características da sua missão.

Os irmãos professam votos públicos religiosos e os leigos consagrados não. Com os votos públicos, os irmãos ou padres religiosos querem evidenciar uma vida separada do mundo e totalmente consagrada a Deus, onde busca manifestar essa presença de Cristo ao mundo. Alguns institutos inclusive vivem uma vida de silêncio e oração, como é o caso das congregações de vida contemplativa, que realizam uma importante tarefa na missão da Igreja. 

A figura do leigo consagrado surgiu a partir do Concílio Vaticano II, onde se buscava uma Igreja mais inserida no mundo atual, dando maior protagonismo ao leigo. A partir dessa onda de renovação surgiram vários carismas no interior da Igreja. Surgiram movimentos e novas comunidades que buscavam estar mais inseridas no mundo, para assim transformar todas as realidades à luz do Evangelho. Buscava-se com isso uma Igreja mais próxima ao povo, uma mãe que cuida dos seus filhos.

Dentre os leigos, Deus chamou vários que queriam seguir mais de perto a Cristo, com uma vida consagrada a Ele, estando plenamente disponíveis para anunciar a Cristo em todo o momento. Homens e mulheres que queriam viver os conselhos evangélicos (obediência, celibato e pobreza), não se casando para ao invés de ter um coração dedicado apenas à sua família, possam ter um coração que possa amar a todos, em especial aos que mais necessitam. Como os sacerdotes, e os religiosos e os leigos consagrados buscam viver como Cristo, com uma vida totalmente dedicada à obra do Pai.

Uma das comunidades que pertencem os leigos consagrados são as Sociedades de Vida Apostólica, onde a sua forma de vida está regida pelas Constituições próprias de cada sociedade. A minha chama-se Sodalício de Vida Cristã, uma Sociedade de Vida Apostólica laical de Direito Pontifício (aprovado pela Santa Sé).

Eu desempenho um apostolado muito diversificado com jovens, famílias, pobres, nas comunicações, dentre outras tarefas. 

JM – Como é a rotina de um leigo consagrado?

Ir. Gilberto – Poderia se dizer que é como uma família. Moramos vários em uma comunidade, onde temos alguns momentos de oração, partilha e formação. Todos os, dias de manhã, rezamos juntos e tomamos café. Depois, cada um parte para as suas atividades ao longo do dia. Temos algumas reuniões comunitárias, retiros, passeios, etc.  Também organizamos juntos várias iniciativas apostólicas. Poderia se dizer que um elemento fundamental na minha vida é a comunidade, onde os meus irmãos são meus amigos, apoiam- me e me ajudam a ser cada dia mais semelhante a Cristo. Buscamos juntos transformar o mundo.

No meu caso, trabalho durante o dia no Santuário e à tarde e noite realizo diversas tarefas de evangelização. Tenho alguns grupos de jovens, grupos de crisma, apoio em algumas paróquias de Aparecida, organizo algumas atividades, faço páginas católicas, realizo bastante apostolado através da Internet, dentre outras tarefas…

Mas algo fundamental que está na minha rotina diária é dedicar um tempo para a oração pessoal. Normalmente rezo pelo menos uma hora e meia. Considero que a oração é fundamental na vida do consagrado, onde podemos encontrar o “combustível” para realizar as diversas tarefas e, constantemente, vermos por onde Deus quer que caminhemos.  Como posso falar de Cristo, dizer que ele é a resposta, se eu mesmo não sou seu amigo íntimo, não dialogo com Ele?

JM –  O que deve fazer o jovem que sente o chamado vocacional?

Ir. Gilberto – Penso que ele deve responder, buscar discernir se esse é o Plano que Deus tem para ele. Não ter medo de consagrar a vida a Deus. Hoje em dia fala-se muito em crise de vocações à vida consagrada. Eu penso que há na verdade uma crise de resposta. Deus continua chamando, mas as pessoas muitas vezes não ouvem, ou tem medo do “que poderia perder”. Isso tem muitas vezes influência do mundo, que apresenta a vida consagrada como algo ruim, que tirará a liberdade da pessoa. Pelo contrário, responder a vocação é algo pleno, algo de nos faz livres, nos faz felizes. A vocação, independente de qual seja, é o caminho pelo qual Deus escolheu para que eu seja feliz. Então por que não responder e ser feliz?

Algo que eu aprendi é que, se Deus me chamou, com certeza Ele me dará a graça para responder e ser fiel, mesmo nas dificuldades, que fazem parte da vida. Eu posso dizer que sou muito feliz na vocação que Deus me chamou e não me arrependo de ter dado o meu sim.

JM –  Qual o tempo de formação de um leigo consagrado?

Ir. Gilberto – Isso depende de cada comunidade. No caso da minha há uma formação inicial de quatro anos onde se aprofunda bastante na espiritualidade da comunidade, na fé da Igreja e se dá bases para o que está começando a vida consagrada.  Busca-se também uma formação humana integral (base humana, filosófica, cultural, etc). No final do terceiro ano, aquele que esteve no centro de formação pode ser enviado em missão a qualquer país onde nossa comunidade está presente. A etapa de formação inicial termina quando se faz a profissão temporal. A partir desse momento, passa-se ao que chamamos de formação permanente, onde a pessoa busca constantemente se atualizar, estando especialmente atento ao que diz a Igreja, a comunidade e a cultura. Muitos buscam alguma especialização, para melhor atender às exigências da missão.

JM –  Como é feita a escolha de uma Congregação?

Ir. Gilberto – Penso que é Deus que escolhe. Ele, quando me cria coloca em mim características para responder uma vocação concreta. Essas características também vão ficando marcadas na minha história. Então, acho que o mais prático é conhecer os carismas e ver qual responde mais aos meus anseios, às minhas características pessoais. No meu caso, o trabalho com jovens, com pobres, o amor a Maria, é algo que sempre me marcou. Ao conhecer a minha Congregação, eu me identifiquei com o carisma. Cada um tem que encontrar o seu caminho.

JM –  Que dicas você daria a um jovem que quer seguir a vida religiosa?

Ir. Gilberto – A dica que eu daria é a mesma que nos deu os últimos Papas, João Paulo II e Bento XVI: “queridos jovens: não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, ele dá tudo. Quem se doa por Ele, recebe o cêntuplo. Sim, abri de par em par as portas a Cristo e encontrareis a vida verdadeira.

Também fica a dica do Papa Francisco. Deixo um trecho do encontro que ele teve com os voluntários da JMJ:

“O Senhor chama alguns ao sacerdócio, a se doar a Ele de modo mais total, para amar a todos com o coração do Bom Pastor. A outros, chama para servir os demais na vida religiosa: nos mosteiros, dedicando-se à oração pelo bem do mundo, nos vários setores do apostolado, gastando-se por todos, especialmente os mais necessitados.  Nunca me esquecerei daquele 21 de setembro – eu tinha 17 anos – quando, depois de passar pela igreja de San José de Florespara me confessar, senti pela primeira vez que Deus me chamava. Não tenham medo daquilo que Deus lhes pede! Vale a pena dizer “sim” a Deus. N’Ele está a alegria!”

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