Opinião

A traição é um problema de caráter?

Escrito por Redação A12

02 FEV 2021 - 08H00 (Atualizada em 02 FEV 2021 - 09H06)

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A pergunta do nosso título certamente causa muitas polêmicas. Para alguns, quem trai não ama, e certamente é um “mau caráter". Para outros, a traição não está relacionada à questão de a pessoa ser boa ou não, mas a uma série de variáveis que envolvem a complexidade das relações.

Entretanto, para melhor responder à questão acima, é necessário, inicialmente, esclarecer o que significa caráter ou, ao menos, como vamos abordar esse tema nesse texto.

Para muitos, caráter tem uma conotação moral e significa o quanto uma pessoa age de acordo com bons costumes, valores ou o quanto essa pessoa se afasta de comportamentos considerados bons. Nesse sentido, o mau caráter seria aquele que rouba, é corrupto, engana, etc.

Uma outra aproximação, que será a que utilizaremos, entende o caráter como modo de ser, como uma forma de vida que se constrói ao longo da existência.

Nesse sentido, o caráter não é estático ou herdado, mas sim uma realidade que, ao longo da vida, vai se formando de acordo com uma série de influências e decisões que tomamos. De certa maneira, nós temos uma liberdade na construção de nosso caráter, ou seja, ele é fruto de nossas decisões. Sendo assim, podemos dizer que nós somos responsáveis pela nossa construção, por aquilo que nos tornamos.

Aqui podemos inserir o tema da traição e, com isso, pontuar que a traição não ocorre somente quando um homem ou mulher estabelecem um relacionamento amoroso com outra pessoa, enquanto em um relacionamento estável com alguém. A traição tem seu início na medida em que eu permito que pouco a pouco algo ou alguém vá tomando na minha vida o lugar daquele com quem resolvi estabelecer um vínculo amoroso.

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Você pode perceber, portanto, que a traição
é construída e, muitas vezes, não inicia somente quando uma pessoa começa a pensar em outra, apesar de estar casado(a) ou em uma relação estável (namoro ou noivado). Ela começa quando não se reserva um espaço para o outro em sua vida, desde os aspectos externos (tempo de convivência, diálogo, momentos de intimidade) até internos (Quanto tempo você reserva para pensar na pessoa com quem se relaciona? Quanto você a contempla, a observa?).

Em um mundo marcado pela hiperestimulação, é fácil se distanciar do outro, perdê-lo em uma enxurrada de informações e, no fim, esquecer que, para amar, precisamos nos voltar para quem amamos, precisamos de entregar nosso tempo e nossa vida.

Sendo assim, podemos dizer que a traição não é um problema de caráter no sentido de bom ou mau caráter, mas sim um problema que nasce da forma como vamos nos construindo ao longo de nossa vida, ao longo de nossa relação, ao ponto em que perdemos o outro, já não sendo ele um "tu", mas somente "algo".

José Augusto Rento Cardoso
Psicólogo - CRP 05/42118

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