Num artigo anterior, tivemos oportunidade de falar sobre o Sacro Império Romano, que foi constituído a partir da coroação de Carlos Magno, rei dos francos, no Natal do ano 800. A partir daí, graças à Lei das Duas Espadas, constitui-se a união Igreja-Império que levou à formação da Cristandade Medieval.
Os sucessores de Carlos Magno não tinham as suas habilidades e nem suas qualidades e, com isso, o Império Carolíngio acabou se desintegrando, possibilitando a formação de novos reinos na Europa Ocidental. É por isso que uma das características do Sistema Feudal é a descentralização.
Renasce a aliança da Igreja com o Império
Entre os novos reinos destaca-se a dominação exercida pelos duques germânicos sobre a região da antiga França Oriental. Através do voto dos principais duques da região (Francônia, Saxônia, Suábia e Baviera), era escolhido o rei que obteria controle sobre o Reino Germânico. O primeiro rei escolhido foi Henrique I da Saxônia, eleito em 936.
Essa descentralização explica em parte a criação de tantos países modernos, alguns minúsculos, na Europa e também o fato de a Alemanha e Itália terem se formado como nação moderna apenas no final do século XIX.
No processo de sucessão, chegou a vez de Oton I ascender ao poder, com sua aproximação em relação à Igreja. No ano de 962, o papa João XII coroou Oton I como Imperador do Sacro-Império Germânico, que se consolidou até o início do século XIX. Esse novo império, com a dinastia de reis de origem germânica em lugar da dinastia dos carolíngios, fortificou a influência da Igreja sobre o Império.
Em contrapartida, o imperador adquiriu o poder de indicar os ocupantes dos mais altos cargos eclesiásticos. Oton criou diversos bispados e abadias, concedendo cargos religiosos aos nobres que o apoiasse.
Na parte final do século X, o processo de descentralização política promovido pela feudalização das terras levou a fortes disputas políticas entre o imperador, os senhores feudais e o clero. No século XI, essas disputas ficaram polarizadas entre os que reconheciam a autoridade real e os nobres submetidos à influência do papa.
A situação conflituosa chegou ao seu ápice quando as tropas do papa Gregório VII e do imperador Henrique IV guerrearam entre os anos de 1073 e 1085.
Aliança de poderes gera dificuldades para a Igreja
Gregório VII, pertencia à Ordem de Cluny, ascendeu ao pontificado com espírito reformista, iniciando uma luta para livrar a Igreja das tramas políticas que colocavam os bispos sob a influência política do imperador.
Entre outras medidas saneadoras, proibiu a concessão de postos clericais que se dava pela investidura dada pela autoridade real do Sacro-Império. Pessoas que ocupavam os cargos eclesiásticos eram mais leais à autoridade real que ao papa, sem falar de outros problemas relacionados ao não cumprimento do voto de celibato.
Contrário às decisões do papa, Henrique IV acabou sendo excomungado, no célebre episódio do “Inverno de Canossa”. Ameaçado pelas tropas da Igreja, pediu que o papa revogasse sua decisão. Tempos depois, organizou exércitos contra o papa, que se viu obrigado a fugir de Roma.
A forte disputa entre o papa, que podia desobrigar a obediência dos súditos, aos reis e príncipes que não fossem submissos a ele, provocou a conhecida “Questão das Investiduras” solucionada no pontificado do Papa Gregório VII, entre 1075 e 1122, porque o imperador extrapolou as suas funções interferindo em outras questões internas da Igreja.
Razões da aliança entre Igreja e Império
No período medieval, a Igreja estava em constante perigo em relação às famílias da aristocracia romana que teimavam em interferir no pontificado, colocando seus membros nos principais cargos eclesiásticos. Por causa desse perigo, os Estados Pontifícios precisaram contar com ajuda externa. Isso explica a coroação de Oto I da Germânia, como "imperador dos romanos".
Desde então os Estados Pontifícios ficaram uma vez mais sob a proteção imperial. Oton I passou a ser o primeiro soberano do império, cujo território abarcava a Germânia e a Itália, onde hoje estão as modernas nações da Alemanha, Itália, Suíça, Áustria, Liechtenstein, República Tcheca, Eslovênia, Holanda, Bélgica e Luxemburgo.
Oton passou a intervir na Igreja em troca do controle dos grão-duques, que é quem realmente tinha o poder. Até mesmo o exército imperial era formado por soldados cedidos pelos ducados.
O imperador fundou dioceses e abadias, e seus titulares recebiam dele tanto o poder religioso expresso pela entrega do anel e cruz, quanto o político representado pelo báculo que simbolizava o poder temporal do bispo sobre os fiéis. Nasceu assim um processo de controle da Igreja sobre o poder do Estado ("cesaropapismo").
As consequências da intervenção política na Igreja não demoraram. Abades e bispos alemães levavam vida mundana, influenciando negativamente a monges e padres. Houve casos em que o abade leigo se mudou para dentro do mosteiro com toda a sua família e servos.
Se por um lado, o poder político da Igreja Católica se consolidou ao longo da Idade Média, por outro lado, ela pagou um alto preço. O declínio da noção de um império unificado trazido pelo fim do Império Romano, com a pulverização do poder político, fragmentado pelas relações de vassalagem, levou a Igreja a assumir um papel de realce na vida europeia, mas a levou a se distanciar do original de sua missão.
A Europa se tornou um continente integralmente cristão, com raríssimas exceções, e pela ideia de cristandade a noção era de que havia um único poder, o de Deus, que se manifestava em termos espirituais no papado que legava ao imperador o poder nos assuntos temporais.
Como o imperador não era dinástico e sim eleito pelos senhores e duques, e quando eleito representava a todos, a forma de compensar se dava pela entrega de benefícios dos quais os cargos eclesiásticos eram os mais cobiçados, gerando toda a confusão. O Sacro Império Romano-Germânico desapareceria quase um milênio depois, em 1806, com a ascensão de Napoleão Bonaparte.
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