Reformas na comunicação e liturgia da Igreja Católica completam 60 anos

Há seis décadas, a Igreja Católica passou por uma revolução silenciosa, mas profundamente significativa, que moldou sua identidade e interação com o mundo moderno. Os documentos conciliares Sacrosanctum Concilium e Inter Mirifica, promulgados pelo Concílio Vaticano II em 1963 e 1964, desempenharam papéis cruciais nessa transformação, remodelando a maneira como a Igreja Católica se posiciona e se comunica.

Sacrosanctum Concilium

Leia MaisMissa em Aparecida celebra nova tradução do Missal RomanoSaiba quais Santos brasileiros estão na nova tradução do Missal O Sacrosanctum Concilium, que trata da Sagrada Liturgia da Igreja, representou uma mudança na abordagem litúrgica, buscando uma participação mais ativa dos fiéis.

Antes do Concílio, a liturgia muitas vezes ocorria em latim e a participação dos leigos era limitada. O documento enfatizou o uso da língua de origem de cada país nas celebrações litúrgicas, tornando a liturgia mais acessível e compreensível para os fiéis. Essa mudança não apenas aproximou os devotos da liturgia, mas também refletiu um desejo de maior envolvimento da comunidade na vida da Igreja.

Para dom Hernaldo Pinto Farias, bispo de Bonfim (BA) e presidente da Comissão Episcopal para a Liturgia da CNBB, voltar a Sacrosanctum Concilium é perceber a riqueza da Igreja no campo litúrgico e o quanto ainda precisamos avançar. “Precisamos continuar com tais iniciativas para que outros temas e comemorações possam ser feitas e atinjam os mais diversos públicos da Igreja no Brasil”.

Inter Mirifica

Por sua vez, o Decreto Inter Mirifica, do Concílio Vaticano II, abordou a relação da Igreja com os meios de comunicação social. Em um mundo cada vez mais globalizado e tecnologicamente avançado, a Igreja reconheceu a necessidade de utilizar os meios de comunicação para difundir a mensagem do Evangelho. Este documento enfatizou a importância de uma presença ativa da Igreja nos meios de comunicação, incentivando os católicos a utilizarem essas ferramentas para promover valores éticos e morais.

A irmã Joana Puntel, jornalista, doutora em Ciências da Comunicação, membro do Grupo de Reflexão de Comunicação da CNBB (Grecom), explica que a importância do texto refere-se, sobretudo, ao fato da “aceitação oficial”, que pode ser entendida como uma “legitimação” para o uso dos meios de comunicação pela Igreja.

“Este se apresenta como uma espécie de ‘divisor de águas’, se considerarmos a trajetória anterior da relação Igreja-comunicação, desenvolvida em diferentes épocas e, praticamente sem diálogo com a cultura em muitas áreas, como a da comunicação”.

O prefeito do Dicastério para as Comunicações da Santa Sé, Paollo Ruffini, abordou os 60 anos do Inter Mirifica em recente conferência promovida por três universidades pontifícias. Ele destaca que o mundo da comunicação, mesmo o chamado “católico”, não está isento da poluição da desinformação e da divisão.

Diante desse contexto, “somos chamados a redescobrir a comunicação que edifica, que se conecta, que parte novamente do coração, da escuta do outro e da palavra que abençoa, que diz bem”.

Thiago Leon

No entanto, é importante reconhecer que essas transformações também geraram desafios. A adaptação a novas formas de liturgia e a interação com os meios de comunicação social trouxeram consigo questões teológicas, pastorais e culturais que a Igreja continua explorando e enfrentando. O diálogo contínuo sobre essas questões, principalmente em Sínodos, reflete a natureza dinâmica da Igreja, sempre em busca de renovar e aprimorar sua missão.

Ao celebrar os 60 anos desde a promulgação do Sacrosanctum Concilium e Inter Mirifica, é essencial reconhecer o impacto duradouro desses documentos na vida da Igreja Católica. Eles não apenas moldaram a liturgia e a comunicação, mas também proporcionaram uma base para a Igreja se envolver de maneira significativa com o mundo contemporâneo.

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Fonte: CNBB