O disco de vinil pode parecer um assunto totalmente old ou só de interesse pra galera cult. Mas, acontece que ele foi uma revolução na história da música e na maneira com que passamos a consumir música.
E isso tem tudo a ver com a história da música católica e em como chegamos hoje às plataformas digitais.
Pra batermos um papo bacana, convidamos uma sumidade no assunto: Eraldo Mattos, baixista do Anjos de Resgate e fundador de umas das primeiras gravadora católicas do Brasil, a Codimuc.
JM – Quando você fundou a gravadora ainda existia o vinil, mas o CD estava começando a surgir. Como foi esse momento de transição? |
ERALDO MATTOS – Foi um período bem diferente, porque fazer um vinil era muito difícil. Em termos de música católica, existiam poucas gravadoras (no máximo três) e que faziam poucos vinis. Não existia um mercado. Pouco antes disso, a Paulinas tinha uma equipe de freiras que iam de porta em porta vender disco.
Então, nós pegamos uma transição em que o CD era uma coisa muito de elite. Quem gravava CD, nessa época, era quem tinha muito dinheiro. A diferença de preço de imprimir mil discos de vinis era muito grande em relação a gravar mil CDs.
Então, nós pegamos uma época realmente de transição e, logo após o começo da Codimuc, se fixou a ideia do CD.
JM – O Disco de Vinil e o CD foram responsáveis pela popularização da música. Agora, com as plataformas digitais, temos acesso a músicas do mundo todo. O que você acha dessa transformação? |
EM – Eu já vi algumas mídias acabarem. Já vi o gravador de rolo acabar, já vi a fita de tape, de oito tracks acabar, eu vi o próprio CD, o MD, várias mídias passaram. Agora, o entretenimento nunca passou. Você sai, a música está tocando e ela é parte da sua vida.
Eu lembro quando, acho que em 1994, 97% da juventude ouvia música por mais de 80% do período do dia em que estava acordada. A música faz parte principalmente da juventude. A mídia pode mudar, mas o entretenimento nunca vai mudar.
Acho que quem mais perdeu com essa transformação foram as músicas católica e evangélica.
As grandes gravadoras não tinham ideia de que a música se transformaria numa coisa virtual. Todo mundo imaginava que a música era um processo que tinha que se fixar, fazer uma matriz, disso entrava o processo industrial, até chegar ao consumidor.
Hoje não, eu gravo uma música em casa. Nesse mesmo instante, alguém no Polo Norte pode ouvir minha música. Então mudou toda a maneira de fazer isso.
JM- Por que a música católica foi quem mais perdeu? |
EM – Toda essa evolução foi muito rápida e quem estava nesse processo da música católica não soube enxergar a transformação. Tanto é que quem vende ainda mais CDs na plataforma física é o segmento religioso.
Eu acho que principalmente a música católica, enquanto não for una, não vai progredir na plataforma digital.
E outra coisa: a música evangélica é identificada por cantores, compositores e músicos; a música católica é identificada pelo segmento religioso. Não é um movimento de leigos. A música católica é exclusivamente católica. Quem é católico? É o bispo, o padre, o papa e o leigo. Então, no fim da linha está o leigo. O padre que não sabe promover o leigo. Ele vai ser uma ilha dentro desse segmento da plataforma digital.
JM – Como você vê a trajetória da música católica nas últimas décadas? |
EM – Existe um segmento de cântico litúrgico para celebrações, que é um canto litúrgico católico, e existe um canto feito para evangelizar. Há uns 30 anos, a gente começava a falar disso: música católica para dentro da Igreja e música católica para fora da Igreja. São coisas distintas.
Eu acho que, embora a gente não tenha conseguido definir o que é pra dentro e o que é para fora, nós estamos crescendo. Acho que falta um pouco mais de luz para o público. A música católica não é de luz para o palco, como dizia padre Zezinho. A luz é para o povo. Então o cântico católico não é para tornar um astro. Nós não queremos um padre pop star.
“Queremos um público catequizado que louve a Deus e que sabe engrandecer a Deus com tudo isso e que cresça e que seja uma nação com o pensamento católico.”
Eraldo Mattos, baixista do Anjos de Resgate
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