Crescendo na Fé

“Deus me perdoou, mas eu não consigo me perdoar”

João Antonio Johas Leão (Arquivo pessoal)

Escrito por João Antônio Johas Leão

16 SET 2016 - 13H59 (Atualizada em 06 ABR 2021 - 09H24)

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Muitas vezes, pode parecer difícil acreditar na grande misericórdia de Deus. Por um lado, percebemos a nossa grande miséria, nossas fragilidades e nossos pecados. Por outro, está a experiência de que Deus continua apostando em nós, na nossa conversão, fazendo de tudo para que entremos em nós mesmos e voltemos correndo ao abraço do Pai, como na parábola do filho pródigo.

E se chegamos a aceitar que Deus é realmente tão bom, ainda assim pode resistir em nós a sensação de que somos tão pecadores a ponto de não merecer tanta misericórdia. Em outras palavras, até aceitamos que Deus nos perdoa, mas nós mesmos temos dificuldade de nos perdoar realmente.

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Precisamos levar a sério essa experiência, porque ela pode esconder algo prejudicial para nossa saúde espiritual, algo inclusive que pode, em última análise, afastar-nos do amor de Deus. Esse algo é uma espécie de soberba da nossa parte. Não é aquele orgulho ou prepotência com a qual estamos acostumados, daquele que se afirma em suas ideias ou de quem se coloca por cima dos outros, achando-se melhor que todos. É uma soberba mais sutil, mas que, se olharmos com cuidado, perceberemos que ela realmente tem muito em comum com esse tipo, digamos, mais “comum”.

A reconhecemos da seguinte maneira: Quando falamos que embora Deus nos perdoe, nós não somos capazes de nos perdoar, estamos, no fundo, falando que o nosso pecado é mais forte que o amor de Deus. Tiramos do Senhor a Sua onipotência e nos colocamos como mais fortes que Ele mesmo. E isso simplesmente não é verdade.

Leia MaisPenitência X Misericórdia: o que Deus prefere?Para rezar: o Salmo da MisericórdiaPor mais que possamos optar pelo mal e causar danos reais, nunca chegaremos à altura do poder do amor misericordioso do Senhor. Por isso podemos, e de certa maneira devemos, aceitar que, por pior que seja o mal cometido, maior ainda é o perdão de Deus. São Paulo disse que "onde abundou o pecado, sobreabundou a Graça". Do pior dos males, Deus pode tirar o melhor dos bens.

Frágeis como somos, desde o pecado original, tendemos a desconfiar de Deus. Não só de Sua bondade, da Sua onipotência ou de Sua existência, mas também da Sua misericórdia. E quando duvidamos da misericórdia, de Sua capacidade de perdoar, o único caminho é o desespero. Tirando Deus do centro da realidade e colocando-nos em seu lugar, perceberemos que não temos a força necessária para perdoar tantas atrocidades que cometem os homens e que cometemos cada um de nós em particular.

É uma experiência difícil essa de não conseguir se perdoar, porque ela mistura essa soberba sutil com algo de verdadeiro.

A parcela de verdade é que nós realmente somos incapazes de perdoar nossos pecados. Lembremos daquela passagem que Jesus questiona os fariseus ao perdoar pecados: “Quem é este homem que blasfema contra Deus desta maneira? Ninguém pode perdoar pecados; só Deus tem esse poder” (Lc 5, 21). Mas isso não pode desesperar-nos, justamente porque Deus saiu ao nosso encontro para perdoar todos os verdadeiros pecados que cometemos.

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São João Maria Vianney, sacerdote francês, passava horas e horas no confessionário, levando essa misericórdia infinita de Deus aos fiéis, e falava: "O Bom Deus sabe tudo. Ainda antes que vos confesseis, já sabe que voltareis a pecar e, contudo, perdoa-vos. Como é grande o Amor do nosso Deus, que chega a esquecer voluntariamente o futuro, para nos perdoar". Precisamos renovar sempre a nossa esperança e a nossa confiança nesse amor perseverante de Deus. Se essa confiança começa a fraquejar, todo o resto do edifício da vida cristã não tardará em cair também.

Quando estamos com dificuldade de nos perdoar, perguntemo-nos justamente por essa confiança em Deus, em Sua misericórdia infinita. A saída parece ser deixar de olhar para as nossas fragilidades e fraquezas, porque nelas não encontraremos forças para o perdão, e voltar o olhar ao Senhor, pedir que Ele mesmo renove em nós a certeza do poder de Sua misericórdia.

Não corramos o risco de colocar-nos acima de Deus, de confiar mais no poder dos nossos pecados que no poder do Amor de Deus!

Escrito por
João Antonio Johas Leão (Arquivo pessoal)
João Antônio Johas Leão

Licenciado em filosofia, mestre em direito e pedagogo em formação. Pós-graduado em antropologia cristã e entusiasta de pensar em que significa ser cristão hoje.

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