Por Pe. Márcio Fabri dos Anjos, C.Ss.R. Em Campanha dos Devotos Atualizada em 18 SET 2018 - 15H38

A corrupção é parceira da desigualdade

Hoje, os sinais da corrupção aparecem escancarados à nossa frente e não conseguimos sequer um jeito eficiente de a enquadrar. Por que será que é tão difícil?

O que a gente talvez não imaginava era o problema que seria segurar seu crescimento e conter seus desmandos. Hoje, os sinais da corrupção aparecem escancarados à nossa frente e não conseguimos sequer um jeito eficiente de a enquadrar. Por que será que é tão difícil?

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É que a raiz da corrupção é profunda e contém muitas ramificações escondidas. A principal delas é a desigualdade entre as pessoas. A desigualdade é uma grande corrupção que passa despercebida. Corrompe o princípio fundamental sobre a necessidade que temos da ajuda mútua, em nossas limitações e diferenças, pois nossas fragilidades são transformadas em chance de lucro naquilo em que se acham mais fortes. Com isso, corrompemos os sistemas da confiança em nossos relacionamentos, corrompemos nossas esperanças e podemos esquecer a tranquilidade e a paz na vida.

A corrupção se instala na sociedade, de tal modo que o sistema corrupto em que vivemos nos parece normal. Transformamos a desigualdade em leis que nos regem. Assim, é fácil entender por que alguém recebe 5 mil reais como simples auxílio-moradia, achando que é ético porque é legal, porque está de acordo com a lei. Mas a ética passa longe. Outros recebem 3 vezes menos do que isso, tendo de trabalhar um mês inteiro. A desigualdade dá ao corrupto poderoso inteligentes advogados, que sabem como livrá-lo da prisão, enquanto as prisões estão cheias de gente que passa anos esperando pela primeira avaliação de sua acusação, por questões bem menores.

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Isso significa que a desigualdade se organiza para defender sistemas de corrupção que se instalam na sociedade e se legalizam. Na hora de fazer o processo de contenção e reversão dos sistemas corruptos, as pessoas que decidem as mudanças são, em grande parte, as mesmas que vivem de privilégios e estão interessadas na continuidade dos sistemas. De outro lado, se corrompe a cabeça e o coração de todos nós. Assim, um esportista pode ganhar, em um ano, o que a gente não ganha em dez vidas de trabalho; mas, assim mesmo, torcemos numa boa, achando que tudo isso é normal.

A conclusão não é, de forma alguma, detestar políticos, juristas, esportistas e tantas formas de serviços. Todos são necessários ao nosso bem viver. Mas precisamos ao menos sonhar com relações mais igualitárias e recíprocas. Li há pouco que, na Noruega, um juiz do Supremo vai para o trabalho de bicicleta. Essa não é uma proposta para o Brasil. Mas é para dizer que a corrupção é parceira da desigualdade. E, principalmente, para dizer que a superação de nossas desigualdades é um sonho possível. Um sonho de Deus para nós.

Artigo publicado na Revista de Aparecida edição nº194 (maio/2018)

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