Neste mês de setembro, a Igreja celebra a festa de São Mateus, apóstolo de Cristo e o autor do primeiro Evangelho. O relato das Escrituras sobre o chamado de Mateus é breve, mas profundamente transformador. Ele era um cobrador de impostos, uma profissão muitas vezes associada à corrupção e ao desprezo na sociedade judaica. E, no entanto, Jesus, com Seu olhar cheio de misericórdia, aproximou-se de Mateus e disse-lhe apenas duas palavras: “Segue-me” (Mt 9,9). Sem hesitar, Mateus se levantou e seguiu o Mestre, deixando tudo para trás.
Mateus não ofereceu desculpas, não pediu tempo para se preparar ou para resolver suas pendências. Ele simplesmente levantou-se e seguiu Jesus. Essa resposta imediata ao chamado do Senhor nos coloca diante de uma reflexão essencial: Quantas vezes preferimos nos apegar às seguranças terrenas e nos resistimos a seguir a Cristo de maneira plena?
O Papa Bento XVI, refletindo sobre o chamado de Mateus, destacou que o publicano é o exemplo de alguém que, ao encontrar Cristo, experimenta uma transformação total. Ele afirmou:
“Mateus, sentado no banco de arrecadação de impostos, estava apegado ao que tinha, mas ao encontrar Jesus, percebeu que aquilo que tinha não era nada comparado ao que Cristo podia lhe dar. Jesus não possuía nada, mas oferecia tudo.” (Homilia, 21 de setembro de 2006).
De fato, a resposta de Mateus nos desafia a questionar os nossos próprios apegos e medos. Em sua homilia de abertura de pontificado, Bento XVI nos deixou uma mensagem profunda:
“Quem faz entrar Cristo, nada perde, nada absolutamente nada daquilo que torna a vida livre, bela e grande (…) Só nesta amizade experimentamos o que é belo e o que liberta. Assim, eu gostaria com grande força e convicção, partindo da experiência de uma longa vida pessoal, de vos dizer hoje, queridos jovens: não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, ele dá tudo. Quem se doa por Ele, recebe o cêntuplo. Sim, abri de par em par as portas a Cristo e encontrareis a vida verdadeira.” (Homilia, 24 de abril de 2005).
Em nosso caminho de fé, muitas vezes somos chamados a sair de nossas zonas de conforto. Esses chamados podem não ser tão claros quanto o de Mateus, mas se manifestam nas pequenas e grandes decisões que tomamos diariamente: perdoar uma ofensa, estender a mão a alguém em necessidade, dedicar mais tempo à oração ou renunciar a hábitos que nos afastam de Deus.
Como Mateus, também temos medos e inseguranças. Podemos nos perguntar: “Serei capaz de viver essa vida de renúncia e serviço?” Esses questionamentos são normais, mas não devemos deixar que eles nos paralisem. Jesus é o verdadeiro tesouro e a fonte da nossa segurança.
Ao celebrarmos a festa de São Mateus, somos convidados a refletir sobre o nosso próprio chamado. Cada um de nós, à sua maneira, é chamado a seguir Jesus. Talvez não sejamos chamados a deixar nosso trabalho ou nossa cidade, mas somos chamados a abandonar aquilo que nos afasta do amor de Cristo. Que a resposta firme e corajosa de São Mateus nos inspire a dizer “sim” a Jesus com o coração cheio de fé e confiança.
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