Perguntar-se se o cristianismo é uma religião pode soar meio estranho à primeira vista. Poderíamos simplesmente responder: “Claro que sim. Uma das maiores religiões do mundo, com um dos maiores números de fiéis, se levamos em consideração todas as denominações cristãs”. E é verdade, mas essa pergunta nos abre espaço para refletir sobre algo que o Papa Bento XVI colocou de maneira muito simples em sua primeira Encíclica, Deus Caritas est, que no centro do cristianismo não estão as regras morais, mas um encontro pessoal com o amor de Deus.
Logo no começo da carta, o Papa escrevia:
“Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo”.
Essa pessoa é Jesus, Deus que se encarna em nosso mundo, Filho de uma humilde donzela chamada Maria. É sumamente interessante pensar no cristianismo dessa maneira, porque nos faz aprofundar no que realmente significa ser cristão.
De fato, quando nos encontramos com qualquer pessoa e nos deixamos tocar por ela, nossa vida muda. Nossos pais talvez sejam as primeiras pessoas que mudam nossa vida de forma significativa. Mas também podemos pensar nos professores, nos melhores amigos, também nas pessoas que passam por nossa vida e deixam marcas, positivas e negativas, mas que não permanecem muito tempo. Como pessoas, estamos sempre abertos ao encontro com os demais e esses encontros que vão se dando, de alguma forma, vão fazendo parte da nossa história.
Com esses exemplos, já se nota que existem encontros mais e menos profundos ou marcantes. Ninguém colocaria em dúvida que a relação com o pai é mais marcante do que a relação com um colega de colégio com o qual não se fala muito. Agora, de todas os encontros possíveis, qual seria o mais fundamental e decisivo? Se lembramos que Deus Pai, Filho e Espírito Santo é, respectivamente, a Primeira, a Segunda e a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, precisamos aceitar que a relação com Deus é a mais fundamental de todas.
E o cristianismo é, fundamentalmente, essa relação que se dá do homem com Deus. Relação essa que se dá por iniciativa do próprio Deus, já que não seria possível ao homem ferido pelo pecado chegar à plena comunhão por si mesmo. Deus sai, então, ao nosso encontro enviando o seu Filho único para nos salvar. Esse é o acontecimento a que fazia referência o Papa Bento XVI no trecho citado de sua encíclica. Acontecimento que foi narrado pelo Evangelista João com as seguintes palavras: “Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único para que todo o que n'Ele crer (...) tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).
É claro que esse encontro fundamental com Deus tem suas consequências na vida prática.
Percebemos o amor de Deus e o chamado a uma vida santa. Percebemos que muitas vezes pecamos e que precisamos de conversão. Mas se mudamos de vida, não é por que queremos seguir um conjunto de regras e de normas frias e sem sentido, mas porque queremos viver como Filhos amados de Deus que somos. Queremos que esse encontro com Jesus transforme toda nossa vida. E nesse sentido, podemos dizer que o cristianismo é mais uma relação com Deus do que uma religião, ainda que os dois conceitos não se excluam mutuamente.
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