Igreja

Os 60 anos da Encíclica 'Pacem in Terris'

No dia 11 de abril de 1963, uma Quinta-feira Santa, o Papa João XXIII publicou sua oitava Encíclica, intitulada Pacem in Terris, aberta às aspirações do mundo contemporâneo e decifrada pelo Santo Pontífice através dos "sinais dos tempos".

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

25 ABR 2023 - 09H17

Kiev.Victor/ Shutterstock

O Papa São João XXIII, conhecido como o “Papa Bom”, assumiu o pontificado da Igreja no auge da “Guerra Fria” entre as potências ocidentais e os países do bloco comunista, situação que ele criticou de maneira amável, mas muito enérgica.

No dia 25 de outubro de 1962, no auge da Crise dos Mísseis em Cuba, João XXIII dirigiu um forte apelo aos que, segundo ele, “têm a responsabilidade do poder" para que trabalhem em favor da paz mundial.

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Poucos meses antes de sua morte, que aconteceria em outubro de 1962, João XXIII dirigiu uma histórica mensagem radiofônica "Urbi et orbi" às embaixadas dos Estados Unidos e da extinta União Soviética, pedindo paz e que se freasse a crise dos Mísseis em Cuba, que estava colocando o mundo em risco de extinção porque, neste período delicado, o mundo esteve à beira de uma guerra nuclear.

Falando em francês, a língua da diplomacia internacional, citando um pensamento que já havia abordado em outro contexto, o papa chegou a suplicar pela paz.

Mesmo que não tenham surtido muito efeito junto aos líderes mundiais, suas palavras desencadearam um processo criativo muito rápido no interior da Igreja. Monsenhor Pietro Pavan, que era especialista em Doutrina Social da Igreja, e que mais tarde seria criado cardeal por João Paulo II, escreveu o primeiro rascunho da encíclica. João XXIII submeteu este escrito a várias revisões até que o texto ficou pronto, sendo apresentado no dia 11 de abril de 1963.

A partir daquele momento, João XXIII nunca mais deixou de falar sobre o documento, enfatizando certos aspectos que hoje, 60 anos depois, devem ser relidos e ouvidos devido à sua grande atualidade.

No dia 9 de abril, Terça-feira Santa, dois dias antes de sua assinatura, em seu breve discurso para a assinatura da encíclica, João XXIII indicou aquilo que seria uma das grandes novidades da encíclica Pacem em Terris, explicando o porquê de se dirigir não apenas aos crentes, mas a todos os homens e mulheres de boa vontade, como nunca tinha acontecido no passado.

“Com a mão na consciência, ouçam o grito angustiado que de toda parte da terra, das crianças inocentes aos idosos, dos indivíduos às comunidades, sobe ao Céu: Paz! Paz! Suplicamos a todos os governantes que não fiquem surdos a este grito de humanidade".

No dia 13 de abril, Domingo da Ressurreição, João XXIII transmitiu mais uma longa radiomensagem na qual teceu importantes considerações sobre a encíclica recém-promulgada. Na mensagem a palavra "paz" foi citada cerca de trinta vezes. O Papa definiu a Pacem in Terris como "Nosso presente de Páscoa do ano do Senhor 1963" e conclui com uma oração que foi como que um eco do seu primeiro apelo aos governantes.

O Papa João XXIII estava muito feliz, mas também muito provado pela doença e pelo cansaço. Seu último compromisso oficial aconteceu no dia 11 de maio, no Palácio do Governo onde foi receber do presidente italiano Antonio Segni o prêmio que lhe fora dado pela Fundação Balzan "pela humanidade, a paz e a fraternidade entre os povos".

Ele morreria na noite de 03 de junho de 1963, deixando mais este grande legado para a Igreja e para o mundo. Seu apelo e suas preces deram resultado, pois a crise dos Mísseis em Cuba foi sanada e o mundo pode respirar aliviado.

João XXIII foi beatificado por João Paulo II em 3 de setembro de 2000 e canonizado pelo Papa Francisco junto com o Papa Paulo VI, que o sucedeu no governo da Igreja.

O roteiro e os ecos da encíclica Pacem in Terris continuam sendo um desafio universal. Continua assim desde a primeira nota daquela curta radiomensagem de 1962, que hoje retorna como um eco aos muitos apelos que o Papa Francisco tem feito aos líderes da comunidade internacional, na era da guerra mundial em pedaços, em tantos lugares do mundo, especialmente na Ucrânia.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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Por Redação A12, em Igreja

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