Na longa tradição da Igreja, muitos monges moldaram a humanidade, em diversas áreas do conhecimento humano. Seja na agricultura, ciência, cultura, educação, música, artes, no campo teológico e filosófico, a vida monástica deixou marcas na evolução da civilização.
Também os hábitos alimentares foram grandemente influenciados pelos monges. Na vivência da oração e do trabalho diário, muitas cozinhas monásticas criaram receitas e bebidas. Um bom exemplo é do monge beneditino Dom Pérignon, que contribuiu para o desenvolvimento de uma bebida que rompeu séculos e agrada a muitos: o champanhe.

O monge beneditino Dom João Baptista Barbosa Neto, do Mosteiro de São Bento, em São Paulo, em parceria com Sandra Marina Witkowski, oblata secular, escreveram o livro "Cozinhe com os Monges" com receitas do Mosteiro de São Bento. A publicação que traz receitas tradicionais dos monges, são simples e práticas, e podem ser feitas por qualquer pessoa.
O mosteiro São Bento mantém ainda a Padaria do Mosteiro, que já tem mais de 20 anos de história e vende bolos, pães, biscoitos, doces, chocolates e dois rótulos de cerveja.
O A12 entrevistou Dom João Baptista, que além de contar alguns detalhes da publicação, divulga uma das receitas do livro de forma exclusiva! Confira!
A12 - A oração na vida de um monge é constante. Na hora de cozinhar ela também entra?
Dom João Baptista - Sim! A vida do monge deve ser entendida como uma constante oração. Embora seu dia a dia seja dividido entre momentos de oração e trabalho (ora et labora), ele pode exercer suas atividades também rezando. Aliás, nosso trabalho deve ser entendido também como um momento de louvor a Deus. Portanto, oração de ação de Graças.
A12 - Na longa tradição dos mosteiros, muitos monges criaram receitas e bebidas que mudaram a humanidade. Algum fato dessa trajetória te inspira?
Dom João Baptista - Na verdade, os monges tiveram um desempenho magistral nas várias áreas do conhecimento humano. O trabalho na cozinha é algo mais prático, que visa alimentar ao outro. Quem cozinha, geralmente não cozinha apenas para si, mas para o outro também.
No mosteiro, onde vive um grupo de pessoas, todos os trabalhos são exercidos em vista do bem da comunidade. Preocupar-se com o irmão é extremamente importante. Saber o que ele gosta, no caso da comida, também deve ser entendido como uma acolhida, desejar o seu bem.
Também na recepção dos hóspedes que vêm ao mosteiro, há o preceito da caridade cristã. O próprio São Bento escreve na regra que todo aquele que chega ao mosteiro seja acolhido como se fosse o próprio Cristo. Tudo isto, com toda a certeza, transformou a humanidade. Comer bem é acolhida.
A12 - No livro de receitas do Mosteiro de São Bento, elas marcam também os hábitos dos próprios monges?
Dom João Baptista - É verdade. O livro não contém apenas receitas. É também um livro de história da comida. Tentamos elaborar um fio condutor histórico da comida monástica. Assim, o leitor poderá entender a causa do sucesso monástico ao longo de mais de 1500 anos, através das refeições dos monges.
Começamos dos mosteiros em geral, dando grande ênfase na Idade Média e nos preceitos beneditinos, desde a Regra de São Bento, assim como a outros documentos; afunilamos o assunto abordando especificamente na história da comida no Brasil e, por fim, aprofundamos a história da comida em São Paulo, uma vez que o objetivo é informar o leitor sobre os costumes monásticos e alimentares do Mosteiro de São Bento de São Paulo.
O livro traz ainda orações para antes e após as refeições do almoço e jantar para toda uma semana, podendo as pessoas utilizá-las para agradecer a Deus pelo alimento diário. Entre estas orações, há sugestões de cardápio para quem desejar fazer em casa.
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A12 - Cozinhar é uma forma de amar os outros? Você pode dar uma dica ou curiosidade que você traz no livro?
Dom João Baptista - Sim, cozinhar e desejar que o outro viva. Alimentar não é apenas para sustentar o corpo. Não é comer por comer. Aqui também entra o prazer. Alimentar-se bem, buscando uma alimentação saudável e de qualidade é importante. Mas a comida tem que ter sabor. Abordamos tudo isto no livro.
Queremos lembrar que Deus é doce e que a vida, muitas vezes repleta de amarguras, pode ser transformada por esta doçura. Há quase que uma idolatria da sofisticação do alimento, dando grande importância a pratos extremamente técnicos e chefes de cozinhas renomados. Há até programas de televisão com competições sobre o tema. Muitas vezes, no entanto, tais pratos são frios, sem emoção, sem o tempero principal, que é o amor.
Devemos lembrar que um prato simples, mas com o tempero do amor, pode ser mais saboroso que alguns em restaurantes caros e grã-finos. Devemos deixar que Deus transite entre nossas panelas. Devemos deixar que ele tempere nossa comida. Tenho certeza que tudo será mais gostoso.
“Queremos lembrar que Deus é doce e que a vida, muitas vezes repleta de amarguras, pode ser transformada por esta doçura. ” Dom João Baptista
Também falamos sobre os exageros alimentares, a gula. Este é um assunto complexo. O comer em excesso pode até não ser gula, mas estar ligado a ansiedade e outros desvios psicológicos como uma forma de compensação. Lembramos também que, de vez em quando, comer uma fatia daquela iguaria maravilhosa, desde que seja apenas mais um pedaço, não é pecado. Pois se desejamos comer apenas mais um pouco, é porque aquele primeiro pedaço estava mesmo divino.
O livro traz muitas curiosidades, como a importância de alimentar-se em silêncio, como fazemos no mosteiro. Toda a comunidade monástica já acomodada à mesa, alimenta-se não apenas dos pratos ali servidos. Está presente no ambiente um monge que faz uma leitura edificante, a fim de que os monges possam alimentar também a sua alma.
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