Com a celebração de Domingo de Ramos, damos início à semana mais importante de toda Liturgia da Igreja. Vimos Jesus entrando em Jerusalém e sendo aclamado por uma multidão.
A maravilha de nossa Liturgia é que ela nos transporta para uma realidade na qual conseguimos nos situar no que Deus quer mostrar e vivenciar com certa proximidade à vida de Jesus. Por isto, estávamos lá, ontem, balançando ramos, gritando “Bendito é Aquele que vem”, e saudando o Rei.
Nós já entramos em Jerusalém junto com o Cristo. O que vem depois nós já sabemos, mas, e então, como podemos vivenciar de forma diferente esta história que tem uma continuação dolorosa?
Após a entrada de Jesus em Jerusalém começa a sua Via Dolorosa que, mesmo sabendo de tudo o que iria acontecer, se deixou levar ao ponto de sua crucificação. Sem tirar os olhos para a Paixão de Cristo, gostaria de te convidar para observar aquela multidão. Lá estamos eu e você, junto com muitas outras pessoas. Saudamos e bendizemos a entrada de Jesus, mas três dias depois estaremos gritando palavras de condenação. Nossos gritos levaram Jesus à cruz e soltaram o bandido. Jesus ressuscitou no terceiro dia porque era plano de Deus que assim fosse, e nossos gritos de traidores foram silenciados pela misericórdia de Deus. Este é o sentimento que passa em meu coração todos os anos quando vou para a Igreja celebrar a Semana Santa. Se assim você se sente também, então compartilhando desta mesma sensação.
Leia Mais5 fatos que não te contaram sobre o Domingo de RamosO que devemos então parar para observar é que a história não se repete somente na liturgia celebrada por nós na Igreja. É muito fácil se emocionar nos templos com as narrações da Paixão de Nosso Senhor, com os cânticos executados pelos ministérios de música que nos tocam a alma. A Paixão de Cristo deve nos tocar para além das paredes das igrejas. Cantamos nas celebrações “prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão”, precisamos perceber que tudo o que Jesus fez, foi por amor a nós, sem pensar em si.
Acabamos particularizando nossa participação na história da Salvação em uma relação impenetrável entre o EU e DEUS. Como seria se Jesus, como homem, pensasse em sua salvação somente como uma relação fechada com Deus? Certamente o pedido de afastamento do cálice teria sido atendido e, por não precisar de ninguém para estar em proximidade com o Pai, não teria se esforçado para alcançar mais ninguém com a misericórdia divina.
Estou tentando usar de uma abordagem bem figurativa para esclarecer algumas coisas, tendo em vista que jamais Jesus faria algo tão egoísta. Mas com isso quero falar sobre nosso egocentrismo. Só estamos perto daquilo que nos convém. Vou repetir:
Nós, ontem, entramos em Jerusalém, com Jesus, gritamos, e pulávamos de alegria porque acreditávamos que Ele era o Filho de Davi. Mas bastou vermos diante de autoridades sendo acusado por crimes para mudarmos de opinião. Já não bendizemos, e sim amaldiçoamos. Isto não acontece todos os dias?
Nossa mania de achar que nossos interesses estão à frente de tudo nos tiram do caminho certo. Aquele caminho de aclamação que fizemos na entrada de Jerusalém... O que vem depois desta entrada triunfante é o que vai determinar que tipo de cristãos nós somos. Aqueles de oba-oba ou aqueles que resistem e lutam pelos seus interesses?
Muitos Cristos são crucificados até hoje, muitas pessoas que recebem nosso grito de condenação. Jesus foi nosso maior exemplo de injustiçado, nós dizemos que o seguimos, mas nós continuamos a multiplicar a causa de sua crucificação para nossos irmãos. Nesta Semana Santa, nós sabemos como a história se dará. Mas e na nossa vida, que deveria ser santa também, qual continuação nós vamos querer que aconteça? Vamos ainda continuar a crucificar o Cristo na pessoa daqueles que estão ao nosso lado?
É preciso que a história da Paixão de Cristo nos ilumine para reescrevermos novas histórias, sem bofetões e cusparadas, sem derramamento de sangue. Vivemos tempos muito difíceis de guerra e ódio, de crucificação. Nós já entramos em Jerusalém com louvores! Não deixemos que a história se repita em nosso dia a dia. Que a história de Jesus nos sirva sempre de exemplo para não deixar que mais pessoas padeçam pela maldade que existe no coração do homem.
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