Padre Dario Bossi é Superior Provincial dos Missionários combonianos e foi relator de um dos 12 círculos menores de padres sinodais que estiveram reunidos nos últimos dias da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica.
Desses relatórios, quatro foram apresentados em português. Os demais estão em italiano, espanhol, francês e inglês. Padre Dario Bossi era relator do círculo menor de língua italiana. O grupo foi representado também pelo bispo da Diocese de Cruzeiro do Sul, no Acre, Dom Flávio Giovenale.
Perspectivas
Segundo o padre, poucos no grupo conheciam diretamente a realidade Pan-Amazônica, mas por outro lado, representavam um olhar e uma participação da Igreja universal preocupada e envolvida com as questões amazônicas.
“Eu considero que o grupo avançou bastante. Apesar das diferenças naturais de visão e perspectiva, que vem de pertenças e experiências eclesiais diferentes, conseguimos um bom consenso sobre a maior parte dos assuntos”.
Segundo ele, o grupo teve a preocupação de não isolar a Amazônia em um contexto apenas de emergência climática, ambiental e social. “Sentimos que os padres sinodais de outras partes do mundo estão tão preocupados quanto nós com respeito de um posicionamento forte da Igreja, inclusive em total continuidade com a linha da ‘Laudato Sì’”.
O grupo destacou as maiores formas de violência, em particular, as questões do extrativismo predatório, da mineração, do Leia MaisBispo pede reconhecimento de mártires da Amazônia Divulgada síntese do texto dos grupos menores do Sínodo da Amazôniaagronegócio, da monocultura, de tudo aquilo que está devorando progressivamente a Amazônia, incluindo o desmatamento e os incêndios.
“Foi dito que a Igreja precisa estar do lado das comunidades que tentam defender os seus territórios, que são elas que nos pautam e nos inspiram em sua capacidade ancestral e muito avançada de saber conviver territórios utilizando-se dos bens da floresta sem destruí-la”.
“Toda vez que se celebra uma Eucaristia, se consagra a Criação, para que seja capaz de evoluir junto com Cristo, até a ressurreição final de todas as criaturas. Essa Teologia da Criação, uma comunhão com Cristo presente e vivo no meio de nós, é aquilo que nos permite UNIFICAR e não separar”.
Padre Dario afirmou que foi debatido no grupo sobre os modelos de economia alternativos que precisam ser consolidados e reforçados através de políticas públicas.
“Falamos de uma Economia de Francisco na Amazônia. Temos demonstrações de que quando é garantido o acesso à terra, agricultura, produção, comercialização em círculos locais, uma economia solidária, cooperativa, isso gera desenvolvimento com qualidade de vida”.
Segundo o relator do grupo, os direitos e a importância das comunidades celebrarem é uma chave de leitura importante.
“A Igreja tem que evoluir de uma pastoral de visita a uma pastoral de presença e oferecer o máximo possível de oportunidades para a comunidade local celebrar com seus próprios costumes, sua cultura, respeitando os critérios fundamentais do Rito Romano, mas também facilitando a enculturação da música, dos idiomas. Isso fortalece o protagonismo nos ministérios”.
Sobre este assunto, o grupo ficou com visões diferenciadas, mas em acordo de que a celebração da Eucaristia é um direito de todas as comunidades.
“A grande questão é como facilitar e permitir isso de uma forma frequente e estável. Vários no grupo sustentaram, com Leia MaisBispos renovam Pacto das Catacumbas pela Casa ComumSínodo Amazônico: A valiosa contribuição das mulheres embasamento nas Sagradas Escrituras e no Direito Canônico, a possibilidade de ordenação de pessoas maduras, casadas ou solteiras, que sejam daquele lugar, sejam pessoas que tenham feito uma caminhada, com um papel reconhecido pela comunidade para presidir a Eucaristia. Outros consideram que isso possa desqualificar o valor do celibato. Outros ainda comentam que para essa decisão seja necessário consultar toda Igreja de forma mais ampla”.
Por último, Padre Dario destacou que o papel da mulher precisa ser mais reconhecido e qualificado na Igreja.
“Falamos ainda na questão do diaconato feminino como um dos caminhos que possam permitir um reconhecimento institucional à mulher, coluna fundante da maior parte das comunidades da Amazônia”, finalizou.
Ouça a entrevista completa:
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