Essa sensação parece ser muito comum. Olhar para o lado e experimentar que a vida de todos ao nosso redor está realmente melhor encaminhada do que a nossa. As supostas seguranças que vemos nas outras pessoas, como pode ser um trabalho estável, uma família se formando ou uma casa própria, não enxergamos em um futuro próximo na nossa própria vida.
Pode ser que demos tanta importância a essa situação, que a angústia se mostra forte, o temor a “não dar certo” parece ser o centro das nossas vidas. E é desde esse ponto que podemos começar a desenrolar esse novelo que parece cheio de nós.
A nossa fé não nos tira do mundo, mas certamente ilumina a nossa maneira de viver nele. As dificuldades são reais e, muitas vezes, os outros não passam pelos mesmos contratempos que nós passamos. Mas, é fundamental que no meio de tudo isso não percamos de vista que nosso Deus é um Deus providente. Isso quer dizer que a história de um modo geral, e a nossa história em particular, está, no fim das contas, nas suas mãos.
“Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus” (Rm 8, 26-28)
É preciso muita coragem para viver realmente de acordo com essas palavras!
Outro exercício que pode ser feito nesses momentos de crise pode ser o de perceber que não conhecemos, de fato, a vida interior das outras pessoas. A nossa própria vida interior pode ser um mistério para nós e isso nos traz grande sofrimento. Não conseguimos conciliar as experiências pelas quais passamos com tudo o que está acontecendo ao nosso redor. Os conflitos interiores podem aparecer, e de fato estão presentes, mesmo que externamente tudo vá bem.
Por isso, ao olhar para os outros, é preciso pensar que não conhecemos seu mundo interior, não conhecemos as lutas que eles estão travando internamente. Pode ser que por fora a vida pareça resolvida, mas internamente a situação pode ser bem outra. Mas saber que o outro pode estar em crise (mesmo sem parecer), não resolve a nossa própria crise.
Mas esse conhecimento ilumina, de certo modo, as causas da nossa inquietação. Por que será que sofremos ao ver que outros possuem o que nós gostaríamos de possuir? E não estou falando de coisas pecaminosas, mas do que enumeramos um pouco mais acima. Ele possui um emprego, eu não. Ele possui uma casa, eu não. Ele possui uma família, eu não. Todas essas coisas são boas e queridas por Deus. Então por que o outro tem e eu não?
Honestamente, não posso encontrar uma resposta universal para a pergunta. Isso porque se trata sempre de uma relação pessoal com Deus, na qual a liberdade divina atua contando com a cooperação da liberdade humana. Nessa relação se dão acertos e erros (sempre da nossa parte), mas Deus sempre está presente para tirar do mal algo bom. A verdade é que não conhecemos realmente os desígnios de Deus e porque Ele permite muita coisa. Mas se confiamos que é um Deus de amor, sabemos que as coisas estão sendo encaminhadas para que se cumpra sua vontade.
A aflição aparece sempre que nos esquecemos de Deus. Nesse mundo “Vamos como cegos apalpando o muro, caminhamos às apalpadelas como aqueles que perderam a vista” (Is 59, 10). Se temos consciência disso, nos aferraremos mais a Deus e à sua misericórdia. E muitas vezes, os que estão muito seguros de si mesmos, com a vida já “garantida”, escondem grandes vazios interiores que podem até estar, de certo modo, impermeáveis a Deus.
Por isso, olhemos para o nosso interior e coloquemos a nossa segurança nEle que é o único que verdadeiramente a pode dar. E assim caminhemos seguros de que temos um Pai providente, que olha por nós e que, com a nossa cooperação, nos levará pelos caminhos de seu plano.
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