Quem não se lembra daquela bela história de São Filipe Néri e da mulher que não conseguia parar de fofocar? Certa vez, uma mulher chegou até São Filipe Néri, que já era padre, e confessou que não conseguia parar de falar da vida dos outros. O santo da alegria absolveu a pecadora e disse-lhe que não cometesse mais aquele pecado.
A mulher, insatisfeita, pedia uma penitência forte. Ouvindo a insistência da mulher, São Filipe Néri levou-a, num dia de muita ventania, ao telhado de uma casa bem alta. Tendo um saco de pena nas mãos, começou a lançar as penas ao vento. Eram tantas e tantas que se perdiam de vista. Todas desapareceram carregadas pelo vento. Então São Filipe Néri disse àquela mulher: “vá e recolha todas as penas e as ponha neste saco!”.
A mulher assustada respondeu que era impossível tal empreitada. Ai então é que vem a frase famosa que ressoa até hoje em nossos ouvidos: “assim é a fofoca – são palavras destrutivas que o vento carrega e jamais poderão ser recolhidas!”. O estrago sempre é irreparável, e é impossível detectar a fonte da destruição!
A palavra “fofoca” possivelmente tem a sua origem no banto, com raízes do quimbundo, da palavra “Fuka”, que significa: revirar, revolver, remexer. Mas é exatamente isso que acontece. Uma pessoa fala de outra pessoa, e esta fala para outra pessoa, e assim se vai virando e revirando, mexendo e remexendo, como se fosse uma gororoba requentada.
O interessante é que todas as palavras sinônimas de fofoca trazem esse sentido de destruição, de devastação ou de irreparabilidade. Por exemplo, o excêntrico verbo “fuxicar” ou “futricar” tem a sua raiz no francês – “Foutriquet”, e tem como significado alguém que é muito desprezível, reles, sem valor nenhum.
Aquele que fuxica perde o valor do seu caráter, da sua honra, e também leva a honra e o caráter dos outros para a lama. Também há outra palavra: “mexeriqueiro”, que vem da palavra latina “miscere” – mexer. É o mexedor, aquele que mexe nas coisas até conseguir descobrir algo; é o que confunde, é o que mescla.
Não existe fofoca boa, mas há níveis de maldade nos mexericos. O nível mais baixo de maldade é a fofoca que surge de um segredo. Um amigo confia em você, abrindo todo o íntimo do coração, e num resvalar de sua língua, todo o bairro saberá daquele segredo inquebrantável. Outro baixíssimo nível de maldade surge das fofocas nascidas da calúnia.
O latim nos deu a palavra “calumnia” que significa falsa acusação, enganação e tapeação – mentira sórdida. Alguém inventa algo sobre a sua pessoa, e isso se vai transmitindo como uma doença contagiosa. Geralmente, a calúnia nasce de um boato, do latim – “boatus”. Interessante que boato significa o mugido do boi. Se você for à zona rural um dia, preste atenção no mugido do gado: um berra, outro responde; um responde, outro berra. Assim é o boato humano: um inventa, outro passa para frente; um repassa, outro completa. Infinito estrago na vida humana.
É certo que o ser humano tem dificuldades enormes para controlar a língua. Como dizia São Tiago, com certa implacabilidade: “Porque toda a natureza, tanto de bestas feras como de aves, tanto de répteis como de animais do mar, se amansa e foi domada pelo ser humano; mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal”. (Tg 3, 7-8).
Bem, há muita verdade na fala do escritor bíblico, mas hoje sabemos que há possibilidades de se atingir o autocontrole. Afinal, Jesus sempre nos aconselhou a sermos simples como pombas e prudentes como serpentes, ou seja, que pudéssemos ser pessoas bondosas, que acolhem a todos ao nosso redor, mas que tomássemos muito cuidado com as nossas atitudes e palavras; é como se ele dissesse: filhinhos, pensem duas vezes antes de dizer isso ou de fazer aquilo!
Enfim, peçamos a Deus que nos livre das fofocas, pois elas destroem famílias, amizades de décadas e amores verdadeiros. Ela é o veneno que nos mata aos pouquinhos, pois abre feridas incuráveis em nosso corpo e nos corpos alheios.
Rezemos sempre com a música do Pe. Zezinho: “Senhor Jesus, dá-me a palavra certa, na hora certa e do jeito certo, e para a pessoa certa. Quem sabe o valor da palavra cuida bem do que diz. Quem sabe o que diz há de ser mais feliz!”. Pensemos!
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