Os estudiosos relatam como, no início do Cristianismo, foi mais difícil defender a verdadeira humanidade de Cristo que sua divindade. Quando pensamos na vida espiritual, para alguns, uma primeira impressão é que ela supõe algum tipo de afastamento do que aparentemente não seria espiritual.
O mistério do Natal nos coloca perante um fato incrível: Deus se fez homem. O Invisível, o Deus escondido, se faz um pequeno menino nos braços de Maria e José (cf. Lc 2,16).
Alguns de nós temos nos acostumado com tal fato. Mas constitui um verdadeiro escândalo: "Naquele Menino, necessitado de tudo como as crianças, aquilo que Deus é: eternidade, força, santidade, vida e alegria, une-se ao que nós somos: debilidade, pecado, sofrimento e morte" (Bento XVI, Audiência Geral, 4 de janeiro de 2012).
Uma expressão concreta disso tudo é a experiência da família. Sabemos, por princípio, que ela constitui uma realidade bela. Ao mesmo tempo, todos conhecemos os desafios da realidade familiar. Algumas famílias são grandes. Outras, pequenas. Algumas, muito complexas ou cheias de tradições. Outras, muito simples ou singelas. Alguns gostam da família que tem... outros, nem tanto. Assim, grandes ou pequenas, maravilhosas ou aparentemente insuportáveis, feridas e reconciliadas, as famílias são o lugar onde aprendemos a perceber que Deus é Pai, onde aprendemos a sentir que a Igreja é Mãe, onde nos esbarramos por primeiro com a realidade da fraternidade.
O Natal expressa de forma excepcional que Jesus realmente é "Deus conosco" (Mt 1,23). Aliás, é impressionante a proximidade de Jesus com nossa realidade concreta. Nada do humano é alheio a Ele. Ele nasce numa família, é conhecido pelos primeiros visitantes no presépio, participa das tradições das famílias com as quais cresceu.
Na Liturgia é celebrada esta realidade, por exemplo, na Festa da Sagrada Família no domingo da Oitava de Natal. Neste dia a Igreja reza: "Ó Deus de bondade, que nos destes a Sagrada Família como exemplo, concedei-nos imitar em nossos lares as suas virtudes para que, unidos pelos laços do amor, possamos chegar um dia às alegrias da vossa casa" (Missal Romano, oração do dia na Festa da Sagrada Família).
No coração da festa está inscrito o desejo de voltar à casa, de sermos recebidos pelo abraço do Pai. A família é verdadeira escola onde aprendemos a fazer esse caminho. Natal para além de meras reuniões familiares, ou matar saudades dos mais distantes, ou gozar juntos – para além disso, Natal é uma grande oportunidade de conformar a Familia Dei, reunidos em torno de Cristo, presididos por Maria e José.
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